O universo dos carros e oficinas mecânicas costumam ser repletos de homens cis e héteros, com aquela pegada bem masculina tóxica. Se depender das Irmãs de Pau, o cenário não será mais assim. A dupla formada por Isma Almeida e Vita Pereira, cantoras, negras e travestis, lançou recentemente o videoclipe “Shambaralai”.
No filme, elas e as amiguinhas invadem um desmanche para rimar – e rebolar – mostrando que o espaço público é de uso coletivo, livre e multifuncional, onde todos os corpos têm o direito e a liberdade de estar (veja o clipe no final da matéria).
A escolha do desmanche de carros para o clipe nasce da ideia de destruição do cenário atual para a reconstrução de um novo, com mais participação feminina. Elas complementam:
A ideia de subversão da lógica de gênero, etnia e classe se estende, inclusive, para a equipe de gravação do clipe, composta majoritariamente por mulheres. Produzido pela Pródigo Filmes, “Shambaralai” tem direção da estreante Mariana Borga, em parceria com as próprias Isma e Vita. O styling ficou por conta de Brendy e Lostea.
O tensionamento as regras cisheteronormativas das Irmãs de Pau não é novidade. Desde 2020, quando estrearam na cena musical, as artistas criam músicas com inspirações no funk, rap, trap e eletrônica. As canções que ecoam inquietações feministas e do movimento LGBTQIA+.
A dupla é apenas a ponta do iceberg de um movimento musical liderado por artistas LGBTQIA+, que cada vez mais ganha destaque na mídia. No panorama, há nomes como Liniker, Jaloo, Rico Dalasam, Johnny Hooker, Gloria Groove, Majur e Quebrada Queer, entre outres. Vale lembrar que, no passado, muitos artistas correram para que os talentos de hoje pudessem pisar, desde as internacionais Ma Rainey e Grace Jones ao brasileiro Ney Matogrosso.
AFIRMAÇÃO, ALEGRIA, PRAZER E DOR
Um dos grandes poderes da música é transcender, permitir que pessoas de origens díspares se encontrem um lugar comum. Artistas que integram a sigla LGTQIA+ estão por diversos gêneros musicais. A inovação sonora-social rola no funk, MPB, soul, rap, tecnobrega, rock… O grande lance tem sido usar a voz e o ritmo para contar histórias de autoafirmação, alegria, prazer e dor, e pedir por justiça social, o que envolve questões de raça, classe e território.
Um exemplo recente é o single “Eu Sou LGBT”, da banda feminista sapatão Clandestinas (ouça aqui). Sobre guitarras, baterias e sintetizadores, há um grito dançante de afirmação:
As Clandestinas é composta por Camila Godoi, Joana Cod e Natiê Benite. A banda nasceu em 2017. A origem foi a necessidade das artistas de se fazer ouvida em seus questionamentos sobre padrões de gênero e sexualidade. O trabalho tem dado resultado. Além do Brasil, as músicas têm sido tocadas em rádios gringas dos Estados Unidos, Austrália, Espanha e Chile.
FOTO ABERTURA DA MATÉRIA: Eli
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