A batalha da “perfeição” e padrões impostos pelas redes sociais

24/06/2025

Como a perfeição imposta pelas redes sociais afeta jovens da geração Z, e por que a aceitação é o caminho para o bem-estar e a autenticidade.

Por trás do sorriso de Beatriz Castelano, 18 anos, existe uma história de luta silenciosa contra os padrões de beleza impostos pela sociedade digital.

Jovem, cheia de energia e dona de uma relação intensa com a arte, Beatriz sempre se destacou por sua paixão pelo movimento — é formada em dança e praticante de voleibol e handebol. Nascida e criada em São Paulo, ela vive com a mãe, a irmã mais velha e Antônio, seu cachorro. Também cursa graduação em jornalismo.

Como outras de sua geração, é jovem cresceu já conectada a internet. No entanto, o que poderia ser um ambiente de compartilhamentos se mostrou um espaço de competição. Nos últimos anos, a jovem viu a sua vitalidade ser tragada pelas sombras trazidas pela comparação constante nas redes sociais.

“A comparação com outras pessoas no Instagram, TikTok e Facebook me afetou profundamente. Desenvolvi questões psicológicas graves. Eu não conseguia mais me ver bonita.”

Beatriz Castelano. 

As palavras de Beatriz ecoam uma realidade vivida por 57% das mulheres da geração Z, segundo um levantamento feito pela empresa Lancôme com a Ipsos. Essas jovens acreditam ser impossível alcançar a imagem de mulher bem-sucedida projetada por influenciadoras famosas nas mídias sociais.

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A TIRANIA DA PERFEIÇÃO NAS REDES SOCIAIS

Grupo de garotas olhando seus celulares. Foto utilizada no texto para demonstrar os padrões impostos pelas redes sociais.
GERAÇÃO Z: imagem de mulher bem-sucedida, projetada por influenciadoras, gera frustração.

O problema não está apenas na exposição constante às vidas aparentemente perfeitas de influenciadores, mas também na forma como essas plataformas permitem a manipulação da realidade.

Aplicativos de edição de fotos transformam imagens em versões irreais, distorcidas e completamente desconectadas da autenticidade.

Os padrões estéticos reforçados por celebridades e influenciadores são, muitas vezes, inalcançáveis. Novelas, filmes, propagandas e outras formas de mídia também desempenham um papel fundamental na construção de ideais que moldam o comportamento das pessoas. 

Durante a pandemia, essa pressão se intensificou. Isolada, como tantos outros jovens, Beatriz encontrou nas redes sociais um refúgio, mas também um ambiente que alimentava sua insegurança. 

“O celular virou uma ferramenta de autocomparação e autossabotagem. Era como se cada foto que eu visse me lembrasse do quanto eu achava que não era boa o suficiente.”

Beatriz Castelano. 

Segundo levantamento do Datafolha, 89% dos jovens aumentaram o tempo gasto nas redes sociais durante a quarentena, o que intensificou os sentimentos de solidão e comparação social. 

Foi nesse período que Beatriz percebeu que precisava de uma pausa. Em um ato de autocuidado, decidiu deletar suas redes sociais por três meses, apagando fotos e contatos. “Foi a única forma de buscar paz”, conta. Esse afastamento permitiu que ela refletisse sobre como a busca pela validação virtual estava afetando sua saúde mental.

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A REALIDADE DISTORCIDA DAS INFLUÊNCIAS DIGITAIS

A influência de perfis perfeitos e vidas idealizadas não passava despercebida por Beatriz. Ela reconhecia como conteúdos aparentemente inofensivos, como as rotinas matinais de influenciadores ou corpos esculturais exibidos após a maternidade, geravam sentimentos de inadequação. 

“Várias vezes já senti inveja de blogueiras conquistando aquilo que eu queria”, confessa a jovem.

Ela explica que não era uma inveja maliciosa, mas uma sensação de frustração ao perceber que a realidade mostrada por essas pessoas parecia tão distante da sua. Como exemplo, menciona as influenciadoras Manuela Cit, que acorda às 4h da manhã para correr, e Virginia Fonseca, que exibe seu corpo perfeito após ter filhos.

Beatriz também destaca a necessidade de estar constantemente atualizada. “Existe a pressão de estar por dentro de tudo para opinar”, diz ela. “É como se você precisasse estar sempre ligado, sempre pronta para interagir sobre o que está acontecendo.”

Essa dinâmica contribui para um ciclo de superficialidade, onde as reflexões profundas são substituídas por respostas rápidas e comentários instantâneos. Essa cultura do imediato também impacta a autoestima, já que cada opinião ou postagem é analisada, julgada e comparada.

Segundo o Panorama de Saúde Mental de 2024 realizado pelo Instituto Cactus, em parceria com a AtlasIntel, 45% dos casos de ansiedade em jovens de 15 a 29 anos estão relacionados ao uso intensivo das redes sociais.  

A RECONSTRUÇÃO DA AUTOESTIMA

A jornada de Beatriz para reconstruir sua autoestima começou na terapia. Foi nesse espaço seguro que ela encontrou ferramentas para lidar com suas inseguranças. “A terapia me ajudou muito”, afirma, com um sorriso no rosto. Ali, ela aprendeu a diferenciar sua própria autenticidade das expectativas impostas pela sociedade. 

“Entendi que posso me vestir e me maquiar como quiser, que não preciso me encaixar em rótulos ultrapassados”, afirma Beatriz. 

Beatriz destaca a importância do autoconhecimento. “Antes de entrar nesse mundo digital, é fundamental que você se conheça, entenda seus limites e ame a si mesma como é.” 

Após meses de reflexão e trabalho interno, Beatriz finalmente encontrou paz consigo mesma. “Não há mais rótulos ou padrões estéticos que me derrubem. Hoje, eu me sinto bem do jeito que sou, e isso já é mais do que suficiente.”

Suas palavras não são apenas um testemunho de superação, mas também um convite para que outros jovens façam o mesmo. A perfeição pode ser uma ilusão, mas a aceitação de si mesmo é uma conquista real e poderosa. Beatriz conclui:

“Minha beleza é única, e a única pessoa que precisa me amar sou eu mesma.”

Beatriz Castelano. 

REVISÃO: João Ricardo Dias.
FOTO DE ABERTURA: Free Pik.

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Revista digital de cultura, direitos humanos e economia criativa interseccional e consultoria de diversidade e impacto social (ESG).

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