Juçara Marçal sai em turnê com aclamado “Delta Estácio Blues”

Com 30 anos de carreira, Juçara Marçal sai em turnê pelo Brasil para apresentar seu segundo álbum solo e lança clipe da música “Sem Cais”.
Luíza Fazio: lésbicas na frente e atrás das câmeras

Roteirista de “Sintonia”, Luíza Fazio escreve longa-metragem infantil sobre um amor lésbico e quer subverter normatividade que ronda o cinema Histórias de amor lésbico são documentadas há pelo menos 2,6 mil anos. No século 6 a.C., a poeta Safo já colocava como tema central de suas obras relacionamentos homossexuais entre mulheres. Inclusive, é por causa dela que usamos a palavra lésbica, que originalmente designa “alguém de Lesbos”, ilha grega em que a poeta vivia. Por que, então, é tão difícil vermos essas relações representadas na televisão, nos livros ou no cinema? Escritora de séries como “Sintonia” (Netflix), “Sentença” (Amazon Prime), “LOV3” (Amazon Prime) e “Cidade Invisível” (2ª temporada/Netflix), a roteirista Luíza Fazio tenta subverter essa normatividade que ronda as histórias que assistimos nas telas e lemos nas páginas dos livros. Em sua trajetória, a brasileira conta histórias de protagonistas diversos, sobretudo mulheres e pessoas LGBTQIAP+, com o objetivo de ampliar olhares e narrativas e mostrar contextos poucos vistos nas telas. Luiza diz que o lance é não imaginar personagens dentro de estereótipos, e sim humanizá-los dentro de suas diferenças. “Quando há personagens complexos, lidando com diferentes problemas, o público engaja e torce por eles. Humanizamos a experiência de alguém que existe na vida real” Recentemente, a roteirista foi nomeada pela embaixada dos Estados Unidos em Brasília para a residência artística The International Writing Program (IWP) da University of Iowa (EUA). Desde 1967, o programa reúne anualmente 35 escritores de todas as partes do mundo, incluindo os brasileiros Milton Hatoum e João Ubaldo Ribeiro. Além disso, ela escreve uma série de comédia para a Paris Entretenimento e, ao lado de Anahí Borges, seu primeiro longa-metragem de animação: uma adaptação para o cinema do livro “A Princesa e a Costureira” (2015), de Janaína Leslão, que conta a história de uma princesa que se apaixona pela costureira de seu vestido de noiva. Em entrevista à Emerge Mag, a roteirista Luíza Fazio conta como tem sido a experiência de integrar a residência artística mais antiga do mundo, fala sobre os seus novos projetos e comenta sobre diversidade na frente e atrás das câmeras. Confira abaixo a entrevista completa com a roteirista Luíza Fazio Falando dos seus projetos futuros… Vi que você está trabalhando em uma animação. Poderia me falar mais sobre isso? Essa animação é uma adaptação de um livro infantil da Janaína Leslão “A Princesa e a Costureira”, em que uma princesa se apaixona pela costureira do seu vestido de noiva. Eu e a Anahí Borges (corroteirista) estamos adaptando esse livro para um longa-metragem e é a minha primeira vez trabalhando com longa e animação. Eu decidi entrar nesse projeto porque sempre foi o meu sonho escrever um longa infantil, especialmente um musical, e a história e a temática me envolvem muito. Acho que pode ser algo muito bonito e que traz a perspectiva de um relacionamento lésbico atual para crianças de uma maneira muito natural e fofa, porque é assim que é. Você acredita que o cinema vem dando mais espaço a relacionamentos lésbicos? Como você enxerga as narrativas dessas personagens? Acredita que ainda são muito apagadas/fetichizadas? Acho que o cinema vem dando mais espaço para relacionamentos lésbicos, mas a narrativa ainda é muito sobre duas mulheres brancas e femininas. É uma estética de casamentos lésbicos que “vendem”. É muito difícil vermos um relacionamento entre duas mulheres butches, duas mulheres negras, ou gordas. São relacionamentos que têm dilemas e questões diferentes do que o casal lésbico padrão. Como agora as coisas estão se abrindo um pouco mais, dá para explorarmos