Pagode baiano: “Swingueira” também é coisa de mulher

Dos bastidores à frente da swingueira, mulheres contam como têm sido atuar no pagode baiano, um gênero predominantemente masculino.
“Pessoas São Falhas”: Meg Pedrozzo estreia EP com amor lésbico

Mulher lésbica e periférica, Meg Pedrozzo retrata relação LTBQIA+ em novo clipe de “Pessoas São Falhas”, música que leva o nome do seu álbum de estreia.
Juçara Marçal sai em turnê com aclamado “Delta Estácio Blues”

Com 30 anos de carreira, Juçara Marçal sai em turnê pelo Brasil para apresentar seu segundo álbum solo e lança clipe da música “Sem Cais”.
Brisa Flow traz amor entre pessoas originárias para as telas

“Making Love”, lançamento de Brisa Flow, tem como tema principal o afeto entre origináries que, infelizmente, não está presente no audiovisual Desde o lançamento de seu álbum de estreia, “Newen”, em 2016, Brisa de la Cordillera, também conhecida como a artista mapurbe Brisa Flow, constrói sons e imagens a partir da vivência de seu corpo no mundo, criando caminhos que desprendem das amarras da colonialidade. Criada em Minas Gerais, Brisa é pesquisadora, defensora da música indígena e ativista dos direitos dos povos originários. Em suas canções, ela pauta discussões políticas como a luta pelo território, demarcação de terras, moradia, mulheres indígenas e periféricas, maternidade, mercado de trabalho e corpos marginalizados, como a comunidade LGBTQIAP+. No último dia 13, a cantora lançou “Making Luv”, single que precede seu terceiro álbum, “Janequeo“, que estará disponível ao público em junho de 2022. Em um período em que pessoas indígenas aparecem constantemente na imprensa apenas em situações de violência, Brisa traz como tema o afeto entre pessoas originárias. A artista conta que a canção surgiu quando o beatmaker e MC Tidus, natural de Las Vegas, a encontrou na internet e falou que queria produzir uma música com ela. Assim que Brisa recebeu o instrumental, já ficou “empolgada” e sentiu que queria fazer uma música e gravar um clipe com origináries protagonizando afeto já que, infelizmente, isso não está presente no audiovisual. Ela complementa: “Esse é um reflexo do colonialismo que não nos quer felizes. Ainda vivemos em Abya Yala, com o genocídio dos povos originários, que nos mata para garimpar e vender terras e destrói culturas, línguas e conhecimentos nativos. Diante dessa violência, a prática do afeto entre pessoas indígenas torna-se um ato político. Making Luv’ é sobre amor em seus mais íntimos significados, de companheirismo a coragem” Em parceria com o coletivo Mi Mawai, o audiovisual foi gravado na Mata Atlântica e ilustra o entrelaçar dos corpos pelas tranças e o movimentar dos mesmos com a Terra e as águas, como práticas de amor não coloniais. A construção da obra aconteceu de forma horizontal e coletiva e a harmonia da vivência se reflete no resultado. Brisa conta: “Eu já tinha trabalhado antes com o Mi Mawai, o coletivo é aliado dos artistas originários. Eu fiz a trilha sonora de um documentário que eles realizaram sobre o direito autoral na música indígena”. O clipe também tem a participação do artista audiovisual e beatmaker Ian Wapichana. Uma curiosidade interessante é que, apesar de “Making Luv” ser uma música sobre amor, o relacionamento entre Brisa e Ian só começou após a gravação do som. “O que muita gente não sabe é que eu e o Ian não éramos namorados nessa época. Nós nos conhecíamos como companheiros de trabalho no MECAInhotim, mas começamos a nos relacionar depois desse videoclipe”, afirma a artista. Assista ao clipe de “Making Luv” Leve como o vento Brisa de la Cordillera recebeu esse nome de seus pais, artesãos caminantes. A cantora, licenciada em Música pela Fiam Faam, pesquisa e defende a arte dos povos originários e o rap como ferramentas necessárias para combater o epistemicídio, que é o processo de invisibilização e ocultação das contribuições culturais e sociais não assimiladas pelo “saber” ocidental. Newen, seu álbum de estreia, foi lançado em 2016 e significa “força”, em Mapuzgundun (língua nativa do povo Mapuche). A obra musical esteve entre os 20 melhores discos do ano selecionados pelo jornal Estadão. Em 2017, ela foi a artista aposta da Folha de São Paulo e recebeu o prêmio “Olga Mulheres Inspiradoras”. Seu segundo disco, Selvagem Como o Vento, foi lançado em 2018 no Instituto Tomie Ohtake e destacou-se em listas de 50 melhores discos da música brasileira nos sites da Red Bull, Genius e outros canais de música. Em 2020, lançou de forma experimental o EP Free Abya Yala, um trabalho de improvisação jazzrap. O título significa “América Livre” ou “Terra Fértil Livre”, sendo Abya Yala (no idioma do povo Kuna) o nome que vem sendo utilizado por artistas indígenas para referir-se ao continente americano. As músicas foram produzidas em colaboração com um quarteto de jazz e inspiradas nas pesquisas de Brisa Flow sobre freestyle e música originária. O EP foi premiado e recebeu elogios pela crítica musical como um trabalho anti colonial experimental. FOTOGRAFIA: Jon Thomaz Reportagem produzida em parceria com a assessoria de comunicação ALETS COMUNICAÇÃO.
“Bença”: Mulamba retorna com nova música, afeto e Luedji Luna

