*Reportagem de Pedro Henrique dos Santos Silva, Gabriel Scabello Marchiori, Vitor Monteiro, Ryan Grande Cavalcante, João Pedro Trilikovski Barbosa, alunos do curso de Jornalismo da Universidade São Judas Tadeu, parceira da Emerge Mag.
Desde pequena, a jovem piauiense Júlia Beatriz sonhava em ser jogadora de futebol. Nascida num país que respira o esporte, ela teve a paixão pela bola alimentada desde cedo e, aos poucos, transformou seu desejo em meta. Com muita dedicação e perseverança, Júlia conseguiu alcançar seu objetivo. Aos 21 anos, ela é atacante do time do interior paulista Red Bull Bragantino, com direito a título no currículo (campeã da Série A2 do Brasileiro feminino) e com direito a golaço por cobertura no Campeonato Paulista.
A jovem que sonha em ser titular da Seleção Brasileira de Futebol Feminino e jogar uma Liga dos Campeões Feminina da UEFA, a maior e mais importante competição de futebol interclubes da Europa, reverencia o passado para fortalecer sua confiança no futuro modalidade.
Para homens e mulheres, chegar ao futebol profissional nunca é fácil. Mas no caso delas, foi ainda mais difícil Entre 1941 e 1980, matar a bola no peito, driblar o adversário e marcar um gol era, por lei, proibido às mulheres. Um decreto federal, que vigorou no período, determinava que elas não podiam jogar futebol (e nem praticar lutas de qualquer natureza, polo aquático, polo, rugby, halterofilismo e beisebol), sob justificativa – machistas -, que tais práticas esportivas poderiam causar o deslocamento do útero, comprometendo a capacidade das mulheres de engravidar – o que demonstra bem a intenção de as reduzir a meras reprodutoras.
Mesmo diante da repressão, as mulheres nunca deixaram de jogar. Graças a essas boleiras, hoje o futebol feminino não só é permitido para elas como é uma modalidade em ascensão no cenário nacional.
Impossível não lembrar da final do Brasileirão feminino de 2022 entre Corinthians e Internacional, que não foi uma partida de futebol qualquer, foi um marco na luta pela igualdade de gênero e um incentivo ao futebol feminino.
O jogo entrou para a história como o maior público já registrado em uma partida de clubes no Brasil e na América do Sul, com 41.070 torcedores presentes na Neo Química Arena, em Itaquera, naquele fatídico 234 de setembro de 2022, quando o Corinthians venceu a equipe colorada por 4 a 1, com gols de Jaqueline, Diany, Vic Albuquerque e Jheniffer, tornando-se o maior campeão da modalidade.
Naquela multidão de torcedores estava Matheus Damore Trilikovski. Corinthiano apaixonado, ele aderiu a campanha “Invasão por Elas”, convocada pelas redes sociais para incentivar a torcida do Timão a comparecer em massa ao estádio e apoiar as Brabas na grande final do campeonato nacional.
‘’A atmosfera era incrível! A torcida cantou os 90 minutos e esse foi o diferencial do Corinthians para conquistar mais um título”
A mobilização não fez só Matheus se sentir orgulhoso de ser um Fiel torcedor. A presença maciça de torcedores e o sucesso da campanha “Invasão por elas” mostram que há uma crescente valorização e interesse pelo esporte, e que as jogadoras de futebol feminino merecem o mesmo respeito e apoio que os jogadores de futebol masculino e em todo o mercado da bola.
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INVESTIMENTOS E VISIBILIDADE
No mundo do futebol, investimentos sempre se fazem necessários para o crescimento do esporte. No caso do futebol jogado pelas meninas ainda mais, já que a modalidade só foi retomada pela maior parte dos clubes recentemente, a partir de 2019.
Todos os clubes da série A do campeonato brasileiro são obrigados pela CBF a terem uma equipe feminina adulta e uma de base, que disputem ao menos um campeonato oficial. A medida faz parte do Licenciamento de Clubes, documento que regula a temporada de competições profissionais no país, e segue a orientação da Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol), que adota a mesma regra para clubes participantes de Libertadores e Sul-Americana.
O ano de 2022 testemunhou uma intensificação dos aportes financeiros dos clubes e dos patrocinadores nos times femininos. A Neoenergia, empresa parte do grupo espanhol Iberdrola, e que atua em solo brasileiro desde 1997, se tornou a nova patrocinadora do futebol feminino no Brasil. Além de patrocinara oficial da seleção feminina a também garante o Campeonato Brasileiro Feminino A1, pelo menos até 2024.
Os clubes não ficaram átras. Procurando elevar o nível técnico e acabar com a hegemonia corinthiana no esporte, o time do Palmeiras fechou uma parceria com a gigante do ramo farmacêutico Cimed. A verba total da marca para o futebol brasileiro está na casa dos R$ 20 milhões, porém, segundo apurou o jornal esportivo Lance! estima-se que o clube presidido por Leila Pereira receba R$ 3 milhões por ano, fora as ativações, que podem chegar aos R$ 300 mil. Valores ainda baixos se comparados com os investimentos feitos ao futebol masculino, porém, que apresentam significativo aumento na modalidade feminina.
O maior rival da equipe alviverde, o Corinthians não ficou para trás e também fechou acordo com a casa de apostas Galera.bet. Quando da assinatura do patrocínio, o diretor de Marketing da casa de apostas, Ricardo Bianco Rosada, fez declarações dando força e esperança para meninas que sonham em crescer na área.
Em uma época em que falamos tanto sobre a necessidade de igualdade em todas as esferas, apoiar essa modalidade significa dar força à mudança de postura, trazendo à tona o quanto essas meninas são profissionais, talentosas e merecedoras de seu sucesso.
Merece destaque também a participação das emissoras de televisão que tem se interessado pela modalidade. A Globo, que sempre teve o histórico de transmitir jogos de seleções, passou a dar ênfase aos clubes nacionais. O SBT comprou os direitos de transmissão da Copa América 2022, foi a primeira experiência da emissora com o futebol feminino, o que mostra como a modalidade vem ampliando o interesse de grandes nomes da indústria.
A presença de narradoras e comentaristas femininas durante as transmissões, seja de futebol feminino ou masculino, também tornou-se comum. Renata Silveira fez história ao ser a primeira mulher a narrar partidas de futebol no canal de SporTV e a narrar uma partida da Copa do Mundo Fifa, disputada no Catar, na TV aberta. A jornalista Ana Thaís Matos, por sua vez, tornou-se a primeira mulher a comentar jogos da Seleção Brasileira Masculina, na Globo, em uma Copa do Mundo.
A temporada 2023 do futebol feminino começou, recentemente, Corinthians e Flamengo disputaram a segunda edição da Supercopa feminina de futebol. Mais uma vez, as brabas levaram a melhor e tornaram-se bicampeãs consecutivas da competição. Mas elas já não estão mais sozinhas nesse esporte, é provável que em um futuro próximo as campeãs sejam outras. Façam as suas apostas.
Foto de Abertura: Freepik | Edição: Karol Pinheiro