Sete maneiras para combater o capacitismo 

Livro Manual anticapacitista

Exclusão e o preconceito contra pessoas com deficiência – e como superá-los – são temas centrais do livro Manual Anticapacitista No mundo atual, onde a inclusão e a igualdade são valores fundamentais, surge uma obra literária revolucionária que promete guiar seus leitores rumo a uma sociedade mais justa e inclusiva. O “Manual anticapacitista: o que você precisa saber para se tornar uma pessoa aliada contra o capacitismo” é a mais recente contribuição de Carolina Ignarra e Billy Saga, dois renomados expoentes da luta pela inclusão e valorização das pessoas com deficiência. Com uma proposta audaciosa, o Manual Anticapacitista se apresenta como um guia completo sobre a inclusão de pessoas com deficiência. Os autores abordam de forma abrangente e coerente temas cruciais, como leis, terminologia atualizada, acessibilidade, relatos inspiradores, frases marcantes e dicas práticas para se tornar um verdadeiro aliado da inclusão. Além disso, o manual traz uma lista de influenciadores e especialistas no assunto que podem ser seguidos nas redes sociais. O objetivo central dos autores é fornecer informações valiosas sobre o que é o capacitismo e como desconstruí-lo. O capacitismo, um comportamento prejudicial que subestima ou superestima as capacidades de uma pessoa com base em sua deficiência, é uma forma de opressão que limita a inclusão e a diversidade na sociedade. Para ilustrar e sensibilizar os leitores sobre as dificuldades enfrentadas pelas pessoas com deficiência, o manual apresenta casos reais e histórias vividas pelos autores. Essas narrativas revelam as adversidades impostas pelo capacitismo e a importância de superá-las em prol da inclusão plena. Um prefácio inovador enriquece ainda mais a obra, trazendo depoimentos impactantes de 21 indivíduos com diferentes tipos de deficiência e trajetórias diversas. Descubra as sete maneiras para combater o capacitismo e construir uma sociedade mais inclusiva 1. Políticas anticapitalistas O produtivismo é um grande aliado do capacitismo. As atitudes produtivistas delegam a algumas pessoas um lugar de segunda classe, de subalternização. Precisamos caminhar rumo à consolidação de uma sociedade em que cada pessoa seja valorizada, independente de qual seja a sua contribuição nesta cadeia produtiva.  2. Libertação coletiva Nenhum corpo ou mente deve ser deixado para trás. A verdadeira liberdade ocorrerá quando todas as pessoas sejam respeitadas e valorizadas a partir das suas singularidades. 3. Organização dos ambientes  Espaços arquitetônicos e virtuais precisam considerar as variações corporais da comunidade. Banheiros, escritórios, lojas, universidades, transporte público e demais locais de circulação de pessoas adaptados funcionam como um convite para a participação de PCDs.  4. Acessibilidade como ponto de partida. Pensar nos recursos de acessibilidade desde o início de ações, atividades, construções e eventos aumenta a possibilidade de contemplar as necessidades de todas as pessoas. 5. Uso de linguagem acessível Busca por objetividade e clareza nas interações presenciais e não presenciais, pois isso amplia as possibilidades de atenção e de concentração de todas as pessoas.  6. Respeito ao tempo de fala Existem pessoas com diferentes tempos para compreender e comentar o que está sendo dito. Ao se manifestar, é importante pedir a palavra para evitar falar ao mesmo tempo que outra pessoa. Vozes simultâneas dificultam a compreensão.  7. Corpos múltiplos, tempos diferentes. As pessoas possuem diferentes modos de se manifestar/comportar em público, conforme suas necessidades, e todas elas precisam que seu espaço e tempo sejam respeitados. LEIA TAMBÉM: “Defender a linguagem neutra é defender as pessoas não binárias” – Emerge Mag OS AUTORES Carolina Ignarra, aos 43 anos, é uma cadeirante há mais de duas décadas, após sofrer um acidente de moto. Reconhecida pela Revista Forbes em 2020 como uma das 20 mulheres mais poderosas do Brasil, ela também foi eleita pela revista Veja como a melhor profissional de Diversidade do país em 2018. Carolina possui formação em Educação Física, pós-graduação em dinâmicas dos grupos e especialização em neuroaprendizagem. Desde 2008, ela lidera o Grupo Talento Incluir, uma iniciativa que já contribuiu para a empregabilidade de mais de 8 mil pessoas com deficiência em diferentes setores de negócios. (Foto: Arthur Calasans) Com 45 anos de idade, Billy Saga é um rapper que utiliza sua arte para trazer representatividade à realidade das pessoas com deficiência. Em 1998, Saga foi atropelado por uma viatura da Polícia Militar enquanto esta desrespeitava o sinal vermelho. O acidente resultou em uma fratura em três partes de sua coluna, deixando-o paraplégico. Para Billy, as rimas tornaram-se sua salvação nesse período difícil. Como MC e ativista, ele lançou três álbuns ao longo de sua carreira: “Me Jogue aos Lobos e Eu Volto Comandando a Matilha” (2012), “As Ruas Estão Olhando” (2016) e “Corpo Intruso” (2022). O músico é presidente da ONG Movimento SuperAção e é tricampeão da Batalha Racional de Freestyle. (Foto: Edu Garcia) A ausência gritante de protagonistas gordas no cinema – Emerge MagFilmes, séries e novelas trazem narrativas gordofóbicas e estereotipadas. Confira seleção de obras com pessoas gordas protagonistas vivendo suas jornadas sem que seus corpos sejam a grande questão da história

