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O impacto da Copa do Mundo de Futebol Feminino 2019

11/07/2019

O Brasil não ganhou a competição, mas o evento retomou a preocupação da representatividade feminina no esporte. Enquanto não houver equidade de incentivos, patrocínios e cobertura midiática, vamos para cima deles

Imagina que louco ser campeã do mundo? Formiga, Marta e Cristiane, juntamente com outros nomes de peso, infelizmente, não conseguiram trazer o caneco para casa, por diversas questões que dariam um textão (Fora, Vadão!). Mas, sem dúvida, elas encerraram um ciclo importante da seleção brasileira de forma honrosa. 

Fomos eliminadas pelas donas da casa, com placar desfavorável de 2×1. Ainda no silêncio na noite fico pensando “ah, se aquela bola da Debinha tivesse entrado”. Mas isso não apaga a brilhante história de cada atleta e o potencial que temos pela frente. 

Na linguagem futebolística, dizem que “a melhor defesa é o ataque”. E esse comentário faz total sentido com o impacto da Copa da França. Teve álbum de figurinhas, pessoas se reunindo para assistir jogos, recorde de cobertura e audiência, patrocínios e premiação. E sabemos que, anos atrás, as coisas não eram bem assim. 

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SEM IMPEDIMENTO

O passado diz muito sobre o presente. Isso acontece com diversas questões sociais e econômicas – e não é diferente com o futebol feminino. Entre 1941 e 1979, as mulheres foram proibidas de jogar bola no Brasil, movimento que também ocorreu na França e Alemanha.

Entretanto, aqui, a regulação da modalidade para as mulheres só foi estabelecida em 1983. Por sua vez, o incentivo e o investimento, como sabemos, ainda não acontece da melhor maneira até hoje. Ainda assim, contra todos os desafios, as mulheres resistem e seguem com a bola toda. 

A canção “Jogadeira“, composta por Cacau, jogadora do Corinthians, e Gabi, ex-boleira, virou o hino da seleção e de cada garota que gosta ou sonha jogar bola. Segura esse hit, Shakira: 

Qual é, qual é
Futebol não é pra mulher
Eu vou mostrar pra você mané
Joga a bola no meu pé

PASSES NO MEIO-CAMPO

Essa Copa não será inesquecível por acaso, pois há diversas iniciativas que trouxeram visibilidade para o futebol feminino durante o último mês.  

Enquanto acontecia os primeiros passes e gols da Copa, estava rolando, aqui no Brasil, a Taça das Favelas de São Paulo. Campeonato de futebol amador, que reúne times femininos e masculinos, organizado pela Central Única das Favelas (CUFA) e produzido pela InFavela.

JOGADORAS DO COMPLEXO DA CASA VERDE, TIME VENCEDOR DA TAÇA DAS FAVELAS 2019 (Foto: Robson Fernandes/Allsports)

O evento esportivo foi televisionado pela primeira por uma rede de TV aberta, com boas números de audiência.

A partida final feminina ficou de fora da transmissão, mas não deixou de ganhar os holofotes.

No Estádio do Pacaembu, dois times estiveram em campo: o Complexo da Casa Verde, cheio de meninas com sonhos e querendo jogar futebol para viver; e Paraisópolis, com mulheres que mal conseguiram treinar devido às obrigações profissionais e familiares. Realidades diferentes, mas que se uniram por causa do futebol.

Após o apito final, as mulheres do Complexo da Casa Verde se consagram campeãs.

Aproveitando o movimento de mudança, o Museu do Futebol celebra a história e dá visibilidade ao futebol feminino por meio da exposição “Contra-Ataque: As Mulheres no Futebol”.

Porém, é importante ressaltar que na mostra fixa do local, há pouquíssimas informações sobre elas na modalidade. 

CONTRA-ATAQUE

Lá fora, muitas garotas querem jogar e não encontram com quem ou onde fazê-lo. Pensando nisso, a plataforma Joga Miga produziu um mapeamento de times de futebol espalhados pelo Brasil para que meninas possam praticar o esporte juntos com suas pares. 

A Joga Mina também organiza treinos e dá aulas de futebol.

Refletindo sobre o panorama do futebol feminino, a sensação que dá é que estamos longe do ideal. Mas a Copa da França mostrou que podemos, queremos e merecemos mais. 

A PLATAFORMA ONLINE JOGA MINA MAPEIA OS TIMES FEMININOS DO BRASIL (Foto: Reprodução)

Para que tenhamos outras grandes jogadoras, é muito importante que as categorias de base sejam regulamentadas e recebam investimento.

Para se ter uma noção, atualmente, no Brasil, só há um time com estrutura suficiente para garotas menores de 11 anos jogarem futebol.

A equipe é do Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa, entidade mantida pela Prefeitura de São Paulo.

Com a Copa do Mundo da França, outras referências de jogadoras também foram fortificadas. A representatividade fará com que mais meninas queiram ser zagueiras, goleiras e laterais.

Diante de todo este cenário, torcida não falta. Contudo, o futebol feminino não depende só de plateia. Enquanto não houver incentivo, patrocínios e cobertura da mídia de forma igualitária, a pauta deve ser debatida.

A ideia é forçar a defesa para que as coisas mudem na prática em todas as esferas e organizações envolvidas com a modalidade. 

O futebol feminino não acontece somente de 4 em 4 anos. Portanto, cada iniciativa conta e a certeza que fica é que não vamos parar de atacar.

IMAGEM DE ABERTURA: Lucas Figueiredo/CBF

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