Música “Bença” abre portas para novo momento da Mulamba, que quer mostrar que cuidar do corpo e da mente também faz parte da luta Mudança de ares. Leveza. Brincar de esperança. Sob uma nova toada, a banda Mulamba lança, com participação especial da cantora baiana Luedji Luna, o novo single “Bença”. Diferente das músicas focadas em violência contra a mulher e combate ao machismo, o grupo, formado há sete anos por Amanda Pacífico, Cacau de Sá, Érica Silva, Fer Koppe, Naíra Debértolis e Caro Pisco, quer abrir portas para um novo momento da banda. Elas explicam: “Bença abre portas para esse novo momento da Mulamba. O grito dá lugar às sutilezas, ao olhar pra dentro. Continuamos falando de nossas inquietações, mas também da importância do respiro, do afeto e do intangível” Segundo Amanda, que é compositora e intérprete da canção, a letra foi escrita há anos e estava guardada na gaveta, esperando pelo disco de inéditas do grupo, que será lançado pela PWR Records. A música fala, de forma sensível, de uma realidade triste e comum nas ruas brasileiras: as crianças que precisam trabalhar no farol para complementar o sustento em casa. “O olhar de um menino vendendo bala no sinal, sozinho com sua irmã, sem a proteção de sua mãe por perto, me paralisou e veio toda essa canção. Seu semblante estampava a esperança e ao mesmo tempo a dura realidade da infância perdida em meio aos carros, na luta contra a fome”, diz Amanda. Ela conta, ainda, que o feat com Luedji Luna era um “desejo antigo”, devido à admiração que a Mulamba tem pela baiana e por tudo que ela representa. “Ter ela (Luedji) em ‘Bença’ foi um presente, trouxe a força que a música merece e transformou a bença em uma oração”, afirma. Assista ao clipe de “Bença”, nova música da Mulamba Mulamba quer trazer músicas de amor e afetividade Com produção musical de Érica Silva e Leo Gumiero, “Bença” desfruta de uma suave percussão em seu arranjo, que combinada a um violão de levada pop, transforma a faixa numa canção de ares delicados. Ao lado de Luedji Luna, a banda transforma a música em um abraço sonoro, oferecendo também ao público uma nova estética melódica do grupo. Tudo isso, por si só, imprime uma novidade na identidade musical da Mulamba, que anos atrás ficou conhecida por suas canções mais densas e enérgicas, graças ao impacto causado pelo elogiado debut Mulamba (2018). Érica Silva, produtora musical e integrante da banda, explica: “Queremos mostrar uma outra Mulamba. Além das palavras manifesto, sentimos a necessidade de mostrar que cuidar do corpo e da mente também faz parte da luta. Queremos contar histórias, falar de amor, de afetividade e também de perdas. As músicas desse álbum descrevem os novos ares repletos de swing, brasilidade, textura, letras e melodias intensas” FOTOGRAFIA: Fábio Setti & Tamara dos Santos
Baile da DJ $ophia: feito por uma mina e para a quebrada

