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O lugar de Yannick Hara

25/09/2019

Rapper afro-asiático mescla o universo dos mangás com o do hip hop para protestar contra a sociedade de consumo e a perversidade do mercado de trabalho

O músico Yannick Hara teve uma construção de identidade complexa. Filho de pai negro e mãe japonesa, não era enxergado como negro por pessoas negras e não era visto como descendente de japonês pela comunidade asiática.

Acabou sendo taxado como “exótico” no centro de São Paulo, local onde cresceu. Essa escassez de origem aos olhos dos outros fez com que Yannick buscasse na cultura de seus antepassados a sua própria identidade.

Mesclando a história oriental com a ocidental, fundindo o universo dos mangás e animes com o do hip hop, nascia o rapper imerso na cultura cyberpunk e da ficção cientifica.

Aos 35 anos, Yannick está prestes a lançar seu primeiro álbum de estúdio, que sai em novembro em todas as plataformas digitais.

Batizado de “O Caçador de Androides” – uma referência ao filme Blade Runner –, o disco possui 12 faixas e traz uma narrativa sonora que entrelaça trap, dubstep, vaporwave e pós-punk.

NA INFÂNCIA, YANNICK TEVE O PRIMEIRO CONTATO COM A MÚSICA AO OUVIR PÂNICO NA ZONA SUL, DOS RACIONAIS (Foto: Tiago Santana)

O álbum terá a participação de músico conhecidos como Clemente Nascimento, das bandas punk Inocentes e Plebe Rude; e de Rodrigo Lima, do Dead Fish.

Também haverá colaborações de Keops e Raony, da banda Medulla; Rike, do NDK; Moah, da Lumiére; do rapper Cronixta, da cantora Sara Não Tem Nome e do poeta Rafael Carnevalli.

Aos longos dos últimos anos, Yannick tem calibrado suas composições com uma série de lançamentos.

Em setembro de 2016, ele apresentou o EP “Também Conhecido Como Afro Samurai”, baseado no mangá e anime Afro Samurai, criado pelo japonês Takashi Okazaki em 1999 – dez anos depois, a obra virou um filme animado estrelado por Samuel L. Jackson, que também foi produtor executivo do longa.

Em junho, ele lançou o clipe da música “A Ideal Mão de Obra Escrava”. O vídeo, que inicia com manchetes recentes de denúncias de trabalho análogo a escravidão, tem entre os alvos a Reforma da Previdência e o Agronegócio.

Como lembra Yannick, que é vegetariano, o gás metano produzido pelo gado na indústria da carne é de 25 a 100 vezes mais destrutivo do que o dióxido de carbono emitido por veículos.

A edição do videoclipe, que lembra a do documentário Surplus – um manifesto contra a globalização e a sociedade de consumo –, é outro ponto alto na obra de Yannick.

Há dezenas de trechos recortados de filmes, documentários, notícias e comentários jornalísticos.

É possível reconhecer nas imagens o ministro da economia Paulo Guedes; o derrotado candidato à presidência Cabo Daciolo; o presidente dos Estados Unidos Donald Trump; políticos da velha guarda do PSDB; o deputado estadual de São Paulo Douglas Garcia, que fez ataques transfóbicos a deputada Érica Malunguinho; e o líder do Partido Comunista chinês Xi Jiping. Yannick comenta:

“Minhas músicas são reflexões sobre a alta tecnologia e baixa qualidade de vida que assola a humanidade em direção a um futuro distópico. É o desejo de anarquizar e sair da lógica do trabalho e do consumo”

SE ESSE É O MEU LUGAR, ENTÃO, AQUI ESTOU

O amor pelo cinema e pela música acompanha Yannick Hara desde criança. Ainda na infância, ele descobriu o rap quando um amigo lhe mostrou a música “Pânico na zona sul”, dos Racionais MCs.

RAPPER TRANSITA PELO PUNK, HARDCORE CORE E TRAP (Foto: Anali Gentil)

Após o primeiro contato, não se desligou mais do gênero e o rap se tornou uma de suas maiores paixões.

Na coleção de discos de vinil do pai, o garoto encontrou uma enorme fonte de inspiração. Foi fuçando no arquivo que ele ouviu pela primeira a trilha sonora de Blade Runner, composta pelo músico grego Vangelis em 1982.

A mistura inusitada de música clássica, jazz e sintetizadores despertou a curiosidade para assistir ao filme. Mais de uma década depois, o mesmo fervor o fez compor o já citado álbum inspirado no tema.

“O Afro Samurai é um sonho da adolescência enquanto o Blade Runner é um sonho de infância”, diz o artista.

Do encantamento de criança as lutas diárias da vida adulta, Yannick criou pseudônimos, quase como personagens, para para adentrar no mundo da música.

Um dos primeiros foi JotaP Nk, ainda nos anos 2000. O nome Yannick Hara só nasceria em 2010. Já a carreira “levada a sério” aflorou em 2016, quando conseguiu se enxergar como sujeito afro-asiático e expor suas emoções e tensões a respeito dessa realidade por meio de canções.

“A construção de pseudônimos é uma ferramenta que eu uso para me expressar em diferentes performances e prestar um serviço aos movimentos musicais que perpasso, como o Rap e o Punk, que recebem novos olhares e agregam outros públicos”

No mesmo ano de 2016, Yannick foi indicado ao Prêmio Pindorama na categoria “Aposta”. No ano seguinte, com o EP “Também Conhecido Como Afro Samurai”, ele fez mais de 40 shows em diferentes cidades do Estado de São Paulo.

E, parafraseando o rapper americano Kendrick Lamar, a realeza e a lealdade estão no DNA de Yannick.

IMAGENS: Tiago Santana e Anali Gentil

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Revista digital de cultura, direitos humanos e economia criativa interseccional e estúdio criativo de Diversidade, Equidade, Inclusão e Impacto Social.

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