Me tornei pai em meio pandemia e as decorrentes mudanças que as crises sanitária e social infligiram as nossas vidas. Jordan nasceu em junho de 2020, desde então, tenho vivido a transformação mais intensa da minha vida: a paternagem.
Nessa relação de presença e vínculo emocional com meu filho, me pego pensando a todo instante em como será o futuro, seja enquanto troco sua fralda e o coloco no berço para dormir ou quanto estou no trem voltando de mais um dia de trabalho, com fones de ouvido e a cabeça a mil . E nesses pensamentos sou perpassado por conflitos. Calhou de eu ser pai justo num ano que parece que o mundo está desmoronando, cê é loko. Mas são as tretas da vida e, sem elas, não existem mudanças. Ao mesmo tempo que sinto medo e insegurança, me nutro de esperança.
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Jordan veio para me ensinar o verdadeiro amor e o que é ser homem, pai e marido. Ao assistir seu nascimento, chorei de encharcar os olhos e soluçar. Foi uma daquela reações emocionais e fisiológicas que você não controla, só sente. Naquele momento, aprendi muitas coisas numa tacada só. Acredito que o aprendizado mais importante foi reconhecer, respeitar e admirar ainda mais a minha esposa Lia Cavalcante. Lembrar de todos os esforços feitos por ela durante a gestação, no parto e, ali, com o Jordan em nossos braços, fez eu entender que preciso me espelhar na potência da mãe do meu filho para ser um bom pai. Como filho de uma mãe negra, sei que as posições e demandas sociais para um pai são bem diferentes das impostas às mães. E é aí que me bate a importância do carinho, compromisso e dos sacrifícios que um pai deve se propor a entender e viver.
Agradeço demais a Lia e ao Jordan por me ensinarem sobre amor incondicional, afeto e admiração. Estamos construindo uma família em meio ao caos e vamos resistir aos conflitos internos e externos, pois aqui a raiz é forte.
FOTOGRAFIAS: Rafael Felix