Dirigido por Gabriel Martins, “Marte Um” está concorrendo a uma indicação ao Oscar de Filme Internacional; longa traz o cotidiano de uma família periférica, nos últimos meses de 2018, pouco depois das eleições presidenciais
Provavelmente você já ouviu falar do filme “Marte Um”, escolhido para representar o Brasil no Oscar 2023. Sincero, afetivo e vívido são algumas das críticas que o longa-metragem recebeu desde sua estreia mundial no Festival de Sundance. Porém, mais do que isso, “Marte Um” é uma obra extremamente representativa: pela primeira vez no Brasil, um filme de um diretor preto, Gabriel Martins, é escolhido para representar o país na maior premiação do cinema mundial.
Já há alguns anos se discute o racismo presente no Oscar. Em 2015, as hashtags #OscarsSoWhite (Oscar tão branco) e #WhiteOscars (Oscar branco) foram aos Trend Topics do Twitter após não ter nenhuma pessoa preta indicada entre as cinco principais categorias individuais.
Embora a quantidade de pessoas pretas indicadas tenha aumentado nos últimos anos, a diferença é gritante, tanto que, caso seja selecionado, Gabriel Martins será o quarto diretor preto a ter um filme concorrendo nessa categoria na história do Oscar – a premiação existe desde 1929. Os outros foram: Rachid Bouchareb (indicado por Days of Glory, Dust of Life e Outside the Law), Abderrahmane Sissako (Timbuktu) e Ladj Ly (Les Miserables).
Além disso, “Marte Um” também traz esperança para o Brasil de ser uma nova indicação ao Oscar de Filme Internacional em 25 anos, quando Central do Brasil concorreu. Para o diretor do longa, isso representa uma abertura de portas para “quem está chegando agora para fazer cinema, em um momento em que podem estar desacreditados de até onde um filme pode chegar”. Ele explica:
QUAL É A HISTÓRIA DE “MARTE UM”?
“Marte Um” traz o cotidiano de uma família periférica, nos últimos meses de 2018, pouco depois das eleições presidenciais que colocaram Jair Bolsonaro no poder. O garoto Deivid (Cícero Lucas), o caçula da família Martins, sonha em ser astrofísico, e participar de uma missão que em 2030 irá colonizar o planeta vermelho. Morando na periferia de um grande centro urbano, não há muitas chances para isso, mas mesmo assim, ele não desiste. Passa horas assistindo vídeos e palestras sobre astronomia na internet.
O pai, Wellington (Carlos Francisco, de “Bacurau”, e da Companhia do Latão de teatro), é porteiro em um prédio de elite, e há um bom tempo está sem beber, uma informação que compartilha com orgulho em sessões do AA. Tércia (Rejane Faria, da série “Segunda Chamada”) é a matriarca que, depois um incidente envolvendo uma pegadinha de televisão, acredita que está sofrendo de uma maldição. Por fim, a filha mais velha é Eunice (Camilla Damião), que pretende se mudar para um apartamento com sua namorada (Ana Hilário), mas não tem coragem de contar aos pais.
“Marte Um” é assinado pela produtora mineira Filmes de Plástico, fundada por Gabriel, Thiago, André Novais Oliveira e Maurilio Martins em 2009, e que tem em sua filmografia longas premiados como “Temporada”, “Ela volta na quinta”, “No coração do mundo” e “Contagem”. Suas produções também foram destaque em festivais como Cannes, Roterdã, Brasília e Tiradentes.
O filme já está em cartaz em cinemas de todo o país, com distribuição da Embaúba Filmes. “Marte Um” foi exibido no Festival de Gramado, onde recebeu o Prêmio Especial do Júri, o Prêmio do Júri Popular, além de Melhor Roteiro, também assinado por Martins; e Melhor Trilha Musical, de Daniel Simitan.
ASSISTA AO TRAILER DE “MARTE UM”
QUEM É O DIRETOR GABRIEL MARTINS
Gabriel Martins é cineasta, roteirista, montador e diretor de fotografia conhecido por seu trabalho na Filmes de Plástico. Seu primeiro filme, “No Coração do Mundo”, codirigido por Maurilio Martins, estreou na Tiger Competition do Festival de Roterdã em 2019, e depois foi exibido em diversos festivais, e lançado comercialmente em vários países, como a França, onde foi aclamado pela crítica.
Entre seu curtas estão NADA, exibido na Quinzena dos Realizadores de Cannes, em 2017, e “Dona Sônia Pediu uma Arma para seu Vizinho Alcides” exibido no Festival de Clermont-Ferrand. Ele também participou do programa especial de Roterdã “Soul in the Eye”, no qual ministrou uma masterclass. Gabriel escreveu diversos filmes, como o sucesso “Alemão”. “Marte Um” é seu segundo longa, e primeira direção solo.
FOTOGRAFIAS: Divulgação/Sinny Assessoria