Esta reportagem contou com apoio do Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+.
Ser uma pessoa LGBTI+ no Brasil é estar em constante vigilância. Ao longo da minha vida profissional, tive dificuldades em contar sobre a minha orientação sexual pelo medo de ser olhada diferente pelas pessoas com quem eu trabalhava. Isso fez com que eu tivesse que estar sempre atenta ao que eu compartilhava.
Era preciso ficar alerta para não mencionar a presença da minha namorada nas atividades que eu tinha feito no fim de semana. Quando eu queria contar alguma história que tínhamos vivido, me concentrava para chamá-la de “amiga”, e nunca “namorada”.
Tudo isso faz com que você gaste uma energia enorme em algo que apenas te faz sentir inadequada. Em última instância, uma farsa.
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Quando, finalmente, resolvi falar sobre o tema, sofri uma série de processos confusos na época. Houve a hipersexualização da minha identidade, seguida pelo apagamento da minha orientação sexual — sou bissexual, mas por namorar uma mulher, as pessoas me consideravam lésbica.
Numa empresa em que não trabalho mais, aconteceu até de a minha liderança tratar da minha orientação sexual com a diretora responsável pela minha área, sem o meu consentimento.
Quando eu entrei na PwC Brasil, eu decidi que eu não queria mais viver essa agonia. Desde o início, falei abertamente sobre a minha bissexualidade e sobre minha relação com uma mulher lésbica, minha atual esposa.
Ao receber acolhimento de todo o time, inclusive da minha liderança, eu experienciei uma sensação de libertação. Eu parei de gastar energia com o medo constante de ser descoberta. Pude canalizar o meu foco no impacto que eu queria gerar a partir do meu trabalho e na relação franca e saudável com as pessoas ao meu redor.
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Não são todas as pessoas que têm esse privilégio. Por isso mesmo, o meu trabalho com Inclusão e Diversidade é para que outras pessoas, principalmente outras mulheres, possam encontrar esse lugar de pertencimento no ambiente de trabalho.
*Carimie Romano, 32 anos, é analista sênior da PwC Brasil.
FOTO DE ABERTURA: Marcos Mesquita.