Pesquisar
Close this search box.
Pesquisar
Close this search box.

Cia Pé no Mundo: criatividade negra na dança contemporânea

31/05/2022

Duas pessoas negras sentadas com os pés em cima de uma espécie de banco de pedras. Uma está de costas e a outra de lado e elas seguram a mão no alto. Estão em um cenário com várias árvores e um chão de areia

Com dez anos de existência, Cia Pé no Mundo apresenta em junho a videodança “Fora da Caixa – Repertórios Corporais”, que questiona a falta de representatividade negra em espaços de arte.

Segundo uma pesquisa realizada pela Agência Nacional do Cinema (Ancine) em 2016, pessoas negras representam apenas 2,5% de diretores e roteiristas no Brasil. Um levantamento do projeto Negrestudo, disponível no site Projeto Afro e feito com 24 galerias de arte da cidade de São Paulo entre 2019 e 2020, constatou que somente 4,36% des artistas eram negres, sendo 0,8% mulheres negras. Enquanto isso, pessoas brancas representavam 93,56% do total.

Embora essas pesquisas sejam mais recentes, em 2012 já havia pessoas se questionando sobre a falta de representatividade negra no cenário da arte. Há 10 anos, os diretores, coreógrafos e bailarinos Cláudia Nwabasili e Roges Doglas fundaram a Cia Pé no Mundo que, além de contestar o racismo presente na dança contemporânea, busca referenciais que se relacionem com a identificação ancestral do povo preto

Conforme consta no site oficial, o pensamento da Cia Pé no Mundo se relaciona “com a circularidade ou não circularidade dos corpos negros, suas condições e ações em outros lugares que não só no Brasil”. Para isso, parte de uma perspectiva das diásporas negras africanas, que fizeram com que a população preta passasse a estar “em todos os lugares do mundo, não sendo nem mais ‘só’ negros africanos e nem negros alienados quanto à sua ancestralidade em uma nova cultura e/ou território desafiador”. 

No entanto, nos estudos oficiais da história da arte ocidental, são pouquíssimos os registros e documentações que representem as pessoas negras. Um dos objetivos da companhia é, assim, desenvolver pesquisas não só em dança, mas também em outros campos, como literatura, história, sociologia e comunicação, para “contribuir com a desmistificação de manifestações culturais brasileiras e afro-brasileiras, valorizando-as como elementos possíveis para a concepção da arte contemporânea, e despertar no público o interesse e a necessidade de reconhecer narrativas históricas das diferentes vivências e corpos negros”.

“Por meio da linguagem da dança, queremos materializar contemporaneidades e tornar possíveis novos imaginários sobre passados, presentes e futuros negros na dança e no mundo”, explicam os dançarinos

Espetáculo marca 10 anos da Cia Pé no Mundo

E para comemorar uma década de existência e resistência, a Cia Pé no Mundo apresenta no mês de junho a videodança “Fora da Caixa – Repertórios Corporais”. Revisitando pensares, coreografias e mirando novos horizontes, Nwabasili e Doglas trazem intervenções guiadas pelas nuances visuais, arquitetônicas e cenográficas de onde são propostas. Além disso, reafirmam a pesquisa de linguagem e desenham novos traços, a fim de ampliar os discursos e possibilidades. 

“Enquanto pessoas pretas, possuímos diversos referenciais que se conectam com a nossa origem ancestral. Essas referências podem e devem ser ferramentas de materialização e corporificação dos nossos fazeres. Ainda precisamos falar sobre isso. E essa necessidade de fala só revela o quanto o racismo persiste na sociedade. A arte não está isenta dessa problemática. Ela é apenas um reflexo disso tudo”, afirmam

E o nome escolhido para o espetáculo, “Fora da Caixa”, não poderia ser mais proposital. Segundo os artistas, a intenção é questionar o que é o “clássico” e, mais ainda, como foi construído o imaginário de “clássico” no Brasil, e se é possível “furar a bolha” e estar “fora da caixa”

“A intervenção “FORA DA CAIXA” é sobre estar fora da caixa preta, fora dos palcos e ocupando diversos espaços, mas é, sobretudo, fora da caixa no sentido de romper com estereótipos que nos colocam em alguns lugares e nos retiram de tantos outros. Para nós, a grande reflexão deste trabalho é: Qual será o clássico brasileiro no futuro?”.

As exibições começaram no dia 14 de maio e seguem até 21 de junho, entre onlines e presenciais (veja a programação abaixo). Inovador, o espetáculo traz coreografias diferentes dependendo do espaço onde acontece, já que os artistas selecionam as danças que mais dialogam com o local. Assim, o corpo interfere no espaço, enquanto o espaço interfere no corpo para a recriação. Não é necessário fazer a retirada de ingressos; basta chegar com antecedência ao local.

Confira a programação completa

  • Dia 10/6, sexta (presencial e online), às 19h – Centro de Referência da Dança (CRD) e Youtube do CRD – São Paulo
  • Dia 11/6, sábado (presencial e online), às 19h – CRD e Youtube do CRD – São Paulo
  • Dia 11/06, sábado – Oficina online CRD das 10h às 13h
  • Dia 21/06 terça-feira, (exibição presencial), às 19h30 – Oficina Cultural Oswald de Andrade
Cia Pé no Mundo apresenta peça “Fora da Caixa – Repertórios Corporais” em comemoração aos 10 anos

FOTOGRAFIA: Clarissa Lambert

Reportagem produzida em parceria com a assessoria de comunicação Bianco.

Quem escreveu

Inscreva-se na nossa

newsletter

MATÉRIAS MAIS LIDAS

ÚLTIMAS MATÉRIAS

NEWSLETTER EMERGE MAG

Os principais conteúdos, debates e assuntos de cultura, direitos humanos e economia criativa interseccional no seu e-mail. Envio quinzenal, às quartas-feiras.