outras narrativas. Uma tentativa interessante foi em Euphoria, onde temos a relação entre a Rue (Zendaya) e a Jules (Hunter Schafer), que é uma menina trans. O caminho que foi levado na segunda temporada foi horroroso mas, enquanto primeira temporada, tem questões muito interessantes da sexualidade da Jules em relação a Rue, que são outras complexidades. Em várias entrevistas suas, você comenta sobre a falta de diversidade por trás das câmeras. Como você acha que isso impacta na falta de diversidade em frente às câmeras? Acredita que uma coisa está diretamente relacionada à outra? Sim, com certeza. Eu falo muito da representatividade LGBTQIAP+ porque a gente sente na pele o “cadê eu”. E esse sentimento faz a gente criar um senso crítico do quão importante é colocar diferentes narrativas, vozes e pessoas em tela para mostrar que elas existem e são complexas. É uma forma de ajudar a visibilizar diferentes narrativas que não só a “hollywoodiana” do homem cisgênero, branco e hétero. Acho que quanto mais a gente consegue diversificar as pessoas que estão atrás das câmeras, mais esse assunto é tratado com naturalidade e sai de uma esfera “a gente precisa ter um personagem gay porque senão seremos cancelados na internet”. Sai da necessidade de ser apenas uma estratégia de marketing para ser algo que as pessoas realmente se importam. Como está sendo a experiência de ser uma das 35 escritoras escolhidas para viver a residência artística The International Writing Program nos Estados Unidos? Quais momentos têm sido mais marcantes para você? As trocas que estamos tendo aqui são muito intensas e incríveis, porque tem pessoas do mundo todo e de diferentes backgrounds. Cada um tem a sua forma de arte e de escrita específica. Uma pessoa que me marcou muito foi Tariro Ndoro, uma poeta do Zimbábue, que é um país que não recebemos muitas notícias aqui no Brasil por milhares de fatores. Ela conta muito sobre como é a realidade no Zimbábue diante de uma inflação que se assemelha muito à que o Brasil vivia nos anos 1980. Mas, ao mesmo tempo, é incrível como as pessoas conseguem colocar isso na sua arte. O Zimbábue tem uma cena literária muito efervescente, e vários aspectos disso nós não temos acesso com tanta facilidade na mídia brasileira. Isso me inspira muito a pensar em diferentes narrativas, pessoas e realidades. Você está conhecendo pessoas de todas as partes do mundo na residência artística. Como você sente essa troca cultural das percepções
Cia Pé no Mundo: criatividade negra na dança contemporânea

Com dez anos de existência, Cia Pé no Mundo apresenta em junho a videodança “Fora da Caixa – Repertórios Corporais”, que questiona a falta de representatividade negra em espaços de arte. Segundo uma pesquisa realizada pela Agência Nacional do Cinema (Ancine) em 2016, pessoas negras representam apenas 2,5% de diretores e roteiristas no Brasil. Um levantamento do projeto Negrestudo, disponível no site Projeto Afro e feito com 24 galerias de arte da cidade de São Paulo entre 2019 e 2020, constatou que somente 4,36% des artistas eram negres, sendo 0,8% mulheres negras. Enquanto isso, pessoas brancas representavam 93,56% do total. Embora essas pesquisas sejam mais recentes, em 2012 já havia pessoas se questionando sobre a falta de representatividade negra no cenário da arte. Há 10 anos, os diretores, coreógrafos e bailarinos Cláudia Nwabasili e Roges Doglas fundaram a Cia Pé no Mundo que, além de contestar o racismo presente na dança contemporânea, busca referenciais que se relacionem com a identificação ancestral do povo preto. Conforme consta no site oficial, o pensamento da Cia Pé no Mundo se relaciona “com a circularidade ou não circularidade dos corpos negros, suas condições e ações em outros lugares que não só no Brasil”. Para isso, parte de uma perspectiva das diásporas negras africanas, que fizeram com que a população preta passasse a estar “em todos os lugares do mundo, não sendo nem mais ‘só’ negros