Primeiro disco não autoral do grupo pernambucano Mombojó em mais de 20 anos de carreira traz oito releituras do cancioneiro do imenso artista conterrâneo.
Da música de Alceu Valença eles queriam o gosto e o sumo. É justamente por isso que, apesar do título, você não vai encontrar o hit Morena Tropicana neste projeto do grupo Mombojó em homenagem ao imenso artista conterrâneo. Carne de Caju chega às plataformas digitais neste 26 de janeiro trazendo releituras de canções consideradas “lados b” do músico e compositor, verdadeiro monumento vivo da MPB, e um dos maiores representantes do cancioneiro nordestino. O show de lançamento será dia 04 de fevereiro, às 21h, na Praça do Arsenal, no Recife Antigo, de graça.
“Visitar o trabalho de Alceu é mergulhar nas raízes profundas de nossa herança musical. A maior parte das músicas dele que gravamos surgiu nos anos 80, época em que a maioria de nós nasceu. Eram as canções que nossos pais ouviam quando éramos crianças”, conta Felipe S, vocalista e compositor do grupo. No mesmo dia, às 16h20, estreia o clipe de Romance da Bela Inês, cantada excepcionalmente por Marcelo Machado, o guitarrista da banda. Lançada originalmente por Alceu em 1987, no LP Leque Moleque, e agora revista pelo quinteto, a história da “musa matriz de tantas músicas” é a faixa-foco que puxa o disco.
O Mombojó nasceu em 2001, e se consolidou como referência da cena criada na esteira do manguebeat, movimento que eclodiu nos anos 90, em Recife, capital de Pernambuco. Idealizado por Chico Science, seu precursor, o movimento sacudiu a estagnação cultural e artística de todo o estado (e conquistou todo o Brasil), à época, ao colocar letras de protesto em músicas que misturavam elementos da cultura pop, como o rock e o hip hop, às expressões populares e regionais como o coco e o maracatu.
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É aqui que reside a maior curiosidade deste sétimo disco de estúdio da banda, o primeiro não autoral em mais de 20 anos de carreira. Embora os grupos surgidos com o manguebeat (e os que vieram depois) sempre tenham tentado ignorar, a influência da música de Alceu Valença e de seus pares sempre foi inescapável. A prova está na redescoberta e nas regravações dessas oito canções de sua vasta obra.
Com sua pegada roqueira e novos arranjos repletos de riffs e sintetizadores, a Mombojó reenergiza e atualiza as músicas selecionadas. “Esse atravessamento sempre existiu para todos nós, mesmo sem uma conexão direta. O Mombojó é fortemente influenciado por Alceu, e sua habilidade de escrever lindas letras curtas tem sido uma fonte de inspiração para mim”, afirma o músico.
Completam o repertório Chuva de Cajus (1985), cuja letra não faz qualquer referência à deliciosa carne do fruto; Como Dois Animais (1982), em que o grupo busca desvendar todo o mistério e o segredo dessa divina canção; Olinda (1985), uma declaração de amor à mulher que leva o nome da cidade mais adorada de Pernambuco; Sino de Ouro, reluzindo e tomando de assalto a poesia multifacetada do homenageado; e Tomara, imortalizada na trilha sonora da novela Pedra Sobre Pedra, um dos grandes sucessos do horário nobre da Rede Globo.
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O trabalho conta com dois singles já lançados: Estação da Luz (1985), que chegou em novembro, já anunciando o calor do verão, e Amor que vai (1994), que veio a galope num cavalo chamado Brisa, no mês de dezembro. Além do exercício muito enriquecedor para os cinco músicos em rever e mergulhar num repertório não criado por eles, Carne de Caju abre oportunidades para a criação de um show especial para a época do carnaval, o que deixou todos eles muito animados. “Este projeto é uma forma de honrar nossas origens. Alceu representa Recife, e é como se estivéssemos cantando para a nossa cidade”, finaliza Felipe.
O Mombojó é: Felipe S. – Voz e Guitarra / Marcelo Machado – Voz e Guitarra / Chiquinho Moreira – Teclados e sintetizador / Vicente Machado – Bateria / Missionário José – Baixo, sintetizador.
MOMBOJÓ EM TRÊS MINUTOS
O Mombojó é uma banda brasileira formada em abril de 2001 no Recife, capital de Pernambuco. Após um circuito de sucesso nos palcos do Estado, em 2003 a banda ganhou incentivos culturais e gravou Nadadenovo, estreia em disco, lançado em 2004, com o qual conquistou excelentes críticas em todo o país (e relançado em vinil em 2019). Com o show, realizou uma turnê com casas lotadas nas principais praças do Brasil. O álbum ganhou o prêmio de Melhor Banda Brasileira em 2004 e, com o disco seguinte, Homem Espuma, ganhou o prêmio de Melhor Disco em 2006, ambos eleitos pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte).
Em 2010, o grupo lançou o terceiro CD, Amigo do Tempo, com o qual teve os clipes das músicas Papapa e Antimonotonia indicados a Melhor Clipe do Ano de 2010 e 2011, respectivamente, no VMB, prêmio anual da MTV. Em 2013, lançou o disco Mombojó 11º Aniversário e, no ano seguinte, Alexandrem ambos pela Som Livre/Joinha Records. Em 2017, lançou Summer Long, álbum gravado em parceria com a artista francesa Laetitia Sadier, em dobradinha da Som Livre no Brasil com o selo europeu Elefant Records.
Já em 2020 a banda lançou o álbum de músicas inéditas intitulado Trilha Sonora Original do Filme Deságua reunindo 12 singles lançados ao longo dos últimos 12 meses nas plataformas digitais. Em 1º de maio de 2021, junto da Quixó Produções, o Mombojó lançou o longa-metragem Deságua, que reúne material inédito a clipes da banda divulgados apenas pelas redes sociais, exibido no canal por assinatura Music Box Brasil. Ao longo desses anos, a banda já se apresentou pelos maiores festivais do país, incluindo o Lollapalooza, Abril Pro Rock, Rec Beat, Coquetel Molotov, Brasil no Ar (Barcelona), Grito Rock, Mada, Do Sol, Planeta Terra, Porão do Rock, Teresina Rock, SWU e TIM Festival, apenas para citar alguns.
FOTOS: Laura Proto
Serviço:
Mombojó – Show de lançamento do disco “Carne de Caju”
Dia 04 de fevereiro, às 21h
Praça do Arsenal, Recife Antigo, Pernambuco.
Grátis.
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