A ativista ecológica Luïza Luz se define como uma artista transdisciplinar. Ela canta, compõe e produz com plataformas orgânicas e digitais para criar pontes entre a sabedoria ancestral e o mundo futurista, por meio de pesquisas sonoras de conexão, reflexão e reinvenção.
Difícil não ver nessa definição tão poética a influência do movimento Tropicália, nascido entre 1967 e 1968, que teve como pontapé na música o disco Tropicália ou Panis et Circencis, coletânea com participação de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, Gal Costa, Nara Leão e Os Mutantes, entre outros artistas.
Assim como os tropicalistas fizeram, Luïza produz um som repleto de teor crítico, poético e filosófico. Olha para o futuro sem esquecer do passado e da tradição. Recentemente, a cantora lançou “Everything Else Has Failed” (Todo o resto falhou, em tradução livre), uma música que não é exatamente uma música, mas uma junção de palavras sonorizadas, assim como a canção “Objeto Semi Identificado“, lançada em 1969 por Gilberto Gil.
“Everything Else Has Failed” nos diz que, enquanto humanidade, falhamos em acreditar que podemos controlar as forças da vida. Mas, ao mesmo tempo, a música fala de amor e como ele é o único caminho possível para sobrevivermos.
No início do mês, “Everything Else Has Failed” integrou a compilação Sílice, que reúne músicas de mulheres cis e transgêneros e produtores não binários – o lançamento saiu pelo selo Fértil Discos. A faixa também ganhou um videoclipe, que contou com montagem e direção criativa de Helena Rangel e Rafael Prado.
A inspiração de Luïza é nítida – e ela também não as esconde. Na real, nesta sexta edição da Emerge Rádio, ela escancara as obras que a inspiram e potencializam seu trabalho. Em sua seleção de músicas, a cantora brasileira, que descende de espanhóis, franceses e português, nos apresenta referências não europeias. Além do já citado tropicalismo, há faixas de artistas africanos, asiáticos e israelenses, como “Dolijute”, da banda Deaf Chonky, remixada por Manfredas. Ela diz:
Outro tema presente na playlist é política, por mais que nem todas as faixas falem diretamente sobre questões sociais. Ela nos conta que a própria existência e manifestação dos artistas selecionados narram suas visões de mundo, que engrossam a importância de suas contribuições para a música. “Toda existência é política”, afirma ela.
MAIS SOBRE LUÏZA LUZ
Formada em Artes Visuais, Luïza é amante de pesquisas acadêmicas e vê na música uma possibilidade de aproximar o saber científico das pessoas. Em tempos de pandemia, ela versa para outra consciência que não seja a capitalista cisheteronormativa. Seu clamor aponta outro caminho, sendo ele percurso sonoro, existencial, político e integrativo entre as sabedorias milenares da natureza e as novas tecnologias digitais. Em janeiro, ela participou da oficina de produção musical caseira para mulheres, realizada pelas musicistas e produtoras Gabriela Deptulski e Malka Julieta em parceria com a Emerge Mag.
Agora, ouça abaixo a playlist exclusiva com curadoria de Luïza (clique em “Tocar no Spotify” para abrir direto no aplicativo):
FOTOGRAFIAS: Paola Vespa
VIDEOCLIPE: Helena Rangel e Rafael Prado (montagem e direção criativa)