africanos e nem negros alienados quanto à sua ancestralidade em uma nova cultura e/ou território desafiador”. No entanto, nos estudos oficiais da história da arte ocidental, são pouquíssimos os registros e documentações que representem as pessoas negras. Um dos objetivos da companhia é, assim, desenvolver pesquisas não só em dança, mas também em outros campos, como literatura, história, sociologia e comunicação, para “contribuir com a desmistificação de manifestações culturais brasileiras e afro-brasileiras, valorizando-as como elementos possíveis para a concepção da arte contemporânea, e despertar no público o interesse e a necessidade de reconhecer narrativas históricas das diferentes vivências e corpos negros”. “Por meio da linguagem da dança, queremos materializar contemporaneidades e tornar possíveis novos imaginários sobre passados, presentes e futuros negros na dança e no mundo”, explicam os dançarinos Espetáculo marca 10 anos da Cia Pé no Mundo E para comemorar uma década de existência e resistência, a Cia Pé no Mundo apresenta no mês de junho a videodança “Fora da Caixa – Repertórios Corporais”. Revisitando pensares, coreografias e mirando novos horizontes, Nwabasili e Doglas trazem intervenções guiadas pelas nuances visuais, arquitetônicas e cenográficas de onde são propostas. Além disso, reafirmam a pesquisa de linguagem e desenham novos traços, a fim de ampliar os discursos e possibilidades. “Enquanto pessoas pretas, possuímos diversos referenciais que se conectam com a nossa origem ancestral. Essas referências podem e devem ser ferramentas de materialização e corporificação dos nossos fazeres. Ainda precisamos falar sobre isso. E essa necessidade de fala só revela o quanto o racismo persiste na sociedade. A arte não está isenta dessa problemática. Ela é apenas um reflexo disso tudo”, afirmam E o nome escolhido para o espetáculo, “Fora da Caixa”, não poderia ser mais proposital. Segundo os artistas, a intenção é questionar o que é o “clássico” e, mais ainda, como foi construído o imaginário de “clássico” no Brasil, e se é possível “furar a bolha” e estar “fora da caixa” “A intervenção “FORA DA CAIXA” é sobre estar fora da caixa preta, fora dos palcos e ocupando diversos espaços, mas é, sobretudo, fora da caixa no sentido de romper com estereótipos que nos colocam em alguns lugares e nos retiram de tantos outros. Para nós, a grande reflexão deste trabalho é: Qual será o clássico brasileiro no futuro?”. As exibições começaram no dia 14 de maio e seguem até 21 de junho, entre onlines e presenciais (veja a programação abaixo). Inovador, o espetáculo traz coreografias diferentes dependendo do espaço onde acontece, já que os artistas selecionam as danças que mais dialogam com o local. Assim, o corpo interfere no espaço, enquanto o espaço interfere no corpo para a recriação. Não é necessário fazer a retirada de ingressos; basta chegar com antecedência ao local. Confira a programação completa Dia 10/6, sexta (presencial e online), às 19h – Centro de Referência da Dança (CRD) e Youtube do CRD – São Paulo Dia 11/6, sábado (presencial e online), às 19h – CRD e Youtube do CRD – São Paulo Dia 11/06, sábado – Oficina online CRD das 10h às 13h Dia 21/06 terça-feira, (exibição presencial), às 19h30 – Oficina Cultural Oswald de Andrade FOTOGRAFIA: Clarissa Lambert Reportagem produzida em parceria com a assessoria de comunicação Bianco.
Brisa Flow traz amor entre pessoas originárias para as telas

