Dirigido por Leonardo Alan, curta “Primeiro Ato” foi lançado no Dia Nacional dos Direitos Humanos e retrata a população preta invisibilizada, marginalizada e que vive em condições insalubres
Originário da região do grande ABC em São Paulo, e residente na Bélgica há oito anos, o multifacetado artista Leonardo Alan é conhecido por abordar em seus projetos temas como as liberdades LGBTQIAP+, sexual, política, além da manipulação em massa, intolerância religiosa e racismo. Em seu último curta “Primeiro Ato”, lançado no dia 12 de agosto, Alan escolheu como tema os Direitos Humanos, ao retratar a população preta invisibilizada, marginalizada e que vive em condições insalubres.
Parte do roteiro do curta foi inspirado em uma edição do programa Fantástico, da TV Globo, sobre a Cracolândia. Incrédulo ao saber que quase uma década depois a situação das pessoas em situação rua e usuários de drogas da região piorou, o artista decidiu incluir no curta-metragem cenas da esquina da Rua Helvétia com a Alameda Cleveland, onde fica localizada a Cracolândia, no bairro Campos Elíseos, em São Paulo. Periférico, Alan afirma:
DIRETOR RESGATA ANCESTRALIDADE EM CURTA “PRIMEIRO ATO”
Para além das questões sobre Direitos Humanos, Alan fez um resgate à ancestralidade no curta. Na Europa, o artista realizou um exame de DNA e descobriu que tem genes de diferentes países da África como Nigéria, Quênia, Serra Leoa e Massai – um grupo étnico africano de seminômades que vive no Quênia e no norte da Tanzânia. A partir daí, optou por incluir imagens da África no projeto. Outro resgate da ancestralidade veio a partir da figura da mãe do artista, de quem ele ficou afastado durante anos.
Em 2022, ela foi passar uma temporada de três meses com Alan na Europa, e esse reencontro foi uma catarse inspiradora para o curta. A ideia partiu da Relações Públicas do artista, a Comunicadora Social e Artista Nega Cléo. Durante uma reunião, viu a mãe de Alan desfazendo suas tranças, cuidado materno que despertou a ideia de uma produção audiovisual em que mãe e filho são os protagonistas.
A partir daí, Nega Cléo e Alan foram desdobrando o roteiro, e chegaram à ideia da cena final do curta, onde a mãe do artista aparece representando todas as mulheres negras brasileiras que apoiam e dão sustentação aos homens pretos marginalizados. Já o cenário, dirigido pelo próprio Alan, se deu de maneira orgânica. Ele explica:
ASSISTA AO CURTA “PRIMEIRO ATO”:
CURTA “PRIMEIRO ATO” É NARRADO POR POEMA QUE DENUNCIA RACISMO ESTRUTURAL
Outra ideia que partiu de Nega Cléo, Diretora Criativa de “Primeiro Ato”, foi convidar a poeta Victoria Aparecida, que conheceu em batalhas de poesia, para integrar o projeto. O vídeo é narrado por um poema da artista, que é nascida e criada em Poá, no extremo leste de São Paulo. No texto, ela denuncia o racismo estrutural e enfatiza: “é essa gente (preta) que mantém esse país estruturado” e continua: “quem produz a riqueza da elite é quem segue sendo chicoteado, baleado”.
Para além do racismo, Victoria faz uma crítica assertiva contra o feminismo branco, que esquece que “quem limpa a sua sujeira é a tia preta da limpeza, sendo ainda tratada como escrava”. Além disso, lembra que o seu povo já praticava o comunismo nas aldeias bem antes de Marx. O poema é um verdadeiro soco no estômago da branquitude e termina com a seguinte frase: “se prepara para a justiça, que hoje ela veio dobrada.”
FOTOGRAFIA: Divulgação/Griot Assessoria
Reportagem produzida em parceria com Griot Assessoria