Há três anos, Alice Kollwitz trocou as praças de Belém do Pará, onde costumava andar de patins e tomar Tacacá, pelo fervo da Praça Roosevelt, na capital paulista.
Ao desembarcar em São Paulo, o clima chuvoso aos finais das tardes de verão parecia ser um sinal de boas-vindas. Ela já estava habituada ao clima úmido. Belém é a cidade que mais chove no Brasil.
Por outro lado, Alice estranhou o frio. Não só o medido pelo termômetro, mas também o ar gélido dos desconhecidos do novo lar.
“Muitas pessoas me pareciam mesquinhas”, diz ela.
Mas isso também não chegou a ser um grande problema. Ela tinha pessoas para aquecê-la. Alice chegou à metrópole acompanhada de três amigos paraenses, entre eles o cantor Jaloo e o fotógrafo de moda Junior Franch.
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Aliás, moda é a paixão de Alice desde os 13 anos. Aos 16, ela já trabalhava como stylist junto com o amigo Franch. ”A moda me desafia a pensar no novo”, diz ela. “Por meio de uma análise do passado, compreendo o hoje e vislumbro o futuro.”
O conhecimento de Alice com figurinos foi fundamental para ela se estabelecer em São Paulo. Amigos e novos contatos na cidade a convidaram para trabalhar com produção de moda em cinema e publicidade. Ela já garimpou e selecionou looks para videoclipes, programas de TV, curtas e longas-metragens. Nos últimos meses, ela participou da equipe da produtora audiovisual O Baile.
Em breve, a produtora deverá lançar seu primeiro longa. Batizado de Todos Nós 5 Milhões, o filme aborda o abandono paterno no Brasil.
“Cinema e moda são áreas complementares. A primeira propõe uma ideia, uma visão e um conceito. A segunda apresenta uma história, que também é contada por meio das cores e peças de roupa”
Entre seus diretores prediletos estão Wes Anderson, Sofia Copolla e Gaspar Nóe – além dos clássicos Hitchcock e Kubrick. No cinema brasileiro, seus filmes favoritos são Estômago, O céu de Suely e A Toca do Lobo. O último é uma adaptação do livro homônimo do escritor Tomaz Xavier de Azevedo Cardoso de Figueiredo, ganhador do Prémio Eça de Queiroz, em 1948.
E quais são as características que mais gosta em você mesma, Alice?
“Gosto do fato de ser uma eterna metamorfose intensa. De mudar de hábito, de lugar, de cabelo e de ideias. A liberdade é uma ilusão, mas cada um pode escolher a sua jaula como queira”
CASA MATAHARI MARIPOSA E BRECHÓ QUIMERA
Alice foi fotografada por Kalinca Maki, especializada em retratos e editora de fotografia de Emerge Mag. As roupas usadas no ensaio são do acervo do Brechó Quimera, sob curadoria de Rafael Dardes, fotógrafo de moda e fundador da marca.
A locação utilizada foi a Casa Matahari Mariposa. O espaço foi fundado por Lu Pilibbossian, que, sem muitos recursos e expectativas, transformou sua casa num ambiente cultural e festivo com shows de bandas autorais e independentes.
O espaço funcionou no mesmo lugar, no bairro do Ipiranga, por cerca de cinco anos. Porém, no início de 2018, o centro cultural foi fechado pela Prefeitura de São Paulo.
Enquanto Lu corre atrás da legalização e readequação do espaço original, a Casa Matahari Mariposa foi reaberta na Rua Silva Bueno, 493 (também no Ipiranga).
Além de bar e shows, o novo espaço tem abrigado sessões de filmes de terror, aulas de música, ensaios fotográficos e eventos artísticos. A próxima festa, com a banda Samba da Chinela Voadora, acontecerá no dia 6 de maio.
Veja o ensaio completo abaixo:
Fotos: Kalinca Maki
Styling: Rafael Dardes, com peças do acervo Brechó Quimera
Produção: Thiago Higa
Locação: Casa Matahari Mariposa
Modelo: Alice Kollwitz