Organizado pela jovem de 21 anos Sophia Lima, o Baile da DJ $ophia, foca nas mulheres e na periferia e chega a sua segunda edição Um rolê acessível e feito para todes: essa é a proposta do Baile da DJ $ophia, que chegou a sua segunda edição na última sexta-feira (15) na cidade de São Paulo. A festa, que já recebeu nomes como MC Luanna, Tasha&Tracie e Souto MC, leva o nome da jovem de 21 anos Sophia Lima, que vem estourando na arte dos toca-discos no Brasil. Talento precoce, Sophia teve seu primeiro contato com o hip hop dentro da própria família, por meio do irmão, tia e tio, que escutavam rap. O interesse, porém, despertou realmente quando viu o show da cantora Flora Matos, em 2013. Foi aí que Sophia começou a frequentar shows em casas de cultura, que a instigaram a querer fazer parte do movimento do hip hop. “Entendi a importância de estar ali pelos nossos. O rap salva vidas”, diz em entrevista à Emerge Mag. Nos seis anos de trajetória na música, Sophia conquistou parcerias e realizações, e tocou ao lado de grandes artistas, como Jazzy Jeff no canal “Boiler Room”, o maior canal de DJs do mundo, de origem inglesa. Além das apresentações solo, Sophia é beatmaker e DJ de Karol Conká, Mc Soffia e Souto MC, e já apresentou seus sets autorais em grandes festivais de rap do Brasil, como Cena e Rep Festival. Em 2020, foi a única DJ do palco principal do Festival Cena 202K. Em fevereiro, a jovem organizou pela primeira vez um festival sozinha, e firmou ainda mais o seu nome na cena da discotecagem. Sucesso desde a primeira edição, o Baile da DJ $ophia foi a realização de um sonho da artista: uma cena feita por uma mina para a quebrada. Ela conta: “O Baile da DJ $ophia chega para quebrar barreiras por ser um evento de uma mina preta nova da cena do hip hop, e que ao mesmo tempo está no rap, mas se conectando à galera do trap funk. A nossa meta é que ele aconteça mensalmente, sempre trazendo atrações com as quais eu me identifico, assim como atrações do rap e do funk, que também geram identificação do público” Rolê acessível para a quebrada Uma crítica que vem ganhando força sobre os eventos de rap e funk no Brasil é, justamente, a falta de acessibilidade para a quebrada – seja em relação ao local ou ao preço. Enquanto artistas cantam letras cheias de denúncias sobre a realidade nas comunidades e os problemas sociais vividos pelo povo periférico e preto, no público há majoritariamente pessoas brancas e de classes sociais elevadas. Atualmente moradora do centro de São Paulo, Sophia passou boa parte da vida no Capão Redondo, onde morava com a avó. A trajetória forjou o entendimento sobre a necessidade de fazer um rolê de fácil acesso ao público geral, e não apenas para as pessoas que moram na região central da cidade. Além de aproximar o baile da periferia, a artista também fomenta a presença das “minas e as monas” para fortalecer a cena independente. Ela diz: “Quero sempre trazer novas MCs e DJs, artistas já consagrados e, principalmente, fortalecer a cena independente. Trazer os caras, as minas e as monas também. O rolê será feito por todes” Com mulheres na linha de frente, ela espera que a festa também amplie as vozes femininas dentro do rap e hip hop, muitas vezes ofuscadas pelo machismo enraizado na cultura brasileira. De acordo com edição 2020 do relatório Por Elas Que Fazem a Música, desenvolvido pela União Brasileira de Compositores, entre os 100 maiores arrecadadores de direitos autorais no país, apenas dez são mulheres. Em 2019, elas receberam somente 9% do total distribuído em direitos autorais. Além disso, dos mais de 33 mil associados da UBC, apenas 15% são mulheres. “Há uma inovação crescente no cenário, com mais mulheres em line ups e festivais. Porém, é uma caminhada longa. Sinto que o Baile ajuda a quebrar barreiras devido ter protagonismo feminino, com mulheres na linha de frente, o que proporcionar uma experiência fluida e natural para o público”, diz Sophia. FOTOGRAFIA: Caio Versolato Reportagem produzida em parceria com Griot, assessoria de comunicação antirracista especializada em contar histórias de artistas, eventos, projetos culturais e criadores de conteúdo para a mídia e na internet.
Irreverente, Burlesco sai dos palcos e invade livros

