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Corpo livre: se ache uma grande gostosa

02/08/2021

Nós, mulheres, estamos cansadas, mas merecemos ter o prazer de nos sentir belas. Saiba como se amar usando lingerie.

Nós, mulheres, estamos cansadas, mas merecemos ter o prazer de nos sentir belas. Saiba como se amar usando lingerie, para além de todo estereótipo machista.

Por quais motivos nós, mulheres, usamos lingerie? A resposta desta pergunta revela muito sobre a história e evolução feminina. Por exemplo, até a primeira metade do século 19, as mulheres usavam roupa íntima por dois motivos: alterar a forma do corpo (seja para atrair ou afastar olhares masculinos) e por higiene. Foi a partir desta época que nasceu os espartilhos como conhecemos hoje: menores, menos volumosos e mais justos. A preocupação com “conforto” só veio com a Primeira Guerra Mundial, quando os fabricantes começaram a usar tecidos mais leves para facilitar o cotidiano da mulher, que havia substituído os homens nas indústrias, uma vez que eles estavam nos campos de batalha. Na década de 60, com a moda sendo uma catalisadora de consumo, o mercado floresceu e foram criadas lingeries de diversos modelos, cores e ocasiões de uso. 

De lá para cá, as mulheres continuam a se desdobrar nas funções de mãe, trabalhadora, dona de casa e afins – e, por muitas vezes, se olhar no espelho pode ser doloroso, uma vez que a sociedade nos acostumou a procurar defeitos em nossos corpos. Em tempos pandêmicos, a situação tende a piorar. Nos encontramos sobrecarregadas, abatidas e com vontade de passar o dia inteiro de pijama, sem sequer pentear os cabelos e com pouquíssima vontade de cuidar de nós mesmas. Porém, todavia, entretanto, nós merecemos encontrar o prazer de se descobrir, se reinventar e se amar de verdade. E é aí que entra as lingeries, que contribui para que as mulheres se percebam belas e sensuais; e para além de todo estereótipo machista. 

BURQA: PLURALIDADE DE CORPOS BRASILEIROS


Para nos ajudar nesse processo existe Adriely Costa, a girl boss da Burqa, marca de lingeries focada no bem-estar e autoestima feminina fundada em 2017. Sempre valorizando a pluralidade dos corpos brasileiros, a estilista busca referência nas ruas e nos corpos reais, ao mesmo tempo que garante conforto para as peças. A Burqa não utiliza nenhum material que possa alterar o formato do corpo, como bojos, aros e armações. Os produtos são feitos com materiais de alta elasticidade para maior aderência e todas as peças são feitas de renda – é tudo tão lindo que dá vontade de sair desfilando de lingerie por aí. Ela comenta:

“Não é a lingerie que valoriza o corpo da mulher, e sim o corpo que valoriza a lingerie”

E de onde surgiu o nome Burqa, Adriely? A referência vem do amor da estilista pela cantora Lady Gaga e sua música Aura (aquela do refrão: “você quer conhecer a garota por baixo da burca”). Na mesma época do lançamento de Gaga, Adriely ouviu de sua professora de História da Moda da faculdade que as maiores consumidoras de alta costura são as mulheres do Oriente Médio, que compram vestidos de milhões de dólares para usar por baixo de suas burcas. “Foi aí que me dei conta que a essência da marca é valorizar a mulher que está por baixo de cada lingerie”, diz ela.

Hoje, a Burqa vende cerca de 200 lingeries por mês pelo site e Instagram da marca. E a demanda está em alta. Durante a pandemia, o faturamento da marca quadriplicou. Com o crescimento, a estilista, que fazia tudo sozinha, passou a contar com três costureiras e uma estagiária para cuidar das redes sociais. A montagem das peças é feita no seu próprio apartamento, no centro da capital paulista, que conta com um mini ateliê e um escritório. Com o fim da pandemia, ela pretende focar na gestão do negócio e dar maior autonomia à equipe. “Esse será meu maior desafio”, diz ela.

FUNDADA EM 2017, A BURQA VENDE DE 200 LINGERIES POR MÊS

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SE AME, SE CUIDE 

A dançarina e modelo Tawany Valentim, de 24 anos, nasceu em uma família de sambistas e é uma mulher negra do Carnaval. Dessa forma, desde cedo possui uma boa relação com seu corpo, uma vez que o samba tem o papel fundamental de fomentar a racialização e auxiliar na construção de identidades. Ela conta que sempre se inspirou em passistas e rainhas do carnaval e, em paralelo, gostava de ouvir cantoras negras e latinas que também expõem o corpo, como Beyoncé, Jennifer Lopez e Ashanti.

“Sempre foi muito normal me olhar no espelho e me achar uma grande gostosa e admirar o meu corpo, independentemente de estria ou celulite”, diz Tawany.

Com o amadurecimento, ela se desprendeu do pensamento de que lingerie cabe apenas no contexto sexual, mesmo sendo casada há quatro anos. A jovem utiliza a moda íntima para ficar à vontade em momentos triviais ao longo do dia, como após o banho. Ela diz:

“Parar de associar a lingerie à obrigação e expectativa de agradar alguém foi um divisor de águas. Tem dias que eu coloco uma lingerie completa e digo ‘vamo lavar a louça'”

TAWANY VALENTIM: LINGERIE E DANÇA PARA NÃO SURTAR NA PANDEMIA (Foto: Juliana Porto)

Com a pandemia, assim como outros profissionais da cultura, Tawany foi afetada financeiramente. Ela desabafa que durante o período de isolamento – que ainda não acabou – os problemas a consumiram a ponto de ela perder a autoestima, que vai além do que enxergamos no espelho. Um mês antes, Tawany havia me procurado para realizarmos um editorial de moda, onde ela usaria lingerie. Nós conseguimos uma parceria com a Burqa e fizemos a sessão de fotos no meu apartamento. Naquela tarde, além de ficar ainda mais apaixonada pelas peças confeccionadas pela Adriely, passei a admirar ainda mais minha amiga e sua relação com o seu corpo. E faço questão de conversar com uma mulher negra sobre o assunto, pois quando se olha para o corpo da mulher negra é preciso entender que ele vem permeado de valores e sentidos construídos historicamente e socialmente. Assim, ao pensar esse corpo, se faz necessário pensar que lugar o corpo negro ocupa em nossa sociedade. 

Quase 18 meses depois, Tawany recuperou sua autoestima. Além da lingerie, ela se valeu da dança para ficar chapadinha de endorfina e ter mais disposição. “Na pandemia, senti que meu corpo foi atravessado pelo cansaço e pelo desgoverno político do Brasil”, diz ela. “Dançar exaustivamente era uma forma de sentir que meu corpo estava vivo, ativo e atento – e que eu era útil”.

Por fim, a mensagem que fica é: aceite-se e ame-se para além da verbalização, somos a nossa melhor companhia. Se cuide e se sinta linda.

SERVIÇO
Burqa
Lingerie para todos os corpos
www.burqa.com.br
@_burqa

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