Qual imagem você faz dos povos indígenas? Seria aquela de 1500, de um índio em uma oca, com cocar de penas e pinturas corporais? Caso sim, você não é o único. Mas aqui vai um segredo: nem todos os indígenas têm olhos puxados, cabelos lisos ou vivem na floresta em aldeias. Existem indígenas de todos os tons de pele, em vários espaços urbanos e em diversos contextos sociais.
Boa parte dessa visão errônea começou a ser construída a partir da promulgação em 1943 do Dia do Índio, em 19 de abril, durante o governo de Getúlio Vargas. A data foi escolhida para comemorar o 1º Congresso Indigenista Interamericano, que ocorreu nesse mesmo dia, em 1940. Desde então, passou a ser celebrada só que de forma caricata e folclórica, descaracterizando a relevância da luta indígena por meio da apropriação e banalização de elementos culturais ancestrais.
“Quando a gente comemora o dia do índio, estamos comemorando uma ficção”, comenta o escritor e professor indígena Daniel Munduruku, ao relembrar a prática cultivada em escolas de fantasiar crianças de indígenas na data.
Para o artista indígena Denilson Baniwa a data deveria destacar a diversidade dos povos, o sentimento de resistência e a luta por direitos. Ele diz que é importante saber que os indígenas são diferentes no Sul, no Nordeste, no Norte, no Sudeste e no Centro-Oeste.
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Por isso, Joenia Wapichana, atual líder da Funai e primeira indígena eleita deputada federal no Brasil foi autora do Projeto de Lei 5466/19, que culminou na aprovação da Lei 14.402/22, a partir da qual o 19 de abril passou a ser denominado como Dia dos Povos Indígenas, numa referência clara à diversidade e a posição dos indígenas na sociedade nos diversos espaços sociais, da Universidade às plataformas digitais.
A Emerge Mag apresenta a seguir uma curadoria com influenciadores indígenas que possuem forte atuação e presença nas redes sociais – ampliando as ideias, multiplicando os debates, fortalecendo diálogos e trazendo novas perspectivas de mundo. Juntos, eles somam mais de 1 milhão de seguidores.
Conheça, conecte-se, apoie e celebre a vida dos povos que originaram a nossa nação, com um olhar com mais generosidade, respeito e livre de preconceitos.
Geni Núñez | @genipapos
A psicóloga Guarani é uma influencer que advoga pela descolonização dos pensamentos em todas as esferas humanas. Ativista, escritora e psicóloga, Geni também é mestre em Psicologia Social e doutora em estudos de gênero e raça no Programa de Pós Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas (UFSC).
A partir de uma perspectiva histórica, a ativista explica em suas redes de maneira didática a origem colonial e ocidental das relações desiguais de gênero, abordando a monogamia como uma decisão sobre liberdade e não apenas sobre quantidade de parceiros. Ela diz que a monocultura só se faz na negação da diversidade, já a floresta precisa ser múltipla e concomitante.
Tukumã Pataxó | @tukuma_pataxo
É diretor de comunicação da Associação de Jovens Indígenas Pataxó (AJIP) e colabora com a Mídia Indígena, coletivo de comunicadores indígenas com forte atuação nas plataformas digitais. Além disso, é chefe de cozinha e apresenta junto com Célia Xakriabá, deputada federal eleita por Minas Gerais, o podcast “Papo de Parente”, um original Globoplay, no qual o comunicador apresenta a cultura e saberes originários por meio da culinária indígena com muita descontração e humor.
Nascido na aldeia Pataxó, na Bahia, esse comunicador acredita que a internet é uma ferramenta de luta tão relevante quanto o arco e flecha. Para ele, ocupar lugares de voz no mundo digital é fundamental pois as pessoas não indígenas não estão acostumadas a verem os indígenas nos mesmos espaços e utilizando a mesma tecnologia. Ele diz que sua luta vem dos ancestrais e que precisa dar continuidade.
Alice Pataxó | @alice_pataxo
A ativista é uma das vozes mais influentes dos direitos indígenas na internet. Alice foi uma das três brasileiras (junto com Erika Hilton e Simone Tebet) a figurar na lista das 100 mulheres mais influentes e inspiradoras de 2022 da BBC, que contou com nomes como Malala Yousafzai e Billie Eilish. Para ela, a rede digital “traz a possibilidade de entender a luta do outro e as diferentes reivindicações” das diferentes comunidades e povos.
Alice foi indicada para a lista da BBC diretamente pela prêmio Nobel da Paz Malala Yousafzai, por seu compromisso inabalável na pauta das mudanças climáticas, equidade de gênero e direitos indígenas. Segundo Malala, ela lhe “dá esperança de que um mundo mais igualitário está ao nosso alcance”. Alice conta que sua mãe contava que os seus antepassados usavam borduna [arma indígena] para serem ouvidos. Hoje, ela se adaptou sem esquecer quem é – e a sua arma é o celular.
Txai Suruí | @txaisurui
Única brasileira a discursar na Conferência da Cúpula do Clima (COP26) em 2021, Txai é do povo Suruí de Rondônia, filha de Almir Suruí, uma das lideranças indígenas mais conhecidas por lutar contra o desmatamento na Amazônia.
