#emergereposta: Tainah Ramos, originalmente publicado pela Ajor.
Ao mesmo tempo em que existe uma saturação informacional no meio digital, organizações de jornalismo continuam a surgir com objetivo de olhar para temas que não têm espaço em meio ao excesso de informação. Esse foi o mote que guiou o encontro Por que mesmo minha organização de jornalismo existe?, levado pela Ajor (Associação de Jornalismo Digital) para o 19º Congresso de Jornalismo Investigativo da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), realizado entre 11 e 14 de julho, na universidade ESPM, na cidade de São Paulo.
A sessão reforçou a diversidade e pluralidade das associadas à Ajor, com a presença de representantes de três organizações jovens que integram a Associação: Brenda Gomes, da Entre Becos, Italo Rufino, da Emerge Mag, e Joaquim Cantanhêde, d’O Pedreirense, com a mediação da diretora-executiva da Ajor, Maia Fortes.
Localizada em São Paulo (SP), a Emerge Mag foi fundada em 2017 por jovens jornalistas de origem periférica e atua como estúdio criativo de diversidade e inovação social e como revista digital para profissionais de cultura, cobrindo principalmente indústria criativa interseccional. O conteúdo tem foco em grupos historicamente sub-representados na mídia, como mulheres, pessoas periféricas, negras, LGBTQIA+ e com deficiência. “Ver essas populações como potências criativas é um caminho para reverter a lógica do preconceito”, afirmou Italo.
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Ao longo da apresentação, o fundador e diretor executivo da Emerge mostrou como a diversidade da equipe também se desdobra na audiência, que é mais da metade composta por mulheres, LGBTQIA+ e pessoas negras. Ele destacou o potencial de inovação de equipes mais diversas. Esse olhar, por exemplo, fez com que a organização pautasse a imprensa tradicional, revelando artistas anos antes de se tornarem assunto nesses espaços.
Além das reportagens e conteúdos para o site e redes sociais, a Emerge promove um curso de produção de jornalismo digital, com o objetivo de inserir jovens das periferias no mercado de trabalho. Também presta serviços para ajudar empresas a desenvolver e comunicar boas práticas de diversidade, com diagnósticos, estratégias e planos de ação para fomentar a cultura inclusiva.
JORNALISMO INVESTIGATIVO MARANHENSE E MULHERES NEGRAS DE SALVADOR
Já Joaquim Cantanhêde, fundador e editor-chefe d’O Pedreirense, iniciou sua exibição introduzindo a cidade de Pedreiras, no Maranhão, com uma menção ao cantor e compositor João do Vale, de origem pedreirense e conhecido nacionalmente. O jornal foi fundado em 2020, com o intuito de fazer jornalismo independente e investigativo na região do Médio Mearim.
Ao buscar responder a pergunta-tema do encontro, Cantanhêde sintetizou por que o veículo existe: “Para contar histórias por inteiro”, disse. “As histórias que estão sendo contadas nas rádios e blogs de Pedreiras não estão ainda as histórias por inteiro, ao meu ver”.
Cantanhêde ainda destacou que a organização busca seguir na “vereda da profissionalização”, com a perspectiva de que o jornalismo local pode e deve ter qualidade. Apesar de ser um jornal jovem, O Pedreirense tem um impacto direto na região onde atua. Suas reportagens de interesse público foram capazes, por exemplo, de conquistar uma reforma para uma escola pública. Seu fundador ressaltou o papel do trabalho em rede. “Foi uma virada de chave para O Pedreirense se associar à Ajor. Nos mostrou que não estamos sozinhos no jornalismo independente. Foi uma acolhida muito forte. Existe um OP antes e depois da Ajor.”
Por fim, Brenda Gomes apresentou a Entre Becos, de Salvador (BA). A organização surgiu a partir do trabalho de outra associada à Ajor, a Agência Mural, por meio do projeto Mural Salvador, que fomentou a produção de 55 reportagens sobre nove territórios populares da capital baiana. Ao fim de um ano de programa, em 2021, um grupo de jornalistas decidiu continuar o trabalho, com matérias jornalísticas quinzenais distribuídas em formato de newsletter.
Formada majoritariamente por mulheres negras, a Entre Becos atua para contar histórias sobre as periferias soteropolitanas que não aparecem na mídia tradicional e combater os estereótipos negativos sobre esses lugares. “Ninguém melhor para falar sobre nosso território que nós mesmos”, afirmou Brenda Gomes.
“A maioria [da população] de Salvador é uma mulher negra. Toda reportagem da Entre Becos tem pelo menos a voz de uma mulher negra. É um jeito de contar a história da cidade”, destacou Gomes sobre a necessidade de um jornalismo que respeite as pessoas e os territórios, descentralizando as perspectivas hegemônicas, tradicionalmente brancas, masculinas e sudestinas. “O que temos feito com a memória e as histórias é também um movimento de reparação histórica”, pontuou.
Foto de abertura: Luciana Vassoler/Abraji