Pesquisar
Close this search box.
Pesquisar
Close this search box.

Baile da DJ $ophia: feito por uma mina e para a quebrada

18/04/2022

Mulher com um top riscado preto e branco tocando em um toca discos. O toca discos está em primeiro plano e ela atrás, de fones de ouvido grandes e com os olhos fechados e a aparência serena. Faz a mixagem de um disco de vinil

Organizado pela jovem de 21 anos Sophia Lima, o Baile da DJ $ophia, foca nas mulheres e na periferia e chega a sua segunda edição 

Um rolê acessível e feito para todes: essa é a proposta do Baile da DJ $ophia, que chegou a sua segunda edição na última sexta-feira (15) na cidade de São Paulo. A festa, que já recebeu nomes como MC Luanna, Tasha&Tracie e Souto MC, leva o nome da jovem de 21 anos Sophia Lima, que vem estourando na arte dos toca-discos no Brasil.

Talento precoce, Sophia teve seu primeiro contato com o hip hop dentro da própria família, por meio do irmão, tia e tio, que escutavam rap. O interesse, porém, despertou realmente quando viu o show da cantora Flora Matos, em 2013. 

Foi aí que Sophia começou a frequentar shows em casas de cultura, que a instigaram a querer fazer parte do movimento do hip hop. “Entendi a importância de estar ali pelos nossos. O rap salva vidas”, diz em entrevista à Emerge Mag

Nos seis anos de trajetória na música, Sophia conquistou parcerias e realizações, e tocou ao lado de grandes artistas, como Jazzy Jeff no canal “Boiler Room”, o maior canal de DJs do mundo, de origem inglesa. Além das apresentações solo, Sophia é beatmaker e DJ de Karol Conká, Mc Soffia e Souto MC, e já apresentou seus sets autorais em grandes festivais de rap do Brasil, como Cena e Rep Festival. Em 2020, foi a única DJ do palco principal do Festival Cena 202K.

Em fevereiro, a jovem organizou pela primeira vez um festival sozinha, e firmou ainda mais o seu nome na cena da discotecagem. Sucesso desde a primeira edição, o Baile da DJ $ophia foi a realização de um sonho da artista: uma cena feita por uma mina para a quebrada. Ela conta:

“O Baile da DJ $ophia chega para quebrar barreiras por ser um evento de uma mina preta nova da cena do hip hop, e que ao mesmo tempo está no rap, mas se conectando à galera do trap funk. A nossa meta é que ele aconteça mensalmente, sempre trazendo atrações com as quais eu me identifico, assim como atrações do rap e do funk, que também geram identificação do público”

Rolê acessível para a quebrada

Uma crítica que vem ganhando força sobre os eventos de rap e funk no Brasil é, justamente, a falta de acessibilidade para a quebrada – seja em relação ao local ou ao preço. Enquanto artistas cantam letras cheias de denúncias sobre a realidade nas comunidades e os problemas sociais vividos pelo povo periférico e preto, no público há majoritariamente pessoas brancas e de classes sociais elevadas. 

Atualmente moradora do centro de São Paulo, Sophia passou boa parte da vida no Capão Redondo, onde morava com a avó. A trajetória forjou o entendimento sobre a necessidade de fazer um rolê de fácil acesso ao público geral, e não apenas para as pessoas que moram na região central da cidade.

Além de aproximar o baile da periferia, a artista também fomenta a presença das “minas e as monas” para fortalecer a cena independente. Ela diz:

“Quero sempre trazer novas MCs e DJs, artistas já consagrados e, principalmente, fortalecer a cena independente. Trazer os caras, as minas e as monas também. O rolê será feito por todes”

Com mulheres na linha de frente, ela espera que a festa também amplie as vozes femininas dentro do rap e hip hop, muitas vezes ofuscadas pelo machismo enraizado na cultura brasileira. 

De acordo com edição 2020 do relatório Por Elas Que Fazem a Música, desenvolvido pela União Brasileira de Compositores, entre os 100 maiores arrecadadores de direitos autorais no país, apenas dez são mulheres. Em 2019, elas receberam somente 9% do total distribuído em direitos autorais. Além disso, dos mais de 33 mil associados da UBC, apenas 15% são mulheres.

“Há uma inovação crescente no cenário, com mais mulheres em line ups e festivais. Porém, é uma caminhada longa. Sinto que o Baile ajuda a quebrar barreiras devido ter protagonismo feminino, com mulheres na linha de frente, o que proporcionar uma experiência fluida e natural para o público”, diz Sophia.

FOTOGRAFIA: Caio Versolato

Reportagem produzida em parceria com Griot, assessoria de comunicação antirracista especializada em contar histórias de artistas, eventos, projetos culturais e criadores de conteúdo para a mídia e na internet.

Quem escreveu

Inscreva-se na nossa

newsletter

MATÉRIAS MAIS LIDAS

ÚLTIMAS MATÉRIAS

NEWSLETTER EMERGE MAG

Os principais conteúdos, debates e assuntos de cultura, direitos humanos e economia criativa interseccional no seu e-mail. Envio quinzenal, às quartas-feiras.