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Casa Fúria acolhe pessoas LGBTQIA+ sobreviventes do cárcere

21/06/2022

Pintura de uma mulher andando e "rasgando" uma parede cinza. Onde ela rasga vai aparecendo um campo verde com céu azul. Ela usa saia, blusa curta e tem cabelos curtos

Inaugurada em 11 de junho, Casa Fúria oferece atividades culturais e formativas, além de discutir o abolicionismo penal e as vulnerabilidades de pessoas LGBTQIA+ nas prisões.

Inaugurada em 11 de junho, Casa Fúria oferece atividades culturais e formativas, além de discutir o abolicionismo penal e as vulnerabilidades de pessoas LGBTQIA+ nas prisões.

No Dicionário Online de Português, o significado da palavra fúria consta como “grande exaltação colérica, ira, raiva”, mas também como “ímpeto de valentia, entusiasmo, poética e inspiração”. Para es moradores e frequentadores da Rua Paranhos Pederneiras, 286, Zona Norte de São Paulo, desde o dia 11 de junho, o vocábulo fúria ganhou mais dois sinônimos: acolhimento e pertencimento.

Mulher de costas com uma das mãos para cima em cima de um palco. Usa um vestido longo e sapatos de salto vermelhos. No teto, estão presas bandeirinhas juninas
Inauguração da Casa Fúria aconteceu no dia 11 de junho. (Crédito: divulgação)

Há pouco mais de uma semana, foi inaugurada a Casa Fúria – sigla para Frente Unificada de Resistência Interseccional Abolicionista -, um centro cultural autônomo voltado para a população LGBTQIA+ sobrevivente do cárcere. O espaço foi contemplado através de um projeto inscrito pela Cia dxs Terroristas, coletivo que defende o fim do sistema prisional (saiba mais aqui), e pela 38ª edição da Lei de Fomento ao Teatro, da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.

Cofundador da Casa Fúria e da Cia dxs Terroristas, Murilo Gaulês explica que o espaço atende a um grupo de pessoas LGBTQIA+ – a maioria trans e racializadas -, que realizam atividades culturais e formativas para conseguir repertórios onde possam se expressar, falar de si, suas dores e potências, mas também criar autonomia e produção de renda.

Na Casa Fúria, são oferecidas aulas de interpretação de teatro, mixagem de som e de luz, cultura, dança, composição de rap para MCs, entre outras. Oito bolsistas ministram as oficinas, que vão culminar em um espetáculo onde elas serão as únicas atrizes e protagonistas, e falarão sobre a questão do cárcere e as especificidades que corpos dissidentes de gênero e sexualidade enfrentam quando vão para a prisão.

CASA FÚRICA: PERTENCIMENTO LONGE DAS INSTITUIÇÕES RACISTAS E TRANSFÓBICAS

Segundo a pesquisa “LGBT nas prisões do Brasil: Diagnóstico dos procedimentos institucionais e experiências de encarceramento”, realizada em 2020 pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, apenas 21% dos presídios contam com ala/cela destinada à custódia de pessoas LGBTQIA+. Em algumas regiões, sobretudo no Norte do Brasil, não existem espaços protetivos para essa população, o que implica não só no aumento da vulnerabilidade, como também na dificuldade de produção de dados.

De acordo com Murilo, pessoas dissidentes de gênero e sexualidade sofrem duplo cárcere. Não existem grupos dedicados aos cuidados dessa população nas prisões. Dentro de um ambiente dominado por facções, muitas são obrigadas a prestar serviços para outros internos para sobreviver com o mínimo de dignidade dentro do espaço. Ele complementa:

“As travestis ou os homens gays, quando vão para a prisão masculina, normalmente se submetem a fazer programas para conseguir itens básicos de higiene”

Fora das grades, a vida também não toma contornos fáceis. Quando deixam o cárcere, encontram uma série de dificuldades, como discriminação, falta de oportunidades de trabalho e respaldo financeiro. Por isso, um dos objetivos da Casa Fúria também é ser esse espaço de acolhimento longe das regras das instituições, em sua maioria racistas e transfóbicas. Murilo conta que inaugurar a casa é uma grande conquista, pois o espaço permite a criação de produções culturais e educativas, além de abrigar manas que estão de “saidinha”.

Atualmente, moram no espaço duas travestis, uma delas sobrevivente do sistema carcerário e que acabou de ser liberta de uma prisão transfóbica. Como a casa é autogestionada e cuidada pelo próprio coletivo, ainda é necessário autonomia financeira para que ela possa continuar existindo. Por isso, em breve será aberto um financiamento coletivo para arrecadar fundos. Acompanhe pela página no Instagram da Cia Dxs Terroristas. Murilo finaliza:

“É necessário ter um espaço institucional. Não é possível produzir autonomia sem território”

FOTOGRAFIA: Divulgação.

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