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“Eu sou não-monogâmica”

08/11/2021

Carol Fortes, repórter da Emerge e não-monogâmica

Repórter da Emerge conta como encontrou na não-monogamia uma vida amorosa sem culpa, chantagens e constrangimentos, e ela tem dicas para você.

A não monogamia é aquela típica discussão que é quase impossível não gerar um rebuliço. Alguns veem com estranheza, outres acham que é impossível e há aqueles que soltam frases do tipo: “ah, mas se você precisa de outras pessoas para ser feliz, é porque não ama seu namorade o suficiente”. Bah. Diferente do que muitos imaginam a não monogamia não é aquele oba-oba, suruba todos os finais de semana e ter cinco relacionamentos de uma vez só. Quer dizer, pode até ser, desde que tudo isso envolva cuidado, diálogo e consentimento entre os envolvides – igual deveria ser em todos os relacionamentos, mono ou não. Acredito que o principal e que deve ser ressaltado é: a não monogamia é sobre poder escolher ficar com uma, nenhuma ou mais pessoas; sem chantagens, culpa, constrangimentos ou mais turbulência psicológica.

Antes de falar de não-mono, é bom explicar um lance rápido sobre como nós, adultos do século 21, fomos ensinados a nos relacionar. Há mais de 100 anos, a monogamia é o padrão relacional ideal para a maioria das culturas ocidentais e endossada por muitos e muitos filmes, séries e conteúdos nas redes, desde os romances de radionovela dos anos de 1930 aos contemporâneos perfis de influencers que ostentam uma aliança na bio do Instagram.

E digo mais: quem aqui nunca viu na televisão uma narrativa em que uma personagem está em dúvida se fica com u “menine 1” ou com u “menine 2” e passa a trama (e a vida) tentando escolher com qual vai se casar? Também tem a clássica história do homem que não conseguia “tomar jeito” até conhecer a mulher dos seus sonhos e decidir que quer passar a vida com ela – este exemplo, além da monogamia, tropeça em outras problemáticas como o amor romântico e o patriarcado.

Crescemos entendendo que só a monogamia é possível, embora muitas vezes ela só se sustente devido ao o véu da hipocrisia e moralismo.

Recentemente, conversei sobre o tema com dues amigues. Uma falou: “é muito raro encontrarmos conteúdos que falem sobre não monogamia e tratem isso de uma forma saudável e possível”. Ai eu logo respondi: “verdade, migue. Se não fosse possível, não seria não-monogâmica há seis anos”.

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DIÁLOGO, CONSENTIMENTO E SEGURANÇA

Antes que venham as perguntas: não, não é e nem foi fácil. Mas quando se relacionar é? Porém é o que tem funcionado na minha vida. Até chegar aqui, eu passei por poucas e boas em relacionamentos. No final da adolescência, tive um relacionamento abusivo, em que eu não podia ter amigos homens cis e tudo era motivo para eu ser acusada de traição. Depois, entrei em outro que não era muito diferente. Uma vez, fiquei interessada em outro cara, com o qual tinha fotos juntos nas redes sociais. Para quê: meu namorado surtou como se fosse o fim do mundo. Um tempo depois, tcharan, ele me traiu, e quando eu descobri falei que preferia que ele tivesse me dado um soco na cara, como tinha feito o último namorado.

Eu comentava com amigues que achava outras pessoas interessantes e costumava ouvir que o correto seria terminar a relação, porque eu “não amava meu namorado o suficiente”.


Entre flertes, ficadas e namoros, eu cresci cheia de culpa, em um universo repleto de ciúmes, controle e posse – e sei que muitas outras mulheres também. A primeira pessoa que me apresentou a não monogamia mudou a minha vida, porque me fez perceber que eu não precisava me sentir mal por ser assim. Porém, nossa relação teve pouco cuidado e responsabilidade afetiva, e eu me submeti a situações que me fizeram mal. Desde então, fui vendo qual era a melhor forma de me relacionar de forma não-monogâmica com base no diálogo, cuidado e responsabilidade. Sim, houve dificuldades no percurso, uma vez que eu também fui criada nessa sociedade que ensina que ciúmes e posse são sentimentos saudáveis, afinal, “quem não sente ciúmes não gosta, né”?

Nesse meio tempo, tive um segundo namoro não-monogâmico onde tudo era permitido – até demais. Acabamos nos machucando e ultrapassando nossos limites. No terceiro namoro, resolvi colocar regras: não poderíamos nos relacionar com determinadas pessoas, não poderíamos transar com outres e ter encontros; em resumo, só podia beijar sem compromisso no rolê. Também não funcionou. Depois, passei por outros relacionamentos onde as pessoas aceitaram a não monogamia por curiosidade, e perceberam que não era o que queriam (OK, segue o baile).

RELACIONAMENTO NÃO TEM REGRAS OU IMPOSIÇÃO, O QUE VALE É O CONSENSO E A SEGURANÇA DE AMBOS (Foto: Kalinca Maki)

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UM AMOR PARA CHAMAR DE NOSSO

A vida mudou quando conheci o Dan, meu atual namorado. Ele foi o primeiro que me falou: “eu não acredito na monogamia e só me relaciono de forma aberta”. Vale lembrar que quando começamos a namorar, lá em setembro de 2019, tanto eu quanto ele estávamos com outras pessoas. Hoje, dois anos depois, eu e Dan ainda estamos juntes <3. Nossa relação não tem imposição nenhuma, cada um faz o que tem vontade, desde que esteja tudo conversado e os dois se sintam bem e seguros.

Quando rola ciúmes, insegurança ou qualquer sentimento nocivo – porque acontece, não somos seres iluminados –, conversamos para entender de onde vem o sentimento e como podemos lidar para torná-lo o menos prejudicial possível; é dá certo (e me sinto muito adulta).

Por fim, para deixar um conselho aos interessades, digo: não monogamia não tem uma fórmula mágica, é entender o que faz mais sentido para você e respeitar os seus limites e de quem você ama.

FOTOS: Kalinca Maki

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