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Grupo de desenhistas cria outras perspectivas da metrópole

23/08/2024

O Urban Sketchers São Paulo organiza encontros de desenho urbano. Iniciativa ameniza sensação de terra arrasada no centro da capital.

A paisagem urbana de São Paulo esboça muitas histórias sobre a cidade, as culturas que a formaram e as pessoas que aqui construíram a sua vida. A Catedral da Sé, no centro, representa a influência católica e europeia; o Centro de Tradições Nordestinas, a contribuição dos baianos, cearenses e demais povos do nordeste, da gastronomia à construção civil; o bairro do Bixiga, a ancestralidade negra com origem no Quilombo Saracura e o samba da Vai-Vai.

De olho no que revela as paisagens da metrópole, está o Urban Sketchers São Paulo, movimento que organiza encontros de desenho urbano (ilustrações de observação direta) de locais simbólicos e do cotidiano da cidade. Fundado em 2012, o grupo paulistano já realizou mais de 220 encontros.

Os locais visitados se concentram principalmente no centro expandido da capital, em espaços abertos ou fechados. Parques, praças, museus e edifícios históricos são os pontos prediletos. Na lista, consta desde Mercado Municipal e Copan até unidades do Sesc e Ocupação Nove de Julho, sede do Movimento Sem Teto do Centro.

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Cada edição reúne de 40 a 50 desenhistas, profissionais e amadores. Para participar, não é necessário conhecimento prévio em artes. Os membros trazem seus próprios materiais e criam de acordo com seu estilo pessoal. Geralmente, são usadas técnicas com canetas, lápis, água e tintas diversas, como guache e aquarela.

Os encontros acontecem sempre aos finais de semana ou feriados, com a duração de duas a três horas. Por se tratar de um momento de concentração, muitos levam banquinhos ou cadeiras para se acomodarem em cantinhos. A ideia é reunir diferentes olhares para demonstrar como a interpretação e a identidade dos artistas materializam cenas do contemporâneo.

Ao final do encontro, é feita uma exposição das obras no chão. Depois, os desenhos são publicados nas redes sociais do grupo.

De acordo com Breno Burrego, um dos organizadores do Urban Sketchers São Paulo, quando o encontro acontece em locais fechados, há agendamento prévio com as instituições mantenedoras, públicas ou privadas. Uma semana antes, o local é divulgado nas redes sociais. Um dos últimos encontros foi no Pavilhão Japonês, jardim e centro cultural da colônia japonesa no Parque Ibirapuera.

“O desenho urbano faz com que as pessoas olhem para a cidade com afeto. Há valorização dos lugares que moramos e visitamos”

Fabiana Boiman, organizadora do Urban Sketchers São Paulo

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REGISTROS DO TEMPO E LUGAR

O Urban Sketchers (USK) é um movimento global. Foi criado em 2007, pelo jornalista e ilustrador Gabi Campanario, espanhol que na época morava em Seattle, nos Estados Unidos. Tudo começou com um fórum online, em que artistas compartilhavam seus desenhos de cidades que viviam ou visitavam, sempre feitos via observação direta. Um ano depois, o fórum virou um blog de histórias ilustradas. Os membros mais ativos, então, passaram a se reunir com base no manifesto criado pelo grupo.

O manifesto do Urban Sketchers possui sete princípios. Entres eles, estão “nossos desenhos são um registro de tempo e lugar”, “somos verdadeiros para com as cenas que testemunhamos” e “apoiamos uns aos outros e desenhamos juntos”.

Falando em apoio e ser verdadeiro, eu, repórter que vos escreve, fui recentemente a um encontro do Urban Sketchers São Paulo. De fato, encontrei muitos artistas, arquitetos e designers, o público padrão que consolidou o movimento nos Estados Unidos. Mas também vi estudantes, professores e funcionários públicos.

Marília Varela, por exemplo, é médica e professora de medicina. Ela conta que sua família era ligada às artes e seu pai era arquiteto. Na juventude, até tentou cursar arquitetura, mas trocou pela área da saúde. Para ela, o Urban Sketchers é um retorno ao seu passado.

“Eu tinha zero habilidades quando entrei no grupo. Com a troca de experiência, aprimorei minha técnica. O grupo é bem democrático. E damos nossa alma nos desenhos”

Marília Varela, participante do Urban Sketchers São Paulo

Para Ralf Scholz, outro membro, a comunidade é uma manifestação de alegria, que emerge por meio da criatividade de técnicas e diversidade de expressões. “São pessoas de idades, ideias e lugares diferentes”, diz ele. “Se torna uma festa”.

Museu do Bixiga, por Irmgard Schanner

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BELEZA EM MEIO A DESORGANIZAÇÃO DO PODER PÚBLICO

Iniciativas como a Urban Sketchers São Paulo trazem esperança para uma cidade em convulsão. Nos últimos anos, cresceu a sensação de que o centro da capital é uma terra arrasada. Um dos motivos é porque os poderes públicos estadual e municipal ainda entendem a questão das drogas como pauta exclusiva da pasta de segurança. Há pouca integração com as de saúde e assistência social.

A ineficiência tem gerado ações policiais desastrosas na região, como os constantes deslocados de adictos da chamada “Cracolândia”, por exemplo.

A falta de competência tem, inclusive, piorado a situação do centro da capital. Entre janeiro e outubro de 2023, a região da Rua 25 de Março e Praça da Sé registrou recorde de furtos, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado. Foram 3.772 casos, o maior número desde o começo da série histórica, em 2001.

Foto de abertura: Praça Roosevelt, por Breno Burrego.

Quem escreveu

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Guilherme Schanner

Graduado em jornalismo pela Universidade Mackenzie, gosta de escrever e falar sobre cultura e sustentabilidade. Apaixonado pela natureza, é líder escoteiro desde a infância. Com experiência em produção e edição de conteúdo digital, trabalhou no Fala! Universidades.

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