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10 influenciadores indígenas para você se conectar

23/05/2023

influenciadores indígenas para se conectar

Curadoria apresenta influenciadores indígenas que trazem novas perspectivas de mundo para as redes sociais.

Qual imagem você faz dos povos indígenas? Seria aquela de 1500, de um índio em uma oca, com cocar de penas e pinturas corporais? Caso sim, você não é o único. Mas aqui vai um segredo: nem todos os indígenas têm olhos puxados, cabelos lisos ou vivem na floresta em aldeias. Existem indígenas de todos os tons de pele, em vários espaços urbanos e em diversos contextos sociais.

Boa parte dessa visão errônea começou a ser construída a partir da promulgação em 1943 do Dia do Índio, em 19 de abril, durante o governo de Getúlio Vargas. A data foi escolhida para comemorar o 1º Congresso Indigenista Interamericano, que ocorreu nesse mesmo dia, em 1940. Desde então, passou a ser celebrada só que de forma caricata e folclórica, descaracterizando a relevância da luta indígena por meio da apropriação e banalização de elementos culturais ancestrais.

“Quando a gente comemora o dia do índio, estamos comemorando uma ficção”, comenta o escritor e professor indígena Daniel Munduruku, ao relembrar a prática cultivada em escolas de fantasiar crianças de indígenas na data. 

Para o artista indígena Denilson Baniwa a data deveria destacar a diversidade dos povos, o sentimento de resistência e a luta por direitos. Ele diz que é importante saber que os indígenas são diferentes no Sul, no Nordeste, no Norte, no Sudeste e no Centro-Oeste.

LEIA TAMÉM: Índio ou indígena? Entenda a diferença e use o termo correto – Emerge Mag

“Índio não é tudo igual e não fala tudo tupi. Há diversas visões de mundo e de cultura. A diversidade é importante para a formação do Brasil e entendimento do país enquanto território nacional”

DENILSON BANIWA

Por isso, Joenia Wapichana, atual líder da Funai e primeira indígena eleita deputada federal no Brasil foi autora do Projeto de Lei 5466/19, que culminou na aprovação da Lei 14.402/22, a partir da qual o 19 de abril passou a ser denominado como Dia dos Povos Indígenas, numa referência clara à diversidade e a posição dos indígenas na sociedade nos diversos espaços sociais, da Universidade às plataformas digitais.

⁣A Emerge Mag apresenta a seguir uma curadoria com influenciadores indígenas que possuem forte atuação e presença nas redes sociais – ampliando as ideias, multiplicando os debates, fortalecendo diálogos e trazendo novas perspectivas de mundo. Juntos, eles somam mais de 1 milhão de seguidores.

Conheça, conecte-se, apoie e celebre a vida dos povos que originaram a nossa nação, com um olhar com mais generosidade, respeito e livre de preconceitos.

Geni Núñez | @genipapos

geni nunez indígena não monogamia
GENI NÚÑEZ: ATIVISTA, ESCRITORA E PSICÓLOGA

A psicóloga Guarani é uma influencer que advoga pela descolonização dos pensamentos em todas as esferas humanas. Ativista, escritora e psicóloga, Geni também é mestre em Psicologia Social e doutora em estudos de gênero e raça no Programa de Pós Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas (UFSC).

A partir de uma perspectiva histórica, a ativista explica em suas redes de maneira didática a origem colonial e ocidental das relações desiguais de gênero, abordando a monogamia como uma decisão sobre liberdade e não apenas sobre quantidade de parceiros. Ela diz que a monocultura só se faz na negação da diversidade, já a floresta precisa ser múltipla e concomitante.

“O que eu busco no meu trabalho não é convencer, mas construir diálogos e trocas sobre essa temática que sejam construtivos e potentes”.

GENI NÚÑEZ

Tukumã Pataxó | @tukuma_pataxo

TUKUMÃ PATAXÓ: INTERNET É TÃO RELEVANTE QUANTO ARCO E FLECHA

É diretor de comunicação da Associação de Jovens Indígenas Pataxó (AJIP) e colabora com a Mídia Indígena, coletivo de comunicadores indígenas com forte atuação nas plataformas digitais. Além disso, é chefe de cozinha e apresenta junto com Célia Xakriabá, deputada federal eleita por Minas Gerais, o podcast “Papo de Parente”, um original Globoplay, no qual o comunicador apresenta a cultura e saberes originários por meio da culinária indígena com muita descontração e humor.  

