A produtora cultural e repórter Talitha Dejesus começou a ler aos quatro anos. Sua maior incentivadora foi a avó materna Maria Aparecida, que estudou até a terceira série do ensino básico. Entre um livro e outro, Talitha conheceu Carolina Maria de Jesus, autora de “Quarto de Despejo”.
Publicado em 1958, obra narra o cotidiano da escritora quanto morava com seus três filhos na favela do Canindé, em São Paulo, e gerava renda como catadora de papel. Traduzido para 16 idiomas e vendido em mais de 40 países, o título se tornou referência literária e desperta interesse até os dias de hoje.
Para a repórter de 25 anos, a Carolina Maria faz as mulheres se sentirem potentes para usar a escrita para denunciar as desigualdades do Brasil. “Li o livro e lembrei da trajetória da minha avó e da minha mãe”, diz Talitha.
No último dia 26, Talitha lançou o Projeto Carolinas, iniciativa que distribui livros para mulheres para despertar o prazer da leitura e da escrita de suas próprias histórias.
“A literatura permite a reflexão e interpretação do mundo, nos conecta com outras realidades e pode ser uma ferramenta de transformação social.”
TALITHA DEJESUS, REPÓRTER
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A primeira ação física do Projeto Carolinas aconteceu no Conjunto Habitacional José Bonifácio, onde a repórter mora desde a infância. Foram distribuídos 30 livros de autoras diferentes. Na curadoria literária focada em escritoras negras está títulos da socióloga e ativista dos direitos humanos malawiana Upile Chisala e da poetisa americana Amanda Lovelace.
Juntos aos livros, as mulheres também receberam bloco de anotações, caneta, marcador de páginas e um cartão com uma frase da própria Talitha. Ah, como ainda estamos em pandemia – embora haja muita gente que não perceba –, o kit incluía uma máscara de pano e um frasco de álcool em gel.
Para tirar a iniciativa do papel, Talitha guardou uma parte de seu salário por seis meses. Ela também recebeu doações da mãe, de amigos e de um clube de assinatura de livros que incentiva projetos sociais.
Talitha conta que a primeira ação serviu de aprendizado e aumentou a motivação para manter o investimento, que é um convite para a emancipação entre mulheres periféricas. Neste contexto, é válido destacar que, hoje, há mais de 1,7 milhão de brasileiras que não terminaram o ensino médio, de acordo com dados do IBGE sobre evasão escolar feminina.
“Se dependermos do Estado, estamos ferrados. É nóis por nóis mesmo.”
A próxima ação do Projeto Carolinas está prevista para setembro. Neste momento, Talitha busca patrocínio para obter mais livros e ampliar abrangência para bairros vizinhos, como Jardim Campos, Guaianases e Cidade Tiradentes. Em breve, ela lançará um financiamento coletivo para o projeto. Para saber mais, acompanhe a página Projeto Carolinas no Instagram.
Nota do editor: Talitha é sucesso. É repórter na Emerge desde 2018, onde produziu 20 reportagens. Em 2020, Talitha foi uma das homenageadas no 1º Prêmio Neusa Maria de Jornalismo pela reportagem “Um olhar para a saúde mental da população negra e LGBTQ+” publicada pela Emerge em maio do mesmo ano; o prêmio Neusa Maria é uma iniciativa da agência de jornalismo especializada em temática racial Alma Preta.
Fotografias: Rafael Felix