Com mais de 112 mil seguidores, Txai foi a primeira indígena do povo Suruí a cursar direito na Universidade Federal de Rondônia. É fundadora do Movimento da Juventude Indígena de Rondônia e atua na parte jurídica da Associação de Defesa Etnoambiental (Kanindé), entidade que defende a causa indígena em Rondônia.
A jovem liderança indígena já ganhou prêmios e reconhecimentos no Brasil e no exterior, e lançou no final de 2022 o documentário O Território, do qual é produtora, no Central Park, em Nova York, que registra o desmatamento e invasões de terras por grileiros e garimpeiros ilegais.
Samela Sateré-Mawé | @sam_sateremawe
Uma das porta-vozes do povo Sateré-Mawé, a influenciadora e apresentadora do canal Reload e ativista ambiental, representa o braço do movimento “Fridays for Future”, criado pela ativista ambiental sueca Greta Thumberg. Com mais de 99 mil seguidores, Samela compartilha conteúdos sobre os saberes ancestrais, a política indigenista e o ativismo climático de forma inovadora e criativa.
Para a influenciadora, as plataformas digitais são espaços de luta e resistência: “Somos guerreiros digitais. Não escolhemos ser ativistas, a gente nasce e todas essas causas (ambiental, social e de direitos humanos) se entrelaçam no nosso dia a dia”, comenta.
Cristian Wariu | @cristianwariu
Guerreiro Digital, como foi apelidado pelas lideranças indígenas , o influenciador que possui mais de 72 mil seguidores se destaca por utilizar a inovação e a tecnologia para desmistificar preconceitos e estereótipos acerca dos povos indígenas.
Estudante de comunicação, Cristian, que é da etnia Xavante, ao comentar sobre o Dia dos Povos Indígenas, destaca que é uma oportunidade de trazer à tona a pauta de luta dos povos como um todo. Para ele, o dia ficou pequeno para representar os indígenas.
Lídia Guajajara | @lidiaguajajara
Midiativista do povo Guajajara é faz parte do coletivo Mídia Indígena e da ANMIGA (Articulação de Mulheres Indígenas). Nascida no território indígena Arariboia do sul do Maranhão, Lídia começou a advogar pela causa indígena em 2015, quando fez um vídeo denunciando o massacre do povo Gamela. Atualmente a jovem ativista conta com mais de 58 mil seguidores.
Lídia é uma das precursoras da Mídia Indígena, que ganhou força no Acampamento Terra Livre (ATL). Ela argumenta que, até então, uma mulher assumindo esse papel era algo novo, pois a insurgência de vozes femininas era novidade. Ainda hoje, as mulheres ainda são minoria na comunicação.
Trudruá Dorrico | @trudruadorrico
Pertence ao povo Macuxi, é poeta, escritora, palestrante, pesquisadora de literatura indígena e Doutora em Teoria da Literatura pela PUC-RS. Mestre em Estudos Literários e licenciada em Letras Português pela Universidade Federal de Rondônia, a jovem influenciadora ficou em 1º lugar no concurso Tamoios de Novos Escritores Indígenas em 2019 e é colunista do Ecoa do Portal UOL.
Administradora do perfil @leiamulheresindigenas e do canal Literatura Indígena Contemporânea no YouTube. Curadora da I Mostra de Literatura Indígena no Museu do Índio (UFU), Trudruá integra a coordenação do Grupo de Estudo em Memória e Teoria Indígena (GEMTI), é membro da Academia Internacional de Literatura Brasileira, ocupando a cadeira 266 e autora da obra Eu sou macuxi e outras histórias. “A estética da terra é coletiva e individual, pois possibilita a criação a partir desse cânone indígena”, diz ela.
Priscila Tapajowara | @priscilatapajowara
Priscila faz parte do coletivo de comunicação Mídia Indígena. Primeira mulher indígena a se formar em Produção Audiovisual no Brasil, a jovem indígena compartilha a sua história nas redes para incentivar outros jovens indígenas.
“Quando a minha família me vê entrando numa faculdade, eu acabo servindo de inspiração, inclusive para o meu povo, de correr atrás dos seus sonhos”, comenta.
A cineasta, nascida em Santarém (PA), território ancestral Tapajós, sempre teve apreço pelas histórias, intrínsecas à espiritualidade e à cultura do seu povo. “É de extrema importância que os povos da Amazônia contem suas próprias narrativas, pois têm uma sensibilidade e respeito diferente de quem é de fora”, argumenta.
No YouTube a influenciadora estreou a série documental Ãgawaraitá, que significa “encantados” em nheengatu, língua geral dos povos indígenas da Amazônia brasileira, na qual conversa com anciãos, curandeiras e rezadeiras sobre temáticas que englobam a cosmologia indígena e a relação entre a cultura ancestral e a preservação ambiental.
Elison Santos | @indigena_memes
Utiliza o humor para endereçar temáticas importantes das comunidades indígenas e conectar com os seus interesses. “Sempre disseram que eu era bem-humorado e eu não via esse tipo de conteúdo voltado para os nossos povos, nossas questões”.
O estudante de medicina da UnB pertencente às etnias Pipipã e Pankará criou a página de memes para abordar, de forma leve e animada, questões sensíveis para os indígenas como a demarcação das terras indígenas e estereótipos ancestrais, entre eles o mito de que todos os indígenas andam pelados e não podem ter acesso à tecnologia.
FOTOS: Reprodução redes sociais