Nascido na aldeia Pataxó, na Bahia, esse comunicador acredita que a internet é uma ferramenta de luta tão relevante quanto o arco e flecha. Para ele, ocupar lugares de voz no mundo digital é fundamental pois as pessoas não indígenas não estão acostumadas a verem os indígenas nos mesmos espaços e utilizando a mesma tecnologia. Ele diz que sua luta vem dos ancestrais e que precisa dar continuidade.

“Muitas crianças indígenas me veem como inspiração. É gratificante influenciar e despertar vontades de lutas nos mais jovens”

TUKUMÃ PATAXÓ

Alice Pataxó | @alice_pataxo

ALICE PATAXÓ: EQUIDADE DE GÊNERO E MUDANÇAS CLIMÁTICAS

A ativista é uma das vozes mais influentes dos direitos indígenas na internet. Alice foi uma das três brasileiras (junto com Erika Hilton e Simone Tebet) a figurar na lista das 100 mulheres mais influentes e inspiradoras de 2022 da BBC, que contou com nomes como Malala Yousafzai e Billie Eilish. Para ela, a rede digital “traz a possibilidade de entender a luta do outro e as diferentes reivindicações” das diferentes comunidades e povos.

Alice foi indicada para a lista da BBC diretamente pela prêmio Nobel da Paz Malala Yousafzai, por seu compromisso inabalável na pauta das mudanças climáticas, equidade de gênero e direitos indígenas. Segundo Malala, ela lhe “dá esperança de que um mundo mais igualitário está ao nosso alcance”. Alice conta que sua mãe contava que os seus antepassados usavam borduna [arma indígena] para serem ouvidos. Hoje, ela se adaptou sem esquecer quem é – e a sua arma é o celular.

“Estamos descolonizando as telas e a internet. Usar celular ou morar na cidade não nos torna menos indígenas”

ALICE PATAXÓ

Txai Suruí | @txaisurui 

TXAI SURUÍ: LUTA CONTRA O DESMATAMENTO

Única brasileira a discursar na Conferência da Cúpula do Clima (COP26) em 2021, Txai é do povo Suruí de Rondônia, filha de Almir Suruí, uma das lideranças indígenas mais conhecidas por lutar contra o desmatamento na Amazônia.

Com mais de 112 mil seguidores, Txai foi a primeira indígena do povo Suruí a cursar direito na Universidade Federal de Rondônia. É fundadora do Movimento da Juventude Indígena de Rondônia e atua na parte jurídica da Associação de Defesa Etnoambiental (Kanindé), entidade que defende a causa indígena em Rondônia.

A jovem liderança indígena já ganhou prêmios e reconhecimentos no Brasil e no exterior, e lançou no final de 2022 o documentário O Território, do qual é produtora, no Central Park, em Nova York, que registra o desmatamento e invasões de terras por grileiros e garimpeiros ilegais.

“Ainda invadem nossas terras, atacam nossos direitos, ameaçam nossas vidas, envenenam nossa água e destroem nossa floresta. A Terra está falando que não temos mais tempo.”

TXAI SURUÍ

Samela Sateré-Mawé | @sam_sateremawe

SAMELA SATERÉ: ATIVISMO É DE NASCENÇA

Uma das porta-vozes do povo Sateré-Mawé, a influenciadora e apresentadora do canal Reload e ativista ambiental, representa o braço do movimento “Fridays for Future”, criado pela ativista ambiental sueca Greta Thumberg. Com mais de 99 mil seguidores, Samela compartilha conteúdos sobre os saberes ancestrais, a política indigenista e o ativismo climático de forma inovadora e criativa.

Para a influenciadora, as plataformas digitais são espaços de luta e resistência: “Somos guerreiros digitais. Não escolhemos ser ativistas, a gente nasce e todas essas causas (ambiental, social e de direitos humanos) se entrelaçam no nosso dia a dia”, comenta.

“Nós, comunidades indígenas e periféricas, somos os que mais sofrem as consequências das mudanças climáticas.”

SAMELA SATERÉ-MAWÉ

Cristian Wariu | @cristianwariu 

Guerreiro Digital, como foi apelidado pelas lideranças indígenas , o influenciador que possui mais de 72 mil seguidores se destaca por utilizar a inovação e a tecnologia para desmistificar preconceitos e estereótipos acerca dos povos indígenas.

Estudante de comunicação, Cristian, que é da etnia Xavante, ao comentar sobre o Dia dos Povos Indígenas, destaca que é uma oportunidade de trazer à tona a pauta de luta dos povos como um todo. Para ele, o dia ficou pequeno para representar os indígenas.

