Quem vê Lena Amano sorrindo a todo instante – como fica claro neste ensaio fotográfico –, pode não perceber que ela é uma jovem bem introvertida. No entanto, há alguns temas que fazem com que ela deixe de lado seu jeito reservado e se entregue a uma boa conversa.
E um de seus assuntos prediletos é economia solidária. E Lena manja muito. Como ela costuma explicar, economia solidaria é um conjunto de práticas que envolve produção, venda, compra e troca de bens e serviços.
Ela complementa que as palavras-chave do conceito são: autogestão, cooperação, valorização do ser humano, trabalho digno, geração de renda, inclusão social, reconhecimento da produção local e sustentabilidade.
Lista de termos extensa, né? Bem, ela resume de uma maneira mais prática:
“É uma alternativa de geração de trabalho e renda em meio a tanta exploração neste caos capitalista em que vivemos.”
Atualmente, Lena trabalha na Rede Design Possível, uma associação sem fins lucrativos que integra diferentes iniciativas que atuam em transformação social e ambiental.
Ela ingressou na associação há três anos, ainda como estagiária, quando cursava a graduação em design.
Ela também atua no coletivo Costura Solidária SP, uma rede criada para fortalecer a capacidade produtiva de pequenos negócios de costureiras.
Em meio a participações em feiras, rodas de discussões e atividades administrativas, Lena ainda tem disposição para atuar como voluntária.
Ela integrada a Equipe de Base Warmis – Convergência das Culturas, um grupo de mulheres voluntárias, brasileiras e estrangeiras, que se reúne para promover atividades para diferentes comunidades de imigrantes em São Paulo.
Lena atua numa frente de criação de produtos artesanais, como peças decorativas e acessórios – uma maneira de dar visibilidade às mulheres imigrantes por meio de trabalhos criativos.
Entre outras atividades, a Warmis também realiza eventos. Um dos focos são oficinas de danças regionais. Já houve aulas de tinku, dança tradicional do norte de Potosí, na Bolívia, e de kizomba, de origem angolana.
“Estar ao lado de pessoas diferentes, com realidades completamente distintas à minha, é uma maneira de buscar satisfação pessoal.”
Conviver com culturas díspares é algo que Lena aprendeu desde cedo. Ela é filha de imigrantes japoneses. Seus pais chegaram em São Paulo em 1978.
Caçula entre três irmãos, Lena nasceu completamente imersa na cultura nipônica. Antes de aprender português, ela já dominava o idioma de seus pais.
Ao longo da infância e adolescência, a intersecção de costumes fez com que ela passasse por vários choques culturais. Se dentro de casa havia um determinado conjunto de hábitos e valores, a vida social fora do lar era uma constante descoberta.
“As vivências eram extremamente diferentes e cheguei a ter muitas crises. Ainda sinto que não sou totalmente brasileira e nem totalmente japonesa. O bom é que posso nutrir o lado positivo das duas culturas.”
Criada na Aclimação, em São Paulo, seus finais de semana eram marcados por idas ao bairro da Liberdade. Era o momento de acompanhar o pai em compras nos tradicionais comércios japoneses da região.
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Entre um armazém e outro, sua diversão eram as papelarias. Adorava os cadernos e as canetas coloridas.
Hoje, aos 26 anos, Lena ainda carrega um receio da saudosa infância: o medo da solidão.
No processo para aprender a ser sua melhor companhia, ela tem se dedicado ao bordado e costura. É o momento que se isola do mundo. O momento que faz sua autoanálise.
Em contrapartida, a ansiedade, outra perturbação recorrente, está mais próxima de ser superada.
Recentemente, ela tatuou a palavra “calma” no antebraço esquerdo, próximo ao pulso.
“Agora, em vez de olhar para o relógio, vou observar a calma.”
FOTOS: Kalinca Maki
Lena foi clicada na Peixaria Mitsugi, conheça a história do estabelecimento: Entre peixes, música e drinks: o que faz a Peixaria Mitsugi ser um lugar único