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Mobilidade sustentável: ciclo entregas nas periferias

30/11/2023

Ciclo Log Leste. Cicloll. Mobilidade Sustentável. Bicicleta

Numa cidade infestada por carros, a Ciclo Log Leste combate as mudanças climáticas ao usar bicicletas para promover o comércio local.

Com reportagem de Guilherme Schanner.

Na cidade de São Paulo, existe um carro para cada dois habitantes. São mais de 9,1 milhões de automóveis. E isso é um grande problema. Nas metrópoles, os carros são os principais responsáveis por emissão de poluentes. A fumaça que sai dos escapamentos causa doenças respiratórias, poluição do ar e potencializam o efeito estufa.

Uma das soluções para frear as mudanças climáticas é investir em mobilidade sustentável. O conceito abarca fatores econômicos, ambientais e sociais. No que tange a transporte, os principais critérios são: planejamento urbano e transportes integrados, uso de tecnologias limpas para diminuir emissões e ruídos e adequação dos veículos aos ambientes de operação.

A mobilidade sustentável é uma tentativa de promover um equilíbrio entre a preservação do meio ambiente e a produção de bens e serviços de modo compatível com as demandas da população. Bacana. Mas como essas boas práticas podem se desenrolar nas periferias?

Uma das respostas é a Ciclo Log Leste (Cicloll). Instalada no Jardim Lapena, bairro do distrito de São Miguel, na zona leste paulistana, a Cicloll é uma startup social especializada em serviços que se valem da bicicleta.

LEIA MAIS: Hortas comunitárias no combate às mudanças climáticas

TECNOLOGIA SOCIAL

O principal serviço da Cicloll é o Bike Som, sistema que usa uma bicicleta com uma caixa de som para promover pequenos comércios da região. Funciona assim: a startup faz um levantamento da história do estabelecimento, os produtos e serviços ofertados e os diferenciais do negócio. Então, é gravado uma vinheta exclusiva num estúdio. Depois, a jovem Gisele da Silva, funcionária da empresa, assume os pedais e sai pelas ruas para veicular as mensagens. O trabalho acontece de segunda a sábado, num raio delimitado pelo cliente.  

Um dos clientes é o SuperOpa, plataforma que vende alimentos próximos a data de validade com descontos. O comércio reduz o desperdício na indústria ao mesmo tempo que entrega aos clientes descontos de até 70%.

Outro parceiro é a Feira Quilombola, feira de alimentos orgânicos produzidos em quilombos da região metropolitana de São Paulo. O evento que acontece mensalmente no Galpão ZL, núcleo de educação, cultura, esporte, culinária e empreendedorismo de São Miguel.

“As periferias são potencias de inovação. A Ciclo Log Leste nasceu para aumentar o impacto do pequeno comércio, gerar renda para os entregadores e fomentar a sustentabilidade a nível local”

EVERTON OLIVEIRA, COORDENADOR DA CICLO LOG LESTE

Fundada em 2020, numa parceria entre o Instituto Aromeiazero, focado em promover uma visão integral do uso da bicicleta, e a Fundação Tide Setubal, mantenedora do Galpão ZL, a Cicloll é coordenada por Everton Oliveira e Daniel Silva. Um dos primeiros projetos foi o Bike Literária. Em meio a pandemia de Covid-19, eles usavam bicicletas para fazer delivey de livros da biblioteca do Galpão ZL, que se encontrava fechada ao público devido as medidas de distanciamento social. Atualmente, o Bike Literária ainda está em funcionamento.

Em 2023, a empresa foi selecionada no Vai Tec, programa de valorização de iniciativas tecnológicas gerido pela Ade Sampa, em parceria com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Trabalho. Com o objetivo de apoiar empreendedores de periferias, o programa, que é similar a uma incubadora, selecionou 24 iniciativas e fez aportes de até R$ 42,5 mil para cada.

Ciclo Log Leste. Cicloll. Mobilidade Sustentável. Bicicleta
GISELE DA SILVA, DA CICLO LOG LESTE: BIKE SOM PROMOVE COMÉRCIO LOCAL E DIVULGA NOTÍCIAS DE INTERESSE DA COMUNIDADE (Foto: Kalinca Maki)

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OS DÉFICTS DA MALHA CICLOVIÁRIAS DE SÃO PAULO

A cidade de São Paulo possui 722 quilômetros de vias com tratamento cicloviário permanente, de acordo com a CET. Desses, 690 são de ciclovias, pistas que usam elementos físicos, como grandes ou canteiros, para separar o ciclista dos automóveis, e ciclofaixas, quando a delimitação é feita apenas por pintura no chão. Os 32 quilômetros restantes são de ciclorrotas, espaços de uso compartilhado com pedestres e carros.  

Porém, quando analisamos o mapa cicloviário de São Paulo, é percebido que a maior parte das vias se concentra na zona oeste, centro e centro sul, regiões mais ricas da cidade.

MALHA CICLOVIÁRIA DA CIDADE DE SÃO PAULO: VIAS PARA BICICLETAS (LINHAS VERMELHAS) SÃO MAIS COMUNS EM ZONAS CENTRAIS E BAIRROS MAIS RICOS (Fonte: CET)

Para abrigar as bicicletas e oferecer integração de modal de transporte, a cidade possui 7.192 vagas em 72 Bicicletários e 802 vagas em 29 locais com paraciclos, como são chamadas aquelas estruturas de metal instaladas em calçadas.

Acontece que as vagas não dão conta da demanda. Na estação de trem Jardim Helena – Vila Mara, em São Miguel Paulista, dezenas de bicicletas ficam amarradas em árvores e corrimões em frente ao bicicletário da CPTM. As 256 vagas do local são insuficientes para a demanda enorme de ciclistas da região, conforme revelou uma reportagem recente da Agência Mural.

É o problema não é de hoje. De acordo com uma nota técnica do Centro de Estudos da Metrópole (CEM), órgão ligado à Universidade de São Paulo, a infraestrutura cicloviária de São Paulo contempla, em especial, pessoas brancas de classe alta.

Segundo o levantamento, publicado em 2021, a renda dos moradores que estão a 300m de alguma ciclofaixa ou ciclovia em São Paulo é 43% maior do que a média da cidade. A nota também aponta que as regiões onde a maior parte dos moradores não possuem automóvel são menos contempladas pela infraestrutura cicloviária.

Ou seja, quando o assunto é mobilidade sustentável, o poder público ainda tem deixado a desejar.

FOTOGRAFIAS: Kalinca Maki

“Este conteúdo faz parte da campanha Planeta Território, uma iniciativa do Território da Notícia com apoio do Instituto Clima e Sociedade (iCS)”

Quem escreveu

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Italo Rufino

Jornalista pós-graduado em marketing com dez anos de experiência. Trabalhou na revista Exame PME (Editora Abril), nos sites Diário do Comércio e Projeto Draft e na ONG de urbanismo social A Cidade Precisa de Você. Natural de Diadema (RMSP). Pai de uma criança de 10 anos. Fundador da Emerge.

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