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Indígenas urbanos e sua luta pela cultura e território

31/01/2023

Encurralados pelas cidades e ameaçados por garimpeiros, indígenas urbanos enfrentam desafios diários para garantir seu direito de (co)existir

Encurralados pelas cidades e ameaçados por garimpeiros, indígenas urbanos enfrentam desafios diários para garantir seu direito de (co)existir

*Reportagem de Debora Saraiva, Gleice Prado, Hellen Novais, João Rafael e Nathalia Bruscain, alunos do curso de jornalismo da Universidade São Judas Tadeu, parceira da Emerge Mag.

O Biólogo Victor Hugo da Silva Iwakami, 27, dedica-se às pesquisas do povo indígena Kariri-Xocó, que habita a zona urbana de Porto Real do Colégio, em Alagoas. O bairro étnico enfrenta todos os problemas que atingem áreas periféricas das cidades brasileiras, mas para Iwakami, o crescimento das cidades fizeram com que os nativos fossem sufocados pela modernidade e discriminados por seu estilo de vida e costumes.

Nas últimas décadas, a diferença entre zona rural e urbana se tornou mínima tanto no sentido migratório quanto de interação entre ambas, com algumas grandes exceções. Além da expansão das cidades, a crescente inserção de indígenas no ensino superior têm constituído uma releitura acerca da presença indígena na configuração das cidades.

Estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2010, estimam que haja 800 mil indígenas no Brasil e que ao menos 325 mil vivem nas grandes cidades, principalmente em São Paulo, Manaus, Boa Vista e Rio de Janeiro. São povos como os Pankararu, Fulni-ô, Atikum, Kariri-Xocó, Potiguara, Pataxó, Xavante, Xucuru, Xucuru-Kariri e Pankararé.

Kamuu Dan Wapichana, indígena do povo Wapichana, etnia que habita o perímetro urbano da cidade de Boa Vista, capital do estado de Roraima. Ele destaca a participação dos nativos no bem-viver da cidade, a despeito da dinâmica urbana de negação e confrontação sumária dos grupos nativos que se faziam e se fazem presentes. “A água que vocês [“os brancos”, habitantes das grandes cidades] bebem, vem do Amazonas, por exemplo, que é cuidado por nós”, destaca Kamu Wapichana.

 “O nosso trabalho é invisível. Mas quando a gente morrer, as pessoas vão entender que dinheiro não se come”

OPRESSÃO DELIBERADA, REAÇÃO ALTIVA

Pior que ainda compreensível expansão urbana às terras indígenas, muitas já homólogas (não que precisasse, afinal, eles sempre estiveram aqui #QueManéMarcoTemporal). Está o perigoso avanço do mercantilismo. 

Kamuu Dan Wapichana: indígena é autor de livros infantis e acredita que histórias são ferramentas importantes para o diálogo entre as diversas culturas

“A expansão do agronegócio é mais violenta às comunidades indígenas do que a expansão das cidades”, afirma Iwakami.

A ofensiva contra os povos originários é muitas vezes endossada pelo Estado, que tem por obrigação constitucional protegê-los. Em 1970, durante o governo Médici, o regime militar comandou uma política indigenista, o Plano de Integração Nacional, cujo objetivo era de expandir as fronteiras internas do país, abrir rodovias, criar novas cidades e integrar o indígena ao “mundo civilizado”. Lideranças indígenas que lutaram pelos seus territórios foram perseguidas, presas, torturadas e assassinadas.

A partir de 1992, todos os governos que vieram, independente do partido, fizeram ações de proteção do território indígena. Contudo, com a ascensão de Jair Bolsonaro à presidência do Brasil (2018 – 2022) o ataque as terras dos povos originários retornou, já que o governo abandonou os indígenas, em especial o povo Yanomami, na maior crise sanitária do século e foi condescendente com o garimpo

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O futuro é ancestral e os novos caminhos só serão possíveis se primeiro olharmos para trás. A proteção às terras indígenas está além da conservação da biodiversidade, que pode ser aproveitada por todos. Trata-se também da preservação de um traço da história e da cultura do Brasil.  Kamu diz que viver em sociedade não deveria ser uma luta.

“Nós vivemos em um mesmo lugar. Todo o Brasil é indígena”

Consultado pela reportagem, o doutor em Educação e cientista social, Glauco Fernandes, acredita que a conscientização social, a inclusão dos nativos à vida do país e a superação das mazelas enfrentadas por eles só serão realizados através da educação e de ações políticas verdadeiras. 

A criação dos ministérios dos Povos Indígenas e da Igualdade Racial, ambos dirigidos por mulheres indígena e negra, são um passo no respeito, valorização e representatividade da cultura indígena. Enquanto ações mais concretas não são realizadas, ativistas e indígenas, unem-se para enfrentar antigos e arraigados e, ao mesmo tempo, renovados desafios.

Em 2021, eles fizeram a maior manifestação indígena pós-Constituinte. Seis mil indígenas de 170 etnias acampados em Brasília manifestaram-se contra o marco temporal.

E como registra Márcio Vera Mirim, líder da aldeia Tekoa Pyau, comunidade indígena urbana localizada no Pico do Jaraguá, parte do distrito de Pirituba, na zona oeste da capital paulista: “A gente segue na luta pelos nossos direitos”.

Foto de abertura: Laycer Tomaz (Agência Câmara) | Edição: Karol Pinheiro

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Revista digital de cultura, direitos humanos e economia criativa interseccional e consultoria de diversidade e impacto social (ESG).

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