Dançarina Mirela Perez lança “A Semiótica do Burlesco”, em que narra um apanhado histórico das origens da dança criada por mulheres A performance de Christina Aguilera e Cher no filme Burlesque, assim como o glamour da música Lady Marmalade, estrelada por Aguilera, Lil’ Kim, Mya e Pink, popularizaram a dança Burlesco no mundo todo. O estilo, que remonta ao século 16, surgiu na Europa como paródias de obras tradicionais da literatura e do teatro. No seu cerne, o Burlesco já tem como essência burlar um padrão, uma cultura. Mesmo há centenas de anos, mulheres usavam essa arte para questionar os padrões da época, a partir de brincadeiras com as técnicas de dança, teatro, circo e mágica. Atualmente, os pilares do Burlesco se mantêm firmes. E foi toda essa irreverência, além da beleza, cor e alegria, que fizeram Mirela Perez levar o Burlesco para uma área que parece ter pouca proximidade com a dança: a academia. Salto alto, brilho e muito glamour não é o que imaginamos encontrar nos corredores das universidades. Mesmo assim, estimulada por sua orientadora, a dançarina decidiu pesquisar o tema no mestrado e mais: transformá-lo em livro. Em 2022, lançou “A Semiótica do Burlesco” (compre aqui), em que traz um apanhado histórico das origens da dança, bem como uma análise semiótica detalhada sobre os elementos visuais que compõem o individual feminino, dividido em três: Glamour, Fetiche e Desconstrução. Devido à escassez de material acadêmico sobre o tema, Mirela optou por fazer uma pesquisa de campo e entrevistar as responsáveis por dar vida à técnica: as alunas da Escola Burlesca de São Paulo. Fundada em 2005, a Escola Burlesca de São Paulo é a primeira escola dedicada ao ensino da prática no Brasil. O negócio é gerido por Shaide Halim, mais conhecida por Lady Burly. Formada em Broadway Jazz, Jazz Clássico e balé, Shaide também é professora na escola, que conta com outras quatro mulheres no quadro de funcionárias. A proposta de valor – e o propósito – da escola é difundir a dança para profissionais e entusiastas da arte, sem esquecer dos conceitos históricos, sociais e intelectuais que compõem o universo do Burlesco. A história do primeiro contato de Mirela com a escola é curiosa. Ela conta que marcou uma data para conhecer espaço e entrevistar Lady Burly. Porém, no dia marcado, a professora esqueceu da entrevista e achou que ela estava lá para fazer uma aula experimental. “Fiz a aula e a entrevista”, diz Mirela, aos risos. “Me apaixonei pela dança e não parei mais de frequentar a escola”. Criado por mulheres, Burlesco enfrenta preconceito e machismo Em seu artigo “De onde vem o Burlesco”, a artista Giorgia Conceição, conhecida como Miss G, revela que a história do que hoje chamamos de Burlesco é feita por “mulheres, freaks e marginais, artistas pouquíssimo valorizados, que formam um lado obscuro e pouco conhecido do teatro e das artes cênicas”. Por isso, por mais que seja uma prática centenária, o Burlesco ainda é alvo de muitos olhares tortos e preconceituosos. Mirela chama atenção para o machismo que as dançarinas sofrem, principalmente por se tratar de uma performance sensual. Ela explica: “O estereótipo associado as dançarinas tem origem numa educação religiosa deturpada, entre pessoas mal resolvidas com o próprio corpo e a sexualidade. O Burlesco é um espelho que obriga as pessoas a enxergar algo que elas ainda não estão preparadas para ver” No meio conservador da academia, a artista enfrentou barreiras tanto psicológicas quanto práticas, como assédio moral e dificuldade em buscar revistas acadêmicas para publicar artigos sobre o tema, sobretudo de outros alunos. De acordo com Mirela, uma vez que o Burlesco é uma arte que aborda sensualidade, sexualidade e glamour, ele acaba adentrando o “hall das futilidades acadêmicas”. Assim, há certa estranheza e invalidação da pesquisa, em prol de uma “nobreza de aplicação de tema”. Mirela ressalta, porém, que a técnica busca justamente o contrário: ajudar as pessoas a se enxergarem em todas as suas multiplicidades e facilitar a jornada de autodescoberta e empoderamento, assim como fez com ela. “O Burlesco devolveu minha autoestima e me deu controle sobre o meu corpo e minha sexualidade”, conta. IMAGENS: Divugação
Mulheres da Emerge: trabalho e afeto

Integrantes da Emerge falam como é o dia a dia na organização e as relações construídas no trabalho.
Gravidez e afeto marcam vida e música de Indy Naíse

antora Indy Naíse fala sobre o lançamento do EP visual Esse é Sobre Você e o desafio de ser uma mulher grávida no mundo da música.
Corpos como tela com Bianca Foratori

A artista visual Bianca Foratori se vale de memórias, identidade e questões socioculturais para revelar a potência das mulheres afro-indígenas