“Making Love”, lançamento de Brisa Flow, tem como tema principal o afeto entre origináries que, infelizmente, não está presente no audiovisual Desde o lançamento de seu álbum de estreia, “Newen”, em 2016, Brisa de la Cordillera, também conhecida como a artista mapurbe Brisa Flow, constrói sons e imagens a partir da vivência de seu corpo no mundo, criando caminhos que desprendem das amarras da colonialidade. Criada em Minas Gerais, Brisa é pesquisadora, defensora da música indígena e ativista dos direitos dos povos originários. Em suas canções, ela pauta discussões políticas como a luta pelo território, demarcação de terras, moradia, mulheres indígenas e periféricas, maternidade, mercado de trabalho e corpos marginalizados, como a comunidade LGBTQIAP+. No último dia 13, a cantora lançou “Making Luv”, single que precede seu terceiro álbum, “Janequeo“, que estará disponível ao público em junho de 2022. Em um período em que pessoas indígenas aparecem constantemente na imprensa apenas em situações de violência, Brisa traz como tema o afeto entre pessoas originárias. A artista conta que a canção surgiu quando o beatmaker e MC Tidus, natural de Las Vegas, a encontrou na internet e falou que queria produzir uma música com ela. Assim que Brisa recebeu o instrumental, já ficou “empolgada” e sentiu que queria fazer uma música e gravar um clipe com origináries protagonizando afeto já que, infelizmente, isso não está presente no audiovisual. Ela complementa: “Esse é um reflexo do colonialismo que não nos quer felizes. Ainda vivemos em Abya Yala, com o genocídio dos povos originários, que nos mata para garimpar e vender terras e destrói culturas, línguas e conhecimentos nativos. Diante dessa violência, a prática do afeto entre pessoas indígenas torna-se um ato político. Making Luv’ é sobre amor em seus mais íntimos significados, de companheirismo a coragem” Em parceria com o coletivo Mi Mawai, o audiovisual foi gravado na Mata Atlântica e ilustra o entrelaçar dos corpos pelas tranças e o movimentar dos mesmos com a Terra e as águas, como práticas de amor não coloniais. A construção da obra aconteceu de forma horizontal e coletiva e a harmonia da vivência se reflete no resultado. Brisa conta: “Eu já tinha trabalhado antes com o Mi Mawai, o coletivo é aliado dos artistas originários. Eu fiz a trilha sonora de um documentário que eles realizaram sobre o direito autoral na música indígena”. O clipe também tem a participação do artista audiovisual e beatmaker Ian Wapichana. Uma curiosidade interessante é que, apesar de “Making Luv” ser uma música sobre amor, o relacionamento entre Brisa e Ian só começou após a gravação do som. “O que muita gente não sabe é que eu e o Ian não éramos namorados nessa época. Nós nos conhecíamos como companheiros de trabalho no MECAInhotim, mas começamos a nos relacionar depois desse videoclipe”, afirma a artista. Assista ao clipe de “Making Luv” Leve como o vento Brisa de la Cordillera recebeu esse nome de seus pais, artesãos caminantes. A cantora, licenciada em Música pela Fiam Faam, pesquisa e defende a arte dos povos originários e o rap como ferramentas necessárias para combater o epistemicídio, que é o processo de invisibilização e ocultação das contribuições culturais e sociais não assimiladas pelo “saber” ocidental. Newen, seu álbum de estreia, foi lançado em 2016 e significa “força”, em Mapuzgundun (língua nativa do povo Mapuche). A obra musical esteve entre os 20 melhores discos do ano selecionados pelo jornal Estadão. Em 2017, ela foi a artista aposta da Folha de São Paulo e recebeu o prêmio “Olga Mulheres Inspiradoras”. Seu segundo disco, Selvagem Como o Vento, foi lançado em 2018 no Instituto Tomie Ohtake e destacou-se em listas de 50 melhores discos da música brasileira nos sites da Red Bull, Genius e outros canais de música. Em 2020, lançou de forma experimental o EP Free Abya Yala, um trabalho de improvisação jazzrap. O título significa “América Livre” ou “Terra Fértil Livre”, sendo Abya Yala (no idioma do povo Kuna) o nome que vem sendo utilizado por artistas indígenas para referir-se ao continente americano. As músicas foram produzidas em colaboração com um quarteto de jazz e inspiradas nas pesquisas de Brisa Flow sobre freestyle e música originária. O EP foi premiado e recebeu elogios pela crítica musical como um trabalho anti colonial experimental. FOTOGRAFIA: Jon Thomaz Reportagem produzida em parceria com a assessoria de comunicação ALETS COMUNICAÇÃO.
“Bença”: Mulamba retorna com nova música, afeto e Luedji Luna

Música “Bença” abre portas para novo momento da Mulamba, que quer mostrar que cuidar do corpo e da mente também faz parte da luta Mudança de ares. Leveza. Brincar de esperança. Sob uma nova toada, a banda Mulamba lança, com participação especial da cantora baiana Luedji Luna, o novo single “Bença”. Diferente das músicas focadas em violência contra a mulher e combate ao machismo, o grupo, formado há sete anos por Amanda Pacífico, Cacau de Sá, Érica Silva, Fer Koppe, Naíra Debértolis e Caro Pisco, quer abrir portas para um novo momento da banda. Elas explicam: “Bença abre portas para esse novo momento da Mulamba. O grito dá lugar às sutilezas, ao olhar pra dentro. Continuamos falando de nossas inquietações, mas também da importância do respiro, do afeto e do intangível” Segundo Amanda, que é compositora e intérprete da canção, a letra foi escrita há anos e estava guardada na gaveta, esperando pelo disco de inéditas do grupo, que será lançado pela PWR Records. A música fala, de forma sensível, de uma realidade triste e comum nas ruas brasileiras: as crianças que precisam trabalhar no farol para complementar o sustento em casa. “O olhar de um menino vendendo bala no sinal, sozinho com sua irmã, sem a proteção de sua mãe por perto, me paralisou e veio toda essa canção. Seu semblante estampava a esperança e ao mesmo tempo a dura realidade da infância perdida em meio aos carros, na luta contra a fome”, diz Amanda. Ela conta, ainda, que o feat com Luedji Luna era um “desejo antigo”, devido à admiração que a Mulamba tem pela baiana e por tudo que ela representa. “Ter ela (Luedji) em ‘Bença’ foi um presente, trouxe a força que a música merece e transformou a bença em uma oração”, afirma. Assista ao clipe de “Bença”, nova música da Mulamba Mulamba quer trazer músicas de amor e afetividade Com produção musical de Érica Silva e Leo Gumiero, “Bença” desfruta de uma suave percussão em seu arranjo, que combinada a um violão de levada pop, transforma a faixa numa canção de ares delicados. Ao lado de Luedji Luna, a banda transforma a música em um abraço sonoro, oferecendo também ao público uma nova estética melódica do grupo. Tudo isso, por si só, imprime uma novidade na identidade musical da Mulamba, que anos atrás ficou conhecida por suas canções mais densas e enérgicas, graças ao impacto causado pelo elogiado debut Mulamba (2018). Érica Silva, produtora musical e integrante da banda, explica: “Queremos mostrar uma outra Mulamba. Além das palavras manifesto, sentimos a necessidade de mostrar que cuidar do corpo e da mente também faz parte da luta. Queremos contar histórias, falar de amor, de afetividade e também de perdas. As músicas desse álbum descrevem os novos ares repletos de swing, brasilidade, textura, letras e melodias intensas” FOTOGRAFIA: Fábio Setti & Tamara dos Santos
A ausência gritante de protagonistas gordas no cinema

Confira seleção de filmes com pessoas gordas protagonistas, que vivem suas jornadas sem que seus corpos sejam a grande questão da história.
Baile da DJ $ophia: feito por uma mina e para a quebrada

Organizado pela jovem de 21 anos Sophia Lima, o Baile da DJ $ophia, foca nas mulheres e na periferia e chega a sua segunda edição Um rolê acessível e feito para todes: essa é a proposta do Baile da DJ $ophia, que chegou a sua segunda edição na última sexta-feira (15) na cidade de São Paulo. A festa, que já recebeu nomes como MC Luanna, Tasha&Tracie e Souto MC, leva o nome da jovem de 21 anos Sophia Lima, que vem estourando na arte dos toca-discos no Brasil. Talento precoce, Sophia teve seu primeiro contato com o hip hop dentro da própria família, por meio do irmão, tia e tio, que escutavam rap. O interesse, porém, despertou realmente quando viu o show da cantora Flora Matos, em 2013. Foi aí que Sophia começou a frequentar shows em casas de cultura, que a instigaram a querer fazer parte do movimento do hip hop. “Entendi a importância de estar ali pelos nossos. O rap salva vidas”, diz em entrevista à Emerge Mag. Nos seis anos de trajetória na música, Sophia conquistou parcerias e realizações, e tocou ao lado de grandes artistas, como Jazzy Jeff no canal “Boiler Room”, o maior canal de DJs do mundo, de origem inglesa. Além das apresentações solo, Sophia é beatmaker e DJ de Karol Conká, Mc Soffia e Souto MC, e já apresentou seus sets autorais em grandes festivais de rap do Brasil, como Cena e Rep Festival. Em 2020, foi a única DJ do palco principal do Festival Cena 202K. Em fevereiro, a