A população carcerária do Brasil é a terceira maior do mundo. O país possui mais de 850 mil pessoas encarceradas. Dessas, cerca de 70% são negras, de acordo com Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2024.
Não há dados robustos sobre pessoas LGBTQIA+. Porém, de acordo com o Relatório de Presos LGBTI, em 2022, havia 12.356 pessoas autodeclaradas. O número baixo se dá, principalmente, porque a autodeclaração envolve uma série de riscos, num ambienta já extremamente insalubre. Apenas 20% das unidades prisionais brasileiras têm celas ou alas para as pessoas LGBTQIA+. Quem não está em locais protegidos, vive ainda mais vulnerável às violências física, sexual e psicológica.
Na interseccionalidade entre direitos LGBTQIA+ e sistema prisional, o coletivo Cia dxs Terroristas lançou o espetáculo Tudo Gente, um áudio tour cênico que oferece uma experiência imersiva e sensorial no Parque da Juventude. O local é o mesmo que abrigava a Casa de Detenção de São Paulo, conhecida como Carandiru, onde aconteceu um massacre de 111 presos em 1992. A penitenciária foi desativada e demolida a partir de 2002.
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O áudio tour cênico é narrado por Maurício Monteiro, sobrevivente do massacre, que relata como funcionava a rotina do presídio. Para criar a atmosfera de imersão, o público recebe fones de ouvido e, cada um, carrega uma pedra contendo o nome de uma das 111 vítimas do massacre.
De acordo com Murilo Gaules, diretor do espetáculo e integrante do coletivo, a proposta do áudio tour é conhecer as histórias das pessoas que passaram pelo Carandiru por meio de uma revisão da geografia do local.
O espetáculo termina com o próprio Maurício Monteiro, fisicamente, se apresentando para o público. Hoje, 32 anos depois do massacre, Maurício é diretor do Instituto Resgata Cidadão, que promove ações de educação, cultura e esportes, com núcleo dedicado à preservação, pesquisa e difusão da memória de egressos do sistema prisional. Ele também é graduado em educação física e gestão ambiental, além de ser instrutor de boxe.
“A proposta é uma visita histórica e convite para refletir sobre como preservar a memória do local e evitar que novos massacres em presídios aconteçam no Brasil”
Murilo Gaules, do coletivo Cia dxs Terroristas
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PELO FIM DO ENCARCERAMENTO
O coletivo CiA dXs TeRrOrIsTaS defende o fim do sistema carcerário. Seus espetáculos misturam teatro, performance e conteúdos multimídia. O coletivo foi fundado em 2015, na zona norte de São Paulo, região com o maior número de instituições da Polícia Militar da cidade, como a Academia Militar do Barro Branco e o Comando de Operações Especiais.
As produções do coletivo costumam ter abordagem crítica à violência, estruturas sociais e exclusão socioeconômica. Em seu repertório, consta Anjos de Cara Suja: o Sol é, ou deveria ser, para todas (2023); Cidade de Gis (2018); ? (2017) e Ditadura Gay (2016).
Por sua vez, o coletivo Memórias do Carandiru tem como missão preservar e narrar as histórias da antiga Casa de Detenção de São Paulo. A organização promove discussões sobre o encarceramento em massa, justiça social, direitos humanos e o impacto do sistema prisional no Brasil. Criado por egressos, familiares de vítimas, ativistas e artistas, realiza exposições, eventos e bate-papos.
SERVIÇO
Tudo Gente
Audiotour Cênico
Quartas e sábados, às 14h e 16h
Até 9 de novembro (exceto 9 e 12 de outubro)
Parque da Juventude. Av. Cruzeiro do Sul, 2630 – Carandiru, São Paulo.
Gratuito. Reserva de ingressos aqui.
Fotos: Willian Marques