Um casal diferente e fora do padrão. É assim que Emerson Brandão, 38 anos, e Francisco Santinho, 48, costumam se apresentar. O primeiro é nascido na periferia de São Paulo, foi professor de história antes de se tornar estilista e veste GG. O segundo cresceu em Lins, no interior, é graduado em comunicação, trabalha como designer de produto e veste P. Ambos, porém, dividem um guarda-roupa e revezam as mesmas peças de roupa, que adequam com conforto mesmo eles possuindo corpos de tamanho diferentes. Ué, qual é a mágica?
Emerson e Francisco são os fundadores da CëJuntos, marca de moda paulistana que desenvolve roupas de tamanho único, agênero e atemporal. As peças são feitas com tecidos planos e inspiração na alfaiataria ocidental (veja na galeria abaixo). Há calças que remetem a conjuntos de ternos, com ajustes tanto por elástico quanto por amarração; longos chemises com fenda nas costas, para não apertar o peito e a barriga; e kaftans de viscose leve, bem soltinhos. Emerson, que aparece na foto que abre esta matéria, fala sobre a fundação da marca:
Fundada em 2016, no bairro do Brás, o negócio criativo começou bem familiar. O casal desenvolvia as modelagens, garimpava sobras de tecidos e levava tudo para Dona Laura, costureira de longa data – e mãe de Emerson. A formalização do negócio foi feita antes do casamento de “papel passado”, concretizado em 2018.
De lá para cá, a empresa cresceu. Os dois fundadores contam com quatro parceiras: Roberta e Magali, responsáveis pelas modelagens, corte e costura; as costureiras Irene e Marilene; e a vendedora Priscila, que toma conta da loja da CëJuntos, instalada na Avenida Vieira de Carvalho, reduto tradicional da comunidade LGBTQIA+ de São Paulo – #vrúuu (som de leque abrindo).
As peças da CëJuntos também podem ser adquiridas na loja online e em feiras de produtos criativos, que acontecem na metrópole paulistana e em outras capitais, como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília e Porto Alegre.
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EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA PARA ALAVANCAR NEGÓCIOS CRIATIVOS
Negócios de moda democrática, agênero, para todos os corpos e com preocupação genuína em sustentabilidade socioambiental têm ganhado força no mercado criativo de São Paulo. Dentro desse cenário em ebulição está a Dume, agência de consultoria, mentoria e educação empreendedora para negócios criativos.
A Dume se vale da educação para descomplicar conceitos e boas práticas de gestão para alavancar micro, pequenos e médios negócios de moda. Na prática, o trabalho da agência começa com a compreensão das dores dos empreendedores. A partir daí, via cocriação, são desenvolvidas estratégias e táticas para transformar as iniciativas criativas em organizações sustentáveis, com maior potencial de geração de receita e impacto socioambiental.
Fundada em 2017, a Dume é uma criação de Dani Gabriel, 46 anos. Graduada em comunicação social, com especialização em gestão de design de moda e gerência de produto, Dani atua há mais de 20 anos na indústria de vestuário. Ela também é professora nas disciplinas de Negócios e Empreendedorismo e Estratégias e Marketing de Moda na Faculdade Santa Marcelina.
Entre os clientes da Dume estão empresas de varejo, confecção e indústrias de aviamentos. A agência também já realizou palestras e mentorias no Instituto Rede Mulher Empreendedora e na Empregueafro, consultoria em recursos humanos e diversidade étnico-racial.
Um dos meus projetos do coração da Dani é o desenvolvimento com a Fundamental Produções, Grupo Opni e Favela Galeria, coletivos de artistas visuais que ressignificam a paisagem periférica por meio do grafiti (e já perfilados pela Emerge Mag). A consultora tem ajudado os artistas a estruturar um modelo de negócio.
O que tornaria a mercado de moda mais justo, democrático e sustentável, Dani?
“O mercado de moda é cheio de bolhas dentro de bolhas. Há muitas desculpas quando se fala sobre profissionais negros. É urgente contemplá-los, e o que fazem na cadeia de moda. Chega de ver as mesmas pessoas”
DANI GABRIEL, FUNDADORA DA DUME
FOTOGRAFIAS: Rafael Felix
BELEZA E MAQUIAGEM: Kali Beauty
Emerge Potências da Moda
Criação da Emerge Estúdio, unidade de pesquisa, conteúdo e inteligência de negócios da Emerge, Emerge Potências da Moda é uma profunda investigação de negócios emergentes de moda da cidade de São Paulo, com foco em lideranças de periferias, LGBTQIA+, negros, mulheres, indígenas urbanos e pessoas com deficiência. Além da série de reportagens, integram o projeto pesquisas quantitativa e qualitativa, debates interativos (lives) e relatório micro setorial de economia criativa.
Emerge Potências da Moda foi contemplado na chamada aberta RE-FARM CRIA, uma iniciativa do Instituto Precisa Ser + Farm. Por meio de patrocínio, o programa apoia o desenvolvimento de projetos e ações de coletivos, organizações sem fins lucrativos e pessoas físicas em capitais do Brasil e territórios periféricos do Rio de Janeiro.
O projeto conta com apoio da indústria de aviamentos Ludan Franjas, da produtora de vídeos e fotografias In.Par e du maquiadore Kali Beauty.