Nascida e criada em São Paulo, na Cohab 2, na zona leste da capital, a designer de cabelos Diva Green trabalha há mais de 20 anos no cenário artístico e cultural paulistano. Mas, desde 2021, optou por trocar a São Paulo pelo mundo, em especial, a ouro negro Salvador. A decisão de migrar e viver algumas temporadas na capital baiana surgiu da vontade de mergulhar, ainda mais, na profunda estética cultural afro-brasileira, conceito central do seu trabalho.
Como a Emerge Mag contou em 2018, na matéria A estética política de Diva Green, a criativa se vale da ousadia e originalidade para exacerbar as múltiplas identidades das mulheres negras. Empresária e mãe de duas meninas, a profissional da beleza desenvolve conceito e penteados em editoriais de moda, desfiles, campanhas publicitárias, videoclipes e apresentações musicais. Entre artistas que já passaram pela mãe de Diva, se destaca Negra Li, Bia Ferreira, Xan Raveli, Liniker e Tássia Reis. Além disso, Diva conta com sua própria linha de produtos, são perucas e mayakas, que nasceram a partir de suas pesquisas.
Há poucos anos, Diva fez um teste genético de ancestralidade, que apontou as regiões da África das quais vieram seus antepassados. Com isso, a conexão com Salvador foi instantânea. Salvador é a cidade mais negra fora do continente africano. De acordo com dados do IBGE (PNAD Contínua 2018), 81,1% da cidade é composta por negros.
Outra criativa de São Paulo que se mudou recentemente para Salvador foi Luciene Barros, a Lu Big Queen. Produtora cultural, modelo e fundadora da marca de moda África Plus Size (tema de matéria da Emerge em 2020), Lu também fez o teste genético de ancestralidade.
Ela descobriu um parente de terceiro grau, cuja família é oriunda do interior da Bahia. Vale destacar que os testes permitem “buscar parentes”. Ao comparar os resultados individuais com o de outras pessoas que também fizeram o teste, é possível estabelecer graus de parentesco entre os usuários, que podem ser primos de 3º, 4º e 5º grau.
Morar em Salvador tem ajudado Lu a entender suas raízes. Ainda criança, ela foi adotada e não conheceu sua família biológica. Ao mesmo tempo, ela, que já frequentava a cidade a trabalho, conta que notava uma agitação da economia baiana para além do carnaval e do turismo. Ela afirma:
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DESAFIOS E OPORTUNIDADES NA ECONOMIA CRIATIVA
No mês de setembro, Salvador foi palco do pré-lançamento do Festival Mundial da Criatividade 2023. O evento faz parte de um movimento global que reúne educadores, empreendedores, líderes sociais, criadores de conteúdo e pesquisadores, entre outros agentes de mudança, para debater e conectar iniciativas de criatividade, inovação e sustentabilidade. A ideia é construir ações concretas para desenvolvimento social, tecnológico e econômico sustentáveis.
De acordo com Lu, as pessoas são muito abertas à criação em Salvador, além de serem naturalmente talentosas e inspiradoras. Diva, amiga de longa data de Lu, confirma o panorama e aponta caminhos a serem trilhados:
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SALVADOR DO PASSADO, PRESENTE E FUTURO
Nascida no bairro soteropolitano Nordeste de Amaralina, Monique Evelle foi morar em São Paulo em 2016 para trabalhar como jