Brisa Flow traz amor entre pessoas originárias para as telas
“Making Love”, lançamento de Brisa Flow, tem como tema principal o afeto entre origináries que, infelizmente, não está presente no audiovisual Desde o lançamento de seu álbum de estreia, “Newen”, em 2016, Brisa de la Cordillera, também conhecida como a artista mapurbe Brisa Flow, constrói sons e imagens a partir da vivência de seu corpo no mundo, criando caminhos que desprendem das amarras da colonialidade. Criada em Minas Gerais, Brisa é pesquisadora, defensora da música indígena e ativista dos direitos dos povos originários. Em suas canções, ela pauta discussões políticas como a luta pelo território, demarcação de terras, moradia, mulheres indígenas e periféricas, maternidade, mercado de trabalho e corpos marginalizados, como a comunidade LGBTQIAP+. No último dia 13, a cantora lançou “Making Luv”, single que precede seu terceiro álbum, “Janequeo“, que estará disponível ao público em junho de 2022. Em um período em que pessoas indígenas aparecem constantemente na imprensa apenas em situações de violência, Brisa traz como tema o afeto entre pessoas originárias. A artista conta que a canção surgiu quando o beatmaker e MC Tidus, natural de Las Vegas, a encontrou na internet e falou que queria produzir uma música com ela. Assim que Brisa recebeu o instrumental, já ficou “empolgada” e sentiu que queria fazer uma música e gravar um clipe com origináries protagonizando afeto já que, infelizmente, isso não está presente no audiovisual. Ela complementa: “Esse é um reflexo do colonialismo que não nos quer felizes. Ainda vivemos em Abya Yala, com o genocídio dos povos originários, que nos mata para garimpar e vender terras e destrói culturas, línguas e conhecimentos nativos. Diante dessa violência, a prática do afeto entre pessoas indígenas torna-se um ato político. Making Luv’ é sobre amor em seus mais íntimos significados, de companheirismo a coragem” Em parceria com o coletivo Mi Mawai, o audiovisual foi gravado na Mata Atlântica e ilustra o entrelaçar dos corpos pelas tranças e o movimentar dos mesmos com a Terra e as águas, como práticas de amor não coloniais. A construção da obra aconteceu de forma horizontal e coletiva e a harmonia da vivência se reflete no resultado. Brisa conta: “Eu já tinha trabalhado antes com o Mi Mawai, o coletivo é aliado dos artistas originários. Eu fiz a trilha sonora de um documentário que eles realizaram sobre o direito autoral na música indígena”. O clipe também tem a participação do artista audiovisual e beatmaker Ian Wapichana. Uma curiosidade interessante é que, apesar de “Making Luv” ser uma música sobre amor, o relacionamento entre Brisa e Ian só começou após a gravação do som. “O que muita gente não sabe é que eu e o Ian não éramos namorados nessa época. Nós nos conhecíamos como companheiros de trabalho no MECAInhotim, mas começamos a nos relacionar depois desse videoclipe”, afirma a artista. Assista ao clipe de “Making Luv” Leve como o vento Brisa de la Cordillera recebeu esse nome de seus pais, artesãos caminantes. A cantora, licenciada em Música pela Fiam Faam, pesquisa e defende a arte dos povos originários e o rap como ferramentas necessárias para combater o epistemicídio, que é o processo de invisibilização e ocultação das contribuições culturais e sociais não assimiladas pelo “saber” ocidental. Newen, seu álbum de estreia, foi lançado em 2016 e significa “força”, em Mapuzgundun (língua nativa do povo Mapuche). A obra musical esteve entre os 20 melhores discos do ano selecionados pelo jornal Estadão. Em 2017, ela foi a artista aposta da Folha de São Paulo e recebeu o prêmio “Olga Mulheres Inspiradoras”. Seu segundo disco, Selvagem Como o Vento, foi lançado em 2018 no Instituto Tomie Ohtake e destacou-se em listas de 50 melhores discos da música brasileira nos sites da Red Bull, Genius e outros canais de música. Em 2020, lançou de forma experimental o EP Free Abya Yala, um trabalho de improvisação jazzrap. O título significa “América Livre” ou “Terra Fértil Livre”, sendo Abya Yala (no idioma do povo Kuna) o nome que vem sendo utilizado por artistas indígenas para referir-se ao continente americano. As músicas foram produzidas em colaboração com um quarteto de jazz e inspiradas nas pesquisas de Brisa Flow sobre freestyle e música originária. O EP foi premiado e recebeu elogios pela crítica musical como um trabalho anti colonial experimental. FOTOGRAFIA: Jon Thomaz Reportagem produzida em parceria com a assessoria de comunicação ALETS COMUNICAÇÃO.
Terreiro de Mãe Alana é referência em clipe de Paulo Fraval
Cantor e compositor Paulo Fraval divulga o seu mais novo single-clipe, “Ilás de Oxalá”, que tem como referência o terreiro de Mãe Alana Alana de Carvalho é uma mulher trans e quilombola que chegou aos 40 anos vivendo no Brasil, o país que mais mata pessoas trans e travestis – entre os que contabilizam os dados. Mesmo vivendo em uma comunidade cotidianamente bombardeada pelas brutalidades da desigualdade social, dedica boa parte da vida a buscar melhorias e oportunidades para quem está à sua volta. Líder de um terreiro em Calabar, bairro periférico da cidade de Salvador (BA), Mãe Alana é uma referência no acolhimento de jovens LGBTQIA+ que se encontram em situação de abandono social. Para continuar este trabalho de amparo, foi lançada uma campanha de financiamento coletivo para a construção da Casa Dandara Amazí, que visa promover a dignidade e amparar pessoas em situação de extrema vulnerabilidade, oferecendo moradia, alimentação, educação, formação, afeto, acolhimento e respeito. Para marcar este lançamento, o cantor e compositor Paulo Fraval divulga o seu mais novo single-clipe, “Ilás de Oxalá”, que tem como referência o terreiro de Mãe Alana. Segundo o artista, a canção “fortalece a narrativa potente e poética de oração” e retrata “todas as potencialidades de Alana”, com quem tem uma forte amizade. Para a moradora do Calabar, “Ilás de Oxalá” é uma oportunidade de sensibilizar mais pessoas a doarem, divulgarem e ajudarem a concretizar o sonho de construção da Casa Dandara Amazí, que será um espaço de acolhimento e “preparação dos corpes trans para reentrada na sociedade”. Mãe Alana detalha: “Será a abertura da primeira casa estadual de acolhimento para nossos corpos LGBTQIA+. Esse sonho não é só meu, mas de todos nós. Será uma casa de preparação para reentrada na sociedade, oferecendo cursos de empreendedorismo social, formação educacional, pedagógica e letramento”. Paralelo entre candomblé e resistência LGBTQIA+ Como muitos artistas independentes, Paulo Fraval, que é natural do Ceará, sofreu com a falta de políticas públicas e apoio financeiro para gravar suas músicas, sobretudo por ser um artista queer que aborda narrativas de resistência e afetividades LGBTQIA+ periféricas embebidas por uma estética candomblecista. Segundo ele, foram dois anos idealizando essas imagens, sonhando, buscando, juntando dinheiro e planejando. “A execução deste trabalho aconteceu depois de uma longa travessia, mas Oxalá bateu o pé e nós conseguimos! Em um momento onde as pessoas sentem-se bastante confortáveis para expressar seus ódios e fobias, nós as convidamos para encontrar conforto no amor e no acolhimento”, pontua. O artista ressalta, ainda, que “Ilás de Oxalá” foi escrita por Almerson Cerqueira Passos, poeta baiano, gay, preto, do subúrbio, intelectual e grande estudioso do candomblé. Paralelo entre a religião e a resistência LGBTQIA+, a música tem forte presença da figura do Ilá que, para Fraval, é muito mais do que a voz e o modo de se identificar do Orixá quando está entre nós. “É a própria natureza falando, gritando, nos lembrando do que é Orixá: o espírito da natureza. Seguindo esta narrativa, Almerson traça um paralelo entre os nossos próprios gritos de residências que, assim como os orixás, também são diversos”, explica. Assista ao clipe de “Ilás de Oxalá”: IMAGENS: Divulgação
“Bença”: Mulamba retorna com nova música, afeto e Luedji Luna
Música “Bença” abre portas para novo momento da Mulamba, que quer mostrar que cuidar do corpo e da mente também faz parte da luta Mudança de ares. Leveza. Brincar de esperança. Sob uma nova toada, a banda Mulamba lança, com participação especial da cantora baiana Luedji Luna, o novo single “Bença”. Diferente das músicas focadas em violência contra a mulher e combate ao machismo, o grupo, formado há sete anos por Amanda Pacífico, Cacau de Sá, Érica Silva, Fer Koppe, Naíra Debértolis e Caro Pisco, quer abrir portas para um novo momento da banda. Elas explicam: “Bença abre portas para esse novo momento da Mulamba. O grito dá lugar às sutilezas, ao olhar pra dentro. Continuamos falando de nossas inquietações, mas também da importância do respiro, do afeto e do intangível” Segundo Amanda, que é compositora e intérprete da canção, a letra foi escrita há anos e estava guardada na gaveta, esperando pelo disco de inéditas do grupo, que será lançado pela PWR Records. A música fala, de forma sensível, de uma realidade triste e comum nas ruas brasileiras: as crianças que precisam trabalhar no farol para complementar o sustento em casa. “O olhar de um menino vendendo bala no sinal, sozinho com sua irmã, sem a proteção de sua mãe por perto, me paralisou e veio toda essa canção. Seu semblante estampava a esperança e ao mesmo tempo a dura realidade da infância perdida em meio aos carros, na luta contra a fome”, diz Amanda. Ela conta, ainda, que o feat com Luedji Luna era um “desejo antigo”, devido à admiração que a Mulamba tem pela baiana e por tudo que ela representa. “Ter ela (Luedji) em ‘Bença’ foi um presente, trouxe a força que a música merece e transformou a bença em uma oração”, afirma. Assista ao clipe de “Bença”, nova música da Mulamba Mulamba quer trazer músicas de amor e afetividade Com produção musical de Érica Silva e Leo Gumiero, “Bença” desfruta de uma suave percussão em seu arranjo, que combinada a um violão de levada pop, transforma a faixa numa canção de ares delicados. Ao lado de Luedji Luna, a banda transforma a música em um abraço sonoro, oferecendo também ao público uma nova estética melódica do grupo. Tudo isso, por si só, imprime uma novidade na identidade musical da Mulamba, que anos atrás ficou conhecida por suas canções mais densas e enérgicas, graças ao impacto causado pelo elogiado debut Mulamba (2018). Érica Silva, produtora musical e integrante da banda, explica: “Queremos mostrar uma outra Mulamba. Além das palavras manifesto, sentimos a necessidade de mostrar que cuidar do corpo e da mente também faz parte da luta. Queremos contar histórias, falar de amor, de afetividade e também de perdas. As músicas desse álbum descrevem os novos ares repletos de swing, brasilidade, textura, letras e melodias intensas” FOTOGRAFIA: Fábio Setti & Tamara dos Santos
A ausência gritante de protagonistas gordas no cinema
Confira seleção de filmes com pessoas gordas protagonistas, que vivem suas jornadas sem que seus corpos sejam a grande questão da história.
Baile da DJ $ophia: feito por uma mina e para a quebrada
Organizado pela jovem de 21 anos Sophia Lima, o Baile da DJ $ophia, foca nas mulheres e na periferia e chega a sua segunda edição Um rolê acessível e feito para todes: essa é a proposta do Baile da DJ $ophia, que chegou a sua segunda edição na última sexta-feira (15) na cidade de São Paulo. A festa, que já recebeu nomes como MC Luanna, Tasha&Tracie e Souto MC, leva o nome da jovem de 21 anos Sophia Lima, que vem estourando na arte dos toca-discos no Brasil. Talento precoce, Sophia teve seu primeiro contato com o hip hop dentro da própria família, por meio do irmão, tia e tio, que escutavam rap. O