jovem organizou pela primeira vez um festival sozinha, e firmou ainda mais o seu nome na cena da discotecagem. Sucesso desde a primeira edição, o Baile da DJ $ophia foi a realização de um sonho da artista: uma cena feita por uma mina para a quebrada. Ela conta: “O Baile da DJ $ophia chega para quebrar barreiras por ser um evento de uma mina preta nova da cena do hip hop, e que ao mesmo tempo está no rap, mas se conectando à galera do trap funk. A nossa meta é que ele aconteça mensalmente, sempre trazendo atrações com as quais eu me identifico, assim como atrações do rap e do funk, que também geram identificação do público” Rolê acessível para a quebrada Uma crítica que vem ganhando força sobre os eventos de rap e funk no Brasil é, justamente, a falta de acessibilidade para a quebrada – seja em relação ao local ou ao preço. Enquanto artistas cantam letras cheias de denúncias sobre a realidade nas comunidades e os problemas sociais vividos pelo povo periférico e preto, no público há majoritariamente pessoas brancas e de classes sociais elevadas. Atualmente moradora do centro de São Paulo, Sophia passou boa parte da vida no Capão Redondo, onde morava com a avó. A trajetória forjou o entendimento sobre a necessidade de fazer um rolê de fácil acesso ao público geral, e não apenas para as pessoas que moram na região central da cidade. Além de aproximar o baile da periferia, a artista também fomenta a presença das “minas e as monas” para fortalecer a cena independente. Ela diz: “Quero sempre trazer novas MCs e DJs, artistas já consagrados e, principalmente, fortalecer a cena independente. Trazer os caras, as minas e as monas também. O rolê será feito por todes” Com mulheres na linha de frente, ela espera que a festa também amplie as vozes femininas dentro do rap e hip hop, muitas vezes ofuscadas pelo machismo enraizado na cultura brasileira. De acordo com edição 2020 do relatório Por Elas Que Fazem a Música, desenvolvido pela União Brasileira de Compositores, entre os 100 maiores arrecadadores de direitos autorais no país, apenas dez são mulheres. Em 2019, elas receberam somente 9% do total distribuído em direitos autorais. Além disso, dos mais de 33 mil associados da UBC, apenas 15% são mulheres. “Há uma inovação crescente no cenário, com mais mulheres em line ups e festivais. Porém, é uma caminhada longa. Sinto que o Baile ajuda a quebrar barreiras devido ter protagonismo feminino, com mulheres na linha de frente, o que proporcionar uma experiência fluida e natural para o público”, diz Sophia. FOTOGRAFIA: Caio Versolato Reportagem produzida em parceria com Griot, assessoria de comunicação antirracista especializada em contar histórias de artistas, eventos, projetos culturais e criadores de conteúdo para a mídia e na internet.
Emerge encerra campanha de financiamento coletivo

Financiamento coletivo pontual captou R$ 2.360 de 36 apoiadores. Valor foi gasto em despesas contábeis do primeiro trimestre de 2022.
Transversais subverte censura e estreia nos cinemas

Filme TRANSVERSAIS, censurado pelo governo Bolsonaro, será exibido nos cinemas a partir de 17 de fevereiro e traz depoimentos de quatro pessoas trans, além da mãe de uma adolescente TRANSVERSAIS, o primeiro longa do jornalista e cineasta Émerson Maranhão, subverte a tentativa de censura do governo Jair Bolsonaro e será exibido nos cinemas a partir do dia 17 de fevereiro. Inicialmente, havia sido anunciado que o filme seria “abortado” do edital da Ancine em que era finalista, por “não ter cabimento uma produção com este tema”. Produzido por Allan Deberton (“Pacarrete”), o documentário apresenta os depoimentos de quatro pessoas trans que resgatam suas histórias, seus processos de autodescoberta e de trânsitos e jornadas, além do relato de uma mulher cisgênera, mãe de uma adolescente trans. O longa fez parte da seção Programa Queer.doc do 29º Festival Mix Brasil, e também esteve em outros eventos brasileiros, como a 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, e o Cine Ceará. Os protagonistas da produção são Samilla Marques, uma funcionária pública; Érikah Alcântara, uma professora; Caio José, um enfermeiro; e o acadêmico Kaio Lemos. Elus passaram por um delicado processo de auto aceitação até compreenderem a sua subjetividade. Já a jornalista Mara Beatriz, mulher cisgênero, enfrentou a transfobia de perto e refez sua vida ao tomar conhecimento que era mãe de uma adolescente transgênero. Hoje, é uma das mais ativas militantes do grupo Mães pela Diversidade no Ceará. Desconstrução e diálogo com a