“A gente já nasce no meio de uma luta. Temos que lutar”

CRISTIAN WARIU

Lídia Guajajara | @lidiaguajajara

Midiativista do povo Guajajara é faz parte do coletivo Mídia Indígena e da ANMIGA (Articulação de Mulheres Indígenas). Nascida no território indígena Arariboia do sul do Maranhão, Lídia  começou a advogar pela causa indígena em 2015, quando fez um vídeo denunciando o massacre do povo Gamela. Atualmente a jovem ativista conta com mais de 58 mil seguidores.

Lídia é uma das precursoras da Mídia Indígena , que ganhou força no Acampamento Terra Livre (ATL). Ela argumenta que, até então, uma mulher assumindo esse papel era algo novo, pois a insurgência de vozes femininas era novidade. Ainda hoje, as mulheres ainda são minoria na comunicação.

“Partimos da necessidade de erguer a voz feminina dentro do movimento indígena. E, rapidamente, houve um crescimento no número de comunicadoras”

LÍDIA GUAJAJARA

Trudruá Dorrico | @trudruadorrico 

TRUDRUÁ DORRICO: A ESTÉTICA DA TERRA É INDIVIDUAL E COLETIVA

Pertence ao povo Macuxi, é poeta, escritora, palestrante, pesquisadora de literatura indígena e Doutora em Teoria da Literatura pela PUC-RS. Mestre em Estudos Literários e licenciada em Letras Português pela Universidade Federal de Rondônia, a jovem influenciadora ficou em 1º lugar no concurso Tamoios de Novos Escritores Indígenas em 2019 e é colunista do Ecoa do Portal UOL.

Administradora do perfil @leiamulheresindigenas e do canal Literatura Indígena Contemporânea no YouTube. Curadora da I Mostra de Literatura Indígena no Museu do Índio (UFU), Trudruá integra a coordenação do Grupo de Estudo em Memória e Teoria Indígena (GEMTI), é membro da Academia Internacional de Literatura Brasileira, ocupando a cadeira 266 e autora da obra Eu sou macuxi e outras histórias. “A estética da terra é coletiva e individual, pois possibilita a criação a partir desse cânone indígena”, diz ela.

Quando se lê literatura indígena, seu mundo amplia em todos os sentidos, pois estará diante de metáforas, personagens, políticas e da vida e da arte dos povos originários”

TRUDRUÁ DORRICO

Priscila Tapajowara | @priscilatapajowara 

PRISCILA TAPAJOWARA: CINEMA, ESPIRITUALIDADE E CULTURA

Priscila faz parte do coletivo de comunicação Mídia Indígena. Primeira mulher indígena a se formar em Produção Audiovisual no Brasil, a jovem indígena compartilha a sua história nas redes para incentivar outros jovens indígenas.

“Quando a minha família me vê entrando numa faculdade, eu acabo servindo de inspiração, inclusive para o meu povo, de correr atrás dos seus sonhos”, comenta.

A cineasta, nascida em Santarém (PA), território ancestral Tapajós, sempre teve apreço pelas histórias, intrínsecas à espiritualidade e à cultura do seu povo. “É de extrema importância que os povos da Amazônia contem suas próprias narrativas, pois têm uma sensibilidade e respeito diferente de quem é de fora”, argumenta. 

No YouTube a influenciadora estreou a série documental Ãgawaraitá, que significa “encantados” em nheengatu, língua geral dos povos indígenas da Amazônia brasileira, na qual conversa com anciãos, curandeiras e rezadeiras sobre temáticas que englobam a cosmologia indígena e a relação entre a cultura ancestral e a preservação ambiental.

“Quando entendemos a floresta enquanto casa dos encantados, aprendemos a respeitá-la e protegê-la de outra forma”

PRISCILA TAPAJOWARA

Elison Santos | @indigena_memes

ELISON SANTOS: HUMOR PARA QUEBRAR ESTERIÓTIPOS

Utiliza o humor para endereçar temáticas importantes das comunidades indígenas e conectar com os seus interesses. “Sempre disseram que eu era bem-humorado e eu não via esse tipo de conteúdo voltado para os nossos povos, nossas questões”.

O estudante de medicina da UnB pertencente às etnias Pipipã e Pankará criou a página de memes para abordar, de forma leve e animada, questões sensíveis para os indígenas como a demarcação das terras indígenas e estereótipos ancestrais, entre eles o mito de que todos os indígenas andam pelados e não podem ter acesso à tecnologia.

“As pessoas têm pouco conhecimento sobre a cultura indígena. A nossa presença nas redes tem um caráter educativo”

ELISON SANTOS

FOTOS: Reprodução redes sociais

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