interesse, porém, despertou realmente quando viu o show da cantora Flora Matos, em 2013. Foi aí que Sophia começou a frequentar shows em casas de cultura, que a instigaram a querer fazer parte do movimento do hip hop. “Entendi a importância de estar ali pelos nossos. O rap salva vidas”, diz em entrevista à Emerge Mag. Nos seis anos de trajetória na música, Sophia conquistou parcerias e realizações, e tocou ao lado de grandes artistas, como Jazzy Jeff no canal “Boiler Room”, o maior canal de DJs do mundo, de origem inglesa. Além das apresentações solo, Sophia é beatmaker e DJ de Karol Conká, Mc Soffia e Souto MC, e já apresentou seus sets autorais em grandes festivais de rap do Brasil, como Cena e Rep Festival. Em 2020, foi a única DJ do palco principal do Festival Cena 202K. Em fevereiro, a jovem organizou pela primeira vez um festival sozinha, e firmou ainda mais o seu nome na cena da discotecagem. Sucesso desde a primeira edição, o Baile da DJ $ophia foi a realização de um sonho da artista: uma cena feita por uma mina para a quebrada. Ela conta: “O Baile da DJ $ophia chega para quebrar barreiras por ser um evento de uma mina preta nova da cena do hip hop, e que ao mesmo tempo está no rap, mas se conectando à galera do trap funk. A nossa meta é que ele aconteça mensalmente, sempre trazendo atrações com as quais eu me identifico, assim como atrações do rap e do funk, que também geram identificação do público” Rolê acessível para a quebrada Uma crítica que vem ganhando força sobre os eventos de rap e funk no Brasil é, justamente, a falta de acessibilidade para a quebrada – seja em relação ao local ou ao preço. Enquanto artistas cantam letras cheias de denúncias sobre a realidade nas comunidades e os problemas sociais vividos pelo povo periférico e preto, no público há majoritariamente pessoas brancas e de classes sociais elevadas. Atualmente moradora do centro de São Paulo, Sophia passou boa parte da vida no Capão Redondo, onde morava com a avó. A trajetória forjou o entendimento sobre a necessidade de fazer um rolê de fácil acesso ao público geral, e não apenas para as pessoas que moram na região central da cidade. Além de aproximar o baile da periferia, a artista também fomenta a presença das “minas e as monas” para fortalecer a cena independente. Ela diz: “Quero sempre trazer novas MCs e DJs, artistas já consagrados e, principalmente, fortalecer a cena independente. Trazer os caras, as minas e as monas também. O rolê será feito por todes” Com mulheres na linha de frente, ela espera que a festa também amplie as vozes femininas dentro do rap e hip hop, muitas vezes ofuscadas pelo machismo enraizado na cultura brasileira. De acordo com edição 2020 do relatório Por Elas Que Fazem a Música, desenvolvido pela União Brasileira de Compositores, entre os 100 maiores arrecadadores de direitos autorais no país, apenas dez são mulheres. Em 2019, elas receberam somente 9% do total distribuído em direitos autorais. Além disso, dos mais de 33 mil associados da UBC, apenas 15% são mulheres. “Há uma inovação crescente no cenário, com mais mulheres em line ups e festivais. Porém, é uma caminhada longa. Sinto que o Baile ajuda a quebrar barreiras devido ter protagonismo feminino, com mulheres na linha de frente, o que proporcionar uma experiência fluida e natural para o público”, diz Sophia. FOTOGRAFIA: Caio Versolato Reportagem produzida em parceria com Griot, assessoria de comunicação antirracista especializada em contar histórias de artistas, eventos, projetos culturais e criadores de conteúdo para a mídia e na internet.
