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Mergulhe no mar de Martte

29/06/2020

Romântico assumido, cantor e compositor lançou a música e videoclipe “A Rua”, produzidos em casa e que abordam sensações e vontades durante o distanciamento social

Romântico assumido, cantor lançou a música e videoclipe “A Rua”, produzidos em casa e que abordam sensações e vontades durante o distanciamento social

O cantor e compositor de pop soul Martte, paulistano de 23 anos, é pisciano com ascendente em virgem. Isso já diz alguma coisa sobre ele (para quem entende e gosta de astrologia), mas, assim como ele pediu em sua música “Sou Mar” (2017), não ficaremos na superfície, porque Martte é mais do que podemos ver.

O primeiro contato de Martte com a arte se deu dentro da igreja. Foi lá que ele começou a cantar e atuar em peças teatrais em eventos religiosos. Embora naquela época ele ainda não sabia ao certo se gostaria de ser cantor, ator ou escritor, desde criança tinha uma certeza: seria artista. E, partir daí, a arte tornou-se seu viver. Ele comenta a importância dela no seu dia a dia:

“Respiro arte. Se não estou pensando em produções e criações, estou consumindo arte de outras pessoas, tanto músicas, videoclipes, shows, peças, livros e filmes. A arte me preenche. Sinto cada vez mais que é um dos propósitos da minha vida é levar arte, transformação, luz e afeto por meio da música”

É inegável que a arte tem um papel educador, assim como os artistas que a produzem. Diante disso, é importante que nela exista espaço para discussão de assuntos importantes da sociedade. Martte diz que tem se cobrado sobre o que precisa pautar entre as pessoas que o rodeia. A questão que o perpassa é: como e o que agregar a vida das pessoas que acompanham seu trabalho. Após refletir, ele responde a sua própria indagação. “O mundo e a sociedade estão em constante movimento e isso me leva a estudar as transformações sociais”, diz ele. “Com a minha voz e opinião posso abrir debates junto ao público”.

Romântico assumido, Martte já deixou bem claro que “se não for pra falar de amor, nem sai de casa”. E podemos entender tudo isso ouvindo seu álbum de estreia “Vem Bem Vindo”, lançado em 2019, onde ele canta sobre diversos lados desse sentimento com voz e batidas envolventes em músicas como “Sua Pele”, “Me Acelera” e “Flor&Ser”. Ao mesmo tempo, na faixa “Cor da Noite“, o artista reserva um espaço para deixar sua mensagem antirracista como homem gay e negro:

Eu não sou melhor nem pior que você
Eu lutei muito pra chegar aqui
E não sou seu, cuidado com o que for falar
Fala o que quer, depois “cê” vai ter que escutar

Da cor da noite
Lutas aos montes
Não é mais sobre tudo que a gente perdeu
E sim sobre o que você não aprendeu

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ORGULHO (E LUTA) DE SER QUEM É

Nas últimas semanas, vários países tem presenciado mais um levante antirracista devido ao assassinato de George Floyd por um policial nos Estados Unidos. No Brasil, a sociedade ficou em choque após as mortes de Miguel, criança de 5 anos que caiu do novo andar de um prédio em Recife após ser negligenciado pela patroa de sua mãe; João Pedro, jovem de 14 anos morto por policiais dentro de sua própria casa no Rio de Janeiro; e diversos outros corpos negros que não chegam a ser manchetes de jornais.

Todos esses casos evidenciam a importância de levantarmos a questão racial enquanto ainda precisamos lutar por um tratamento mais humano e justo para a população negra – e, lembre-se, a luta antirracista não é uma “onda” momentânea a ser surfada. Afinal, estamos falando de vidas que importam. Como afirma a grande intelectual e ativista Angela Davis, com sua célebre frase que ganhou as redes sociais, “numa sociedade racista, não basta não ser racista. É necessário ser antirracista”.

MARTTE: “O QUE ME FAZ TER ORGULHO DE MIM É NUNCA TER DESISTIDO”

Reflexo e engrenagem de uma sociedade que privilegia o padrão branco, masculino e heterossexual, a indústria da música é seletiva e cheia de preconceitos. “Levantar bandeiras” e ser afeminado, por exemplo, pode ser entendido como posicionamentos e características negativas. Aqui cabe ressaltar um lance para não entender exceção como regra: embora cantoras como Pablo Vittar estejam em alta, quantos artistas gays, drags ou trans NEGROS você vê em destaque na televisão?

De acordo com Martte, nas entrelinhas da indústria da música está muito claro o quanto ela ainda é regida por um sistema machista e homofóbico. Mas a resistência por mudanças está se movimentando. Para ele, a arte serve para se libertar e libertar as pessoas, mesmo com grande parte da sociedade querendo ”padronizar” as vivências dissidentes – o que é muito exaustivo e frustrante para quem está no alvo do conservadorismo.

“Se minha arte não for genuína com quem eu sou e para as pessoas com quem quero me comunicar, ela não será verdadeira”, diz Martte.

No mês que celebramos o Orgulho LGBTQIA+, marco importante para valorizar os direitos conquistados, celebrar nossa existência e lutar por mais respeito, equidade e liberdade, Martte compartilhou com a Emerge o que o faz sentir orgulho de si – e deixou um recado para todes:

“O que me faz ter orgulho é eu nunca ter desistido. Não só dos meus sonhos, mas também de quem eu sou e de quem ainda serei. Para a nossa comunidade LGBTQIA+, diria “brilhem, sejam vocês mesmos e desliguem o som das críticas que sempre vem, vão e vivam no seu tempo. A vida voa e você também. A vida é muito mais colorida quando somos nós mesmos de verdade”

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PRODUÇÃO CASEIRA

Nas horas vagas dentro de casa, Martte costuma refletir toda sua tranquilidade e romantismo ao aproveitar o tempo ficando de boas assistindo séries e animações, brincando com suas cachorras e fazendo diversas atividades junto com seu namorado Gustavo Tornato.

Porém, ele tem trabalhado bastante. Com o período de isolamento social devido à crise causada pela Covid-19 no Brasil, diversos artistas estão se adaptando a outras maneiras de produzir, criar e compartilhar sua arte. O novo lançamento de Martte não ficou fora dessa. A música “A Rua”, que também conta com um videoclipe, foi completamente gravada dentro de casa. Toda a produção rolou durante a quarentena, assim como a composição da letra e beats, que contou com a colaboração do produtor musical Sky.

“Absolutamente nada foi feito fora de casa, o que é muito doido”, diz Martte aos risos. “Seria o novo normal?”.

A produção do videoclipe da música é assinada por Giulia Loturco e Lorena Pionti; com direção de Beatriz Maria e Felipe Carvalho e roteiro de Lya Lopes e Pedro Salorno. A coreografia marcante (eu mesma já dancei muito no meu quarto) é de Victor Moreira e conta com a participação dos dançarinos Marcos Oli e Larissa Noel.

O vídeo aborda as sensações e vontades durante o distanciamento social e deixa uma mensagem orgulhosa para a comunidade LGBTQIA+, que Martte resume em “uma libertação, mental e espiritual, uma fuga para um oásis dentro de mim – e que existe em todos nós –, um lugar mais calmo dentro da nossa mente”.

“A Rua” está disponível em todas as plataformas digitais e o clipe pode ser conferido abaixo:

IMAGENS: Divulgação

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