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Com becos e vielas, games retratam a periferia para divertir e educar

01/11/2024

Criada pelo fundador do site Catraca Livre, Salve Games oferece jogos no Fortnite que unem estética da periferia, música e educação.

Você é um fã de trap. A sua missão: driblar uma empresa de segurança que impôs toque de recolher em São Paulo para curtir shows de seus cantores favoritos. Para dificultar o lance, há uma horda de zumbis que deseja te devorar. Na jornada por sobrevivência e diversão, você vai passar pelas periferias da cidade, entre elas Brasilândia e Pirituba, e pontos turísticos, como Masp, Copan e Ponte Estaiada.

Gostou da história? Assim é Sonho TrapStar, jogo eletrônico que combina estéticas das quebradas paulistanas e música numa narrativa futurista distópica. O projeto utiliza da estrutura Fortnite, game com mais de 220 milhões de jogadores mensais.

Lançado em abril, Sonho Trapstar é uma criação da Salve Games. A produtora paulistana é especializada em criar jogos inspirados na cultura de periferia e hip-hop. Os projetos da empresa conectam juventudes de grupos minorizados a temas sociais e históricos do Brasil. Nesse sentido, o entretenimento tecnológico se torna uma ferramenta lúdica de educação.

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Em pouco mais de um ano de atuação, a Salve Games desenvolveu quatro jogos. Um dos próximos lançamentos será Brasil Fusion. Ambientado em favelas brasileiras, o jogo é Battle Royale, formato em que múltiplos jogadores competem entre si numa narrativa de exploração, sobrevivência e procura de equipamentos e de armas.

De acordo com Alexandre de Maio, fundador da Salve Games, Brasil Fusion tem o objetivo de ser o primeiro eSport brasileiro, com skins (avatares) que apresentem estilos típicos de jovens de favelas.

Outro título na gaveta é Music Drive. O jogo 3D tem estilo retrô e semelhanças com clássico Grand Theft Auto (GTA). O jogador controla a dupla Tina e Tunner em missões de carro e tiroteio. O game foi desenvolvido como uma plataforma para alavancar músicas de novos artistas, que se revezarão na trilha sonora.

Aqui cabe um detalhe: a Salve Games compartilha sua sede com uma produtora musical. A relação com outras empresas também se dá comercialmente. Marcas podem explorar o universo dos jogos para estabelecer conexões com os seus público-alvo.

“Nossos jogos têm personagens e cenários que representam as periferias e o hip-hop nacional. É uma forma de incentivar o público a jogar produções brasileiras.”

Alexandre de Maio, fundador da Salve Games

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IMERSÃO NO QUILOMBO DOS PALMARES

Em março, a Salve Games, em parceria com a aceleradora de negócios Preta Hub, lançou o jogo Zumbi dos Palmares, também estruturado no Fortnite. O game é uma experiência imersiva na infraestrutura e a rotina do quilombo.

No game, os jogadores precisam defender o local de ataques de invasores, como de fato acontecia durante as expedições de tropas de Portugal. Uma das estratégias é se valor da geografia do quilombo, construído numa área alta, onde se podia ver os inimigos à distância. Com registro de atividades de 1580 até 1695, quando foi destruído, Palmares foi construído na Serra da Barriga, no que hoje é o estado do Piauí.

No modo exploração, em que não há inimigos, o jogador pode desbravar todo o terreno, rico em detalhes. Durante o desenvolvimento, a equipe da Salve Games visitou o Parque Memorial Quilombo dos Palmares e consultou historiadores para entender como era a arquitetura do local durante o seu apogeu, em meados do século 17.

“Assim como o a periferia ocupou e construiu os seus espaços nas ruas, temos feitos com o mundo digital.”

Alexandre de Maio, da Salve Games

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CRIAÇÃO DAS NOSSAS PRÓPRIAS NARRATIVAS

De acordo com a Pesquisa Game Brasil, mais de 70% da população brasileira joga videogames, com uma distribuição quase equilibrada entre homens e mulheres, e uma participação crescente de jogadores acima dos 30 anos. Além disso, a periferia participa em peso. Em 2023, cerca de 44% dos jogadores pertenciam às classes C, D e E — um aumento considerável em relação aos anos anteriores.

Para Alexandre, a inclusão no mundo dos games requer a capacitação de pessoas de periferias e negras em tecnologia, uma porta de entrada para diversas profissionais do futuro.

“É necessário fornecer acesso a escolas de games e linhas de financiamento para que jovens de periferia comprem computadores e criem seus próprios jogos”

Alexandre de Maio
GAMES BRASILEIROS: 40% dos jogadores pertencem às classes C, D e E

Luta contra adversidades socioeconômicas, busca por autenticidade e superação pessoal também são temas da vida de Alexandre. Da periferia da zona sul paulista, ele fundou a primeira revista de rap do Brasil, em 1999.

Nos anos seguintes, consolidou a carreira de jornalista e passou a publicar livros de histórias em quadrinhos. Em 2010, ele foi um dos fundadores do site Catraca Livre, conhecido por apresentar agendas culturais gratuitas de várias cidades do Brasil.

Entre os trabalhos mais recentes de Alexandre estão as animações presentes no documentário Amarelo, do Emicida, de 2022. Um ano antes, ele ganhou o Prêmio Ciência e Saúde, do The International Center for Journalists, com uma matéria em quadrinhos sobre a Covid nas periferias paulistas. A reportagem foi publicada pelo veículo polonês Outriders e concorreu com outros 672 projetos do mundo todo.

Imagens: Divulgação

Quem escreveu

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Guilherme Schanner

Graduado em jornalismo pela Universidade Mackenzie, gosta de escrever e falar sobre cultura e sustentabilidade. Apaixonado pela natureza, é líder escoteiro desde a infância. Com experiência em produção e edição de conteúdo digital, trabalhou no Fala! Universidades.

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