As estripulias musicais de Assucena
Em entrevista exclusiva, Assucena fala dos próximos trabalhos, dos desafios de se lançar na carreira solo e de sua música de estreia, “Parti do Alto” Nascida em Vitória da Conquista, na Bahia, Assucena encantou os brasileiros nos últimos seis anos de carreira. A cantora, que faz parte de uma cena em expansão de artistas LGTBQIAP+ no Brasil, começou a sua trajetória na música ainda durante a faculdade de História na Universidade de São Paulo (USP), com a banda “Preto Por Preto”, que depois se tornou “As Bahias e a Cozinha Mineira” e, por fim, “As Baías“. O trio, que também tinha Raquel Virgínia e Rafael Acerbi, lançou o seu primeiro álbum em 2015, e foi reconhecido com indicações ao Grammy Latino (2019 e 2020) e duas vitórias do Prêmio da Música Brasileira em 2018 (Melhor Grupo e Melhor Álbum). Na virada de 2021 para 2022, Assucena decidiu dar voz à sua loucura e revelar uma intimidade vocal que nunca apresentou ao público antes. Cheia de “borboletas na barriga”, a artista subiu aos palcos em dezembro com o seu primeiro projeto, o show “Rio e Também Posso Chorar”, uma homenagem aos 50 anos do disco “Fatal” de Gal Costa. Logo depois, em janeiro, lançou “Parti do Alto”, primeiro single da sua nova fase. Ela ainda apresentou o show “Minha Voz e Eu” e corre para aprontar o primeiro álbum. Vou inaugurar tudo: meu nome, minha imagem, minha equipe, minha sonoridade, meu canal, minhas derrotas e vitórias. Sabe as borboletas na barriga? Já desisti de que elas vão desaparecer. Elas já são uma fauna permanente de minha flora intestinal Em entrevista exclusiva à Emerge Mag, ela revela como tem sido esse recomeço, fala sobre a música “Parti do Alto”, que mescla cores pop com a densidade lírica de uma compositora pensante e inquieta, e comenta sobre as influências do movimento antropofágico. Confira, abaixo, a entrevista completa. Qual é o principal desafio de se lançar em uma carreira solo? A decisão veio de uma busca pelo autoconhecimento. Não é só solidão, também é solitude. Em um projeto coletivo, é necessário renunciar muito de si para que o coletivo aconteça. Cheguei em uma fase da vida em que sinto necessidade de renunciar menos, e a arte dá essa possibilidade de ser responsável pelas minhas escolhas, sem jogar nos ombros do coletivo. Os acertos são meus, mas os erros também. Qual é a principal diferença de “Parti do Alto” para os seus outros trabalhos? “Parti do Alto” é integralmente solo e essa busca é muito interessante, porque fui me reconhecendo nas escolhas. A música tem uma irreverência que eu não tinha gravado até então, e uma postura moderna, contemporânea, entre o sintetizador e a quebra para um samba melancólico. Como encontrar o equilíbrio ao explorar um tom crítico sem cair no panfletarismo? A militância exacerbada é necessária, pois tem possibilitado a quebra de muitos ismos negativos em prol de uma sociedade mais igualitária. Mas é necessário ter cuidado. Todo extremo é perigoso e não seria diferente com a arte. Não se pode abrir mão das figuras de linguagem, das metáforas. Como o movimento antropofágico te influencia? A antropofagia é própria do Brasil. Os modernistas e tropicalistas conceituaram o que é uma uma percepção histórica de um país fruto de uma colonização extremamente violenta. Nada que é do Brasil é próprio do Brasil, tudo partiu de um encontro. A gente tem que lidar com os traumas de uma nação que engole tudo que vem de fora, até porque destruímos muito do que existia dos povos originários. O rock, o jazz, o samba, o bolero, tudo vem de fora, mas também é nosso, porque tudo que engolimos vira outra coisa. “O Brasil tem um jeito diferente de engolir as coisas e regurgitar, ou cagar” O que você pode adiantar das “outras estripulias musicais” que você anda preparando em estúdio? Vem um disco por aí e também quero lançar uns singles. Tenho uma homenagem para Elis Regina que já está gravada (em 2022, faz 40 anos que a cantora morreu). Apesar de estarmos em um ano difícil, precisamos mirar no Brasil bonito, com esperança. Fazer um disco em 2022 não vai ser fácil, mas ainda sim eu vou entrar no estúdio pra trazer uma sonoridade mais otimista, ainda que melancólica. FOTOGRAFIA: Divulgação
Festival Perifericu celebra cultura LGTQIA+ de quebrada em SP