sociedade Kaio Lemos, que participa do longa, aponta os retrocessos que a população LGBTQIAP+ vem sofrendo desde 2018, quando o governo fascista de Bolsonaro chegou ao poder. “Nós estamos vivendo uma pandemia de Covid-19, mas também vivemos uma pandemia de discursos de ódio, de violência e de morte. É um cenário de pavor. E a população trans é uma das mais atacadas, numa violência legitimada por esse desgoverno atual”, afirma. Para ele, a importância de TRANSVERSAIS é a potência de desconstrução e de estabelecer um diálogo com a sociedade e, dessa forma, combater essa violência que não é só discursiva, mas também de ações. “Ao mostrar a nossa realidade, o filme se torna uma eficaz ferramenta de combate ao patriarcado, ao machismo e ao falocentrismo tão vigentes”, completa. Érikah Alcântara chama a atenção para a oportunidade de dar visibilidade a pessoas trans dentro de diversos contextos, para além da segregação social imposta, com que comumente são representades. Ela explica: O filme mostra que, diferentemente do que a sociedade costuma apontar, nós podemos ser o que quisermos, vivenciar rotinas familiares, rotinas de afeto, rotinas profissionais. Isso tudo de uma maneira muito natural. Já Samilla Marques Aires define TRANSVERSAIS como “um rompimento de paradigmas”. “É desconstruir padrões da nossa sociedade cisheteronormartiva, mostrando nossos corpos e nossas corpas de pessoas trans. Mais que um filme, TRANSVERSAIS para mim é um ato político no momento que a gente vive no País.” FOTOGRAFIA: Juno Braga e Linga Acacio Reportagem produzida com o apoio da Sinny Assessoria e Comunicação, especializada em cinema e cultura.
Festival Perifericu celebra cultura LGTQIA+ de quebrada em SP

Festival Perifericu acontece do dia 9 a 13 de fevereiro de forma presencial e online com shows, mostra de curtas-metragens, slam e rodas de conversa. Edição: Carolina Fortes Entre os dias 9 e 13 de fevereiro, as favelas da Zona Sul de São Paulo serão palco do Perifericu – Festival Internacional de Cinema e Cultura da Quebrada. Com intervenções itinerantes, como apresentações musicais, mostra de curtas-metragens e slam, o evento tem como objetivo valorizar as diversas manifestações e processos artísticos da população LGBTQIAP+ periférica. Rosa Caldeira, diretor e roteirista na produtora de audiovisual comunitário Maloka Filmes, que organiza o evento, lança o panorama: “Enquanto pessoas periféricas, trans, pretas e LGBs, estamos tentando mudar a estrutura de eventos de artes no Brasil: queremos transformar desde o topo, alterando as pessoas que tomam decisões, quem trabalha no evento, quais são as corporeidades, as artes e os pensamentos valorizados ou não.” Para o cineasta Well Amorim, um dos realizadores do festival, a ideia é dar protagonismo às corpas trans e negres dentro de um universo extremamente branco, hétero, cis e elitista e, por isso, pouco seguro e receptivo. “Criar um festival é também fazer com que existam espaços seguros para celebração da nossa arte, com os nossos, gente preta, TLGB+, maloqueires. Na quebrada, que é o nosso centro”, afirma. Nay Mendl, cineasta e um dos idealizadores do evento, diz que o desafio não é só o de produzir filmes nas maiores adversidades, mas também fomentar espaços para que as obras cheguem nas pessoas de quebrada. “Queremos que elas tenham um espaço para debater e refletir sobre arte e que as outras formas de cultura de quebrada consigam existir nos espaços cinematográficos”, explica. Confira a programação do Festival Perifericu Além de acontecer de forma presencial, o evento também será transmitido online por meio da plataforma Todesplay, que irá veicular os filmes de 9 a 15 de fevereiro. Aqueles que optarem por ir até os locais devem apresentar a carteira de vacinação com as duas doses completas contra a Covid-19 e utilizar máscaras PFF2 ou N95. A programação contará com mesas de debates, sessão de curtas e uma minifesta de Ballroom. O show de encerramento ficará por conta de BadSista e das Irmãs de Pau, que também apresentarão os vencedores. SERVIÇO Festival Perifericu – Festival Internacional de Cinema e Cultura da Quebrada. Data: 9 a 13 de fevereiro Local: Associação Bloco do Beco, Espaço Reggae e Casa de Cultura M’Boi Mirim Confira a programação completa em: https://www.instagram.com/festivalperifericu/ FOTOGRAFIA: Griot Assessoria Reportagem produzida pela Griot, assessoria de comunicação antirracista especializada em contar histórias de artistas, eventos, projetos culturais e criadores de conteúdo para a mídia e na internet.