O que é Economia Criativa?

Descubra as atividades econômicas originais e de valor cultural, das artes ao uso de tecnologias digitais, que fazem a economia criativa.

A ascensão de negócios e economia criativa das favelas

Expofavela apresentou a riqueza e a criatividade que brota das periferias. Conheça a startup Maloca Games e a moda da Coração da África.  Na 2ª edição da ExpoFavela, a favela desceu para o asfalto. A maior feira da economia criativa das favelas aconteceu de 17 a 19 de março, no WTC Events Center, na Berrini, área de influência do capital financeiro da cidade de São Paulo. O evento reuniu milhares de pessoas de todas as idades e origens em um ambiente que celebrou a cultura periférica e o empreendedorismo das comunidades locais. Com exposições, shows, palestras e conferências, a feira mostrou ao público a riqueza e diversidade das favelas, bem como as necessidades dos moradores dessas comunidades. Celso Athayde, CEO da Favela Holding e um dos organizadores do evento, explicou que a intenção da ExpoFavela é que os favelados mostrem seu trabalho, seus saberes e vivências. A ideia é conectar os empreendedores com pessoas que nunca estiveram em uma favela. Houve mais de 300 expositores, com soluções ligadas à identidade cultural da periferia. Roupas, decoração, culinária e outros negócios de varejo tiveram forte presença.   “Favela não é carência, favela é potência” Celso Athayde AFRO GAMES E MODA AFRICANA Dentre tantas ideias e negócios, um dos destaques foi a Coração da África, loja de moda, acessórios e instrumentos musicais de culturas africanas. Um dos diferenciais da marca são peças feitas em Kente, tecido tradicional dos povos Ashanti ou Asante, atual Gana, feito de tiras com cores vibrantes e estampas geométricas. Passeando pelos corredores, deu para encontrar negócios de base tecnológica – startups, como a Maloca Games. A empresa é uma desenvolvedora de jogos temáticos baseados na cultura afrobrasileira e favelada. Em seu portfólio, há o jogo de cartas “Axé: a energia dos orixás”, em que os jogadores precisam fazer uma sequência de cores com suas cartas numa competição multiplayer. #Afrogames LEIA TAMBÉM: Os encontros e o território do Periferia Preta – Emerge Mag MÚSICA, CINEMA E LITERATURA  Além de empreendedorismo, a ExpoFavela entregou exposições e espaços repletos de subjetividade e símbolos. Com nome inspirado no clássico de MC João, o show Baile de Favela levou a estética típica dos fluxos de funk.  O  Favela Cine apresentou filmes produzidos e estrelados por criativos periféricos do audiovisual. Um deles é o documentário “Slam: a Voz do Levante”, em que se retrata as batalhas de poesia e poetry slams cada vez mais comuns nas comunidades. O longa conta as origens dos campeonatos de poesia e a realidade de cada um dentro da modalidade. Imagine uma livraria só com obras de autores de quebrada. Teve também. O estande Favela Literária era composto por livros de de Renata Oliveira Santos, Tatiane Santos, Cidinha da Silva e Beth Cardoso. Um livro em específico na livraria era “Minhas ações e meus pensamentos”, uma coletânea de poesias por  Marlon Soares que refletem a juventude da periferia.  LEIA TAMBÉM: Baile funk das lésbicas e bissexuais onde homem não entra – Emerge Mag De acordo com Renata Tavares Furtado, coordenadora do Museu das Favelas, presente no evento, o museu tem como premissa preservar e guardar as memórias e vivências das pessoas que viveram e vivem nas favelas e conscientizar a população sobre as necessidades e desafios nas comunidades. Além disso, a instituição mantém contato com as favelas sobre iniciativas e tendências que surgem nas favelas, assim incentivando o protagonismo dos moradores nas periferias e dando visibilidade ao trabalho de reparação social.  Nesse sentido, a feira de negócios foi um convite à reflexão. Um encontro para evidenciar a beleza, o potencial e as tecnologias das favelas, capazes de amenizar as desigualdades socioespaciais. Inclusive, um dos motivos por trás do fracasso de políticas e iniciativas com foco em favelas é justamente não incluir os saberes e as prioridades dos próprios moradores – não compartilhar o poder de decisão com quem de fato é o mais interessado.  E fica a dica: conexão e diversidade podem ser a chave para transformações reais.  Foto de Abertura Witri. Da ponte pra cá: a ressignificação do nome “favela” Origem do termo favela remonta às desigualdades sociais, culturais, raciais e econômicas do Brasil. Mas favela também é riqueza, criatividade e impacto positivo.

O rolê como aliado da nossa saúde mental

Jovens periféricos falam sobre o impacto da cultura, do esporte e lazer no controle da ansiedade e na promoção da saúde mental #Emergereposta: Ira Romão originalmente publicado na Agência MuralEsta reportagem foi produzida com o apoio do Instituto SulAmérica como parte do movimento #BemAmarelo. “Conto os dias para poder sair, ir a algum lugar para me distrair”, diz Girlania Merces, 22, que há anos enfrenta crises de ansiedade e já passou por grave depressão. Moradora do bairro Jardim João XXIII, situado no distrito Raposo Tavares, na região do Butantã, zona oeste da capital, Girlania teve esses diagnósticos identificados durante o ensino médio. “Sofria bullying [ato de ameaçar, intimidar ou humilhar alguém]. Por isso me sentia muito mal comigo mesma. Por três vezes, tentei tirar minha vida. Também me machucava, cortava meus braços. Mas nada disso resolvia a situação”, conta. “Tive que passar no psiquiatra, fazer terapia e tomar remédio. Foi uma época muito ruim. Fiquei nessa [situação] de 2017 até 2019”, relembra Girlania, que atua como líder de loja em uma empresa de varejo. A família dela também foi um alicerce importante. “No começo deste ano, tive início de depressão. Mas, graças a Deus, minha mãe esteve perto e me ajudou a sair dessa.” Um recente estudo do Atlas da Juventude mostra que Girlania não está sozinha. De acordo com o levantamento, que é a terceira edição da série de pesquisas Juventudes e a pandemia: E agora?, a propagação da Covid-19 trouxe grande impacto à saúde mental dos jovens. O estudo, que foi realizado entre julho e agosto de 2022, com mais de 16 mil jovens de 15 a 29 anos, mostra que 6 a cada 10 dos pesquisados passaram ou vêm passando por ansiedade nos últimos seis meses. ROLÊS COMO AUTOCUIDADO Hoje, felizmente, Girlania consegue controlar as crises de ansiedade e manter a depressão longe. Segundo ela (como já havia destacado no início desta reportagem), um dos fatores que contribui para isso são os rolês que faz no tempo livre. “Sair com amigos, me divertir, conversar com alguém e ficar com minha família me ajuda e muito” Girlania Merces, 22, líder de loja Ela gosta de frequentar baladas e costuma programar essas saídas, que na maioria das vezes tem como destino a região de Pinheiros, também na zona oeste, ou a Rua Augusta, próxima a região central. “Ao sair fico empolgada. Ainda mais quando estou de folga no dia seguinte. Porque saio, me divirto a noite toda, sem ter hora para voltar para casa e fico tranquila”, relata. Há cerca de um ano e meio, Girlania passou a morar sozinha, o que se revelou um grande desafio. “Quando morava com meus pais, convivia também com meus irmãos mais novos, que são gêmeos e têm seis anos. Isso sempre me divertia e me distraía muito. Quando me mudei tive dificuldades por não querer ficar sozinha o tempo todo”, lembra a jovem. Foi nesse momento que ela percebeu que sair com os amigos e visitar a família sempre que possível contribuía para reencontrar o equilíbrio emocional. “Isso tudo distrai muito minha cabeça. Faz eu esquecer os problemas da vida.” Aghata Santos, 23, é enfermeira e afirma que dar um rolê, seja sozinha ou com os amigos, “tira o estresse e diminui a ansiedade”. LEIA TAMBÉM: Conexão e cura por meio do tambor “Adoro ir a uma roda de samba de rua, amo poder sentar fora de casa para comer um lanche, ouvir uma boa música” Aghata Santos, 23, enfermeira Para Agatha, fazer esse tipo de coisa traz bem-estar e equilíbrio emocional. “Esqueço dos problemas e de toda a ansiedade que me acompanha no dia a dia.” Moradora do bairro Jardim Íris, distrito de Pirituba, na zona norte da cidade, Agatha lida com crises de ansiedade, que já tratou em terapia e que, hoje, surgem até nos momentos que antecedem as atividades de lazer. “Fico ansiosa a ponto de contar dias ou horas quando tenho um compromisso marcado há muito tempo”, revela. “Quando chega a data, já mando mensagens para todos os amigos para combinar o lugar [do encontro].” Ela costuma sair todas às sextas e aos sábados à noite. Às vezes, aos domingos. “Atualmente, minhas principais atividades são: ir ao cinema, parques, shows e barzinho. Amo viajar, mas infelizmente não é algo que eu possa fazer sempre.” Agatha costuma frequentar com os amigos estabelecimentos fora do bairro onde mora. “Até frequentamos alguns lugares por aqui, mas na maioria das vezes nos deslocamos para outros bairros. Freguesia do Ó, na região norte, é um dos preferidos”, expõe. Agatha diz ainda que chega a ficar chateada quando não consegue acompanhar alguma das programações da galera. OUTRAS OPÇÕES O estudo do Atlas da Juventude revela ainda que, além da terapia e da socialização com os amigos, os jovens apontam também atividades físicas e hobbies como práticas que ajudam no equilíbrio mental e emocional. Lucas da Costa, 26, é autônomo no segmento cultural e enxerga o esporte como algo fundamental para manter o equilíbrio tanto físico quanto emocional. Há 10 anos ele anda de skate. “Tem sido minha válvula de escape. Tanto em momentos muito felizes, quanto em momentos tristes, sempre volto para casa com uma sensação boa”, diz Lucas. “Quando fico sem andar de skate, sinto que algo está faltando” Lucas da Costa, 26, autônomo Recentemente, o morador do bairro da Vila Zatt, também em Pirituba, inseriu academia e basquete na rotina. “Vou à academia cinco vezes na semana, e jogo basquete e ando de skate três vezes por semana”, comenta. Embora não tenha a confirmação médica de qualquer transtorno mental, Lucas afirma que se sente ansioso para realizar as atividades que lhe trazem benefícios. “Quando pratico alguma dessas atividades me sinto leve e tenho mais organização. Também percebo que consigo pensar melhor”, avalia. LEIA TAMBÉM: Tão afiada quanto navalha: a poesia do Slam Marginália – Emerge Mag DE OLHO NOS BENEFÍCIOS O psicólogo Douglas Félix, 38, entende como essenciais todas as práticas citadas pelos jovens entrevistados pela Agência Mural para manter o