Festival Perifericu acontece do dia 9 a 13 de fevereiro de forma presencial e online com shows, mostra de curtas-metragens, slam e rodas de conversa. Edição: Carolina Fortes Entre os dias 9 e 13 de fevereiro, as favelas da Zona Sul de São Paulo serão palco do Perifericu – Festival Internacional de Cinema e Cultura da Quebrada. Com intervenções itinerantes, como apresentações musicais, mostra de curtas-metragens e slam, o evento tem como objetivo valorizar as diversas manifestações e processos artísticos da população LGBTQIAP+ periférica. Rosa Caldeira, diretor e roteirista na produtora de audiovisual comunitário Maloka Filmes, que organiza o evento, lança o panorama: “Enquanto pessoas periféricas, trans, pretas e LGBs, estamos tentando mudar a estrutura de eventos de artes no Brasil: queremos transformar desde o topo, alterando as pessoas que tomam decisões, quem trabalha no evento, quais são as corporeidades, as artes e os pensamentos valorizados ou não.” Para o cineasta Well Amorim, um dos realizadores do festival, a ideia é dar protagonismo às corpas trans e negres dentro de um universo extremamente branco, hétero, cis e elitista e, por isso, pouco seguro e receptivo. “Criar um festival é também fazer com que existam espaços seguros para celebração da nossa arte, com os nossos, gente preta, TLGB+, maloqueires. Na quebrada, que é o nosso centro”, afirma. Nay Mendl, cineasta e um dos idealizadores do evento, diz que o desafio não é só o de produzir filmes nas maiores adversidades, mas também fomentar espaços para que as obras cheguem nas pessoas de quebrada. “Queremos que elas tenham um espaço para debater e refletir sobre arte e que as outras formas de cultura de quebrada consigam existir nos espaços cinematográficos”, explica. Confira a programação do Festival Perifericu Além de acontecer de forma presencial, o evento também será transmitido online por meio da plataforma Todesplay, que irá veicular os filmes de 9 a 15 de fevereiro. Aqueles que optarem por ir até os locais devem apresentar a carteira de vacinação com as duas doses completas contra a Covid-19 e utilizar máscaras PFF2 ou N95. A programação contará com mesas de debates, sessão de curtas e uma minifesta de Ballroom. O show de encerramento ficará por conta de BadSista e das Irmãs de Pau, que também apresentarão os vencedores. SERVIÇO Festival Perifericu – Festival Internacional de Cinema e Cultura da Quebrada. Data: 9 a 13 de fevereiro Local: Associação Bloco do Beco, Espaço Reggae e Casa de Cultura M’Boi Mirim Confira a programação completa em: https://www.instagram.com/festivalperifericu/ FOTOGRAFIA: Griot Assessoria Reportagem produzida pela Griot, assessoria de comunicação antirracista especializada em contar histórias de artistas, eventos, projetos culturais e criadores de conteúdo para a mídia e na internet.
Gravidez e afeto marcam vida e música de Indy Naíse
antora Indy Naíse fala sobre o lançamento do EP visual Esse é Sobre Você e o desafio de ser uma mulher grávida no mundo da música.
O funk e a literatura do Slam do Pico
Coletivo Slam do Pico lança o projeto A Favela é o Terror dos Bico, que reúne livro de poesias e música funk.
É música de sapatão (e muito mais)
Ouça uma playlist feita pela cantora de funk Mc Mano Feu que vai de clássicos da Furacão 2000 a Cássia Eller e Bia Ferreira. Cria de Campinas, Mc Mano Feu deu play no interesse por música aos 12 anos de idade, influenciada pelos hits da Furacão 2000. Para quem não tá ligade, a produtora e gravadora carioca foi uma das principais precursoras do funk pelo Brasil nos anos 90 e lançou os hits Dança da Motinha, de MC Betty; Agora Tô Solteira, da Gaiola das Popuzadas; e Égua Pocotó, de MC Serginho e da icônica Lacraia. De família, Mano Feu herdou o gosto por samba, uma vez que o ritmo era o mais ouvido dentro de casa durante a infância. Já na adolescência, a MC conheceu o rap, que era o som que tocava alto na sua quadrada. O tempo passou e deu no que deu: Mano Feu começou a compor funk de putaria lésbica. Seu último lançamento, Linguadinha na XXT ainda tá fresco e chegou as plataformas digitais no Dia do Orgulho LGBTQIAP+. Hoje, a MC se diz ser uma pessoa bem eclética e que tem se inspirado muito em músicas e letras específicas, independentemente do gênero. “minha vida guia as minhas composições”, diz ela. “Se tenho um dia muito daora, é sobre os sentimentos e quem estava comigo que vou escrever”. APOIE O JORNALISMO INDEPENDENTE. Participe do financiamento coletivo da Emerge. Veja (e ouça) abaixo uma playlist criada por MC Mano Feu, que compartilhou suas principais inspirações, com muito talento nacional, mulheres lésbicas da velha e da nova geração e outros artistas de funk, rap, samba e MPB. LEIA TAMBÉM: Elas fazem o baile delas: mulheres lésbicas no funk