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O que a série Maid ensina sobre relacionamento abusivo

12/11/2021

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Minissérie Maid mostra histórias de sobreviventes de violência doméstica e como é viver abaixo da linha da pobreza nos Estados Unidos.

Minissérie Maid mostra histórias de sobreviventes de violência doméstica e como é viver abaixo da linha da pobreza nos Estados Unidos.

*Contém spoiler.

Se você é cinéfile, já deve ter ouvido falar em Maid, uma das minisséries da Netflix mais assistida de todos os tempos, com 98% de aprovação em seu lançamento. Nas últimas semanas, ela pode até ter sido ofuscada por Round 6, mas o drama tem chamado cada vez mais atenção para debates e reflexões sobre relacionamentos abusivos, sejam eles amorosos, de amizades ou em família. Com bastante sarcasmo, a produção revela a realidade de milhares de mulheres ao redor do mundo.

A minissérie conta a história de Alex (Margaret Qualley), que, ao resolver sair de casa após sofrer violência doméstica, sem dinheiro, diploma e emprego, enfrenta os desafios do trabalho doméstico com uma filha pequena e sem rede de apoio – em português, “maid” é “empregada”.

AGRESSÃO EMOCIONAL: SOCAR A PAREDE NA FRENTE DA NAMORADA TAMBÉM É VIOLÊNCIA

Narrada em primeira pessoa, Maid é baseada na obra autobiográfica “Superação: Trabalho Duro, Salário Baixo e o Dever de Uma Mãe Solo”, da autora americana Stephanie Land. Embora o livro e a série tenham a mesma narrativa central e aborda a vivência de uma mãe solo abaixo da linha da pobreza nos Estados Unidos, há algumas adaptações. Na série, a protagonista tem uma relação conturbada com a mãe Paula (Andie MacDowell) e há maior presença de Sean (Nick Robinson), ex-namorado de Alex que no livro aparece só quando pega a filha aos finais de semana – qualquer semelhança com outras mães solo não é coincidência.

Veja abaixo os motivos que fazem de Maid uma boa pedida para refletir sobre relações e ser a escolhida para a maratona do final de semana:

1. Mostra histórias de sobreviventes de violência doméstica

Em “Maid”, Alex sai de casa após ser abusada emocionalmente, mas, naquele momento, ela ainda não reconhece que tem sido vítima de doméstica. Seu namorado não o agride fisicamente, mas a insulta e quebra objetos dentro de casa (todo nervosinho ele #vacilão). Numa das cenas mais marcantes, uma amiga alerta Alex:

“Socar uma parede é agressão emocional. Antes de morder, ele late. Antes de bater, o soco é na parede. Na próxima, ia ser na sua cara. Você sabe disso”.

Inclusive, o frame com o diálogo tem sido usado nas redes sociais por produtoras audiovisuais, artistas e órgãos públicos para combater a violência contra a mulher. Outra passagem forte acontece numa casa de acolhimento a mulheres vítimas de violência doméstica, onde Alex busca ajuda pela primeira vez e ouve de uma assistente social “que é comum mulheres voltarem a viver com seus agressores”. É nessa que Alex entende como a classe e condições financeiras perpassam a violência de gênero; ela também reflete sobre não julgar essas mulheres.

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2. Aborda como é viver abaixo da linha da pobreza nos Estados Unidos

Ambientada em Washington, Maid aborda questões sociais inerentes ao Estados Unidos do século 21, como a escassez de emprego e baixa renumeração do mercado de trabalho americano. Outro lance é a dificuldade de acesso a serviços sociais e de saúde, uma vez que a mãe de Alex é bipolar e também tinha uma relação tóxica com seu pai Hank. A questão racial também é abordada quando Alex começa a faxinar a casa de um casal afro-americano. Na relação com a patroa, Alex descobre as particularidades da vida de uma mulher negra que também sofre violência doméstica.  Por fim, a série mostra a burocracia que mulheres em situação de vulnerabilidade sofrem para conseguir apoio jurídico e social para recomeçar a vida.

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REALIDADE AMERICANA: PROTAGONISTA DA SÉRIE É EMPREGADA DOMÉSTICA E NÃO TEM ASSISTÊNCIA SOCIAL

3. Compara a realidade com o mundo que criamos em nossa mente

Ao longo da série, somos convocados a entrar nos pensamentos de Alex. Elementos fantasiosos aparecem algumas vezes, como quando Alex passa a investigar um crime ocorrido numa das casas que presta serviço ou quando ela se imagina engolida por um sofá. A perspectiva em primeira pessoa também aparece em diálogos, como quando Alex imagina previamente a reação de colegas e, na sequência, ouvimos o que realmente foi dito (ansiedade que chama), e por meio de seus sonhos, muitos sobre a briga judicial pela guarda de sua filha. Acredito que o universo da mente de Alex foi uma forma de mostrar que a personagem é criativa, disruptiva e corajosa. Embora sua realidade seja triste, o clímax acontece quando Alex passa a ter mais consciência sobre os motivos que a fizeram sair da relação. A minissérie foi feliz em focar em apenas uma personagem e com atuações convincentes.

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4. Tem boa trilha sonora e fotografia

Tudo que falei até agora pode dar a sensação de que a série é uma tortura, mas não é (confie). Embora a história nos faça roer as unhas e sentir ansiedade, há muito humor e esperança na expectativa que Alex consiga melhores condições de vida. Os sentimentos são reforçados pela trilha sonora, que vai de The Girl From Ipanema na voz de Frank Sinatra a Queen. Maid também chama atenção pela belíssima fotografia com bom contraste de luz e sombra e bons enquadramentos para prender a atenção de quem assiste (passou no meu crivo).

IMAGENS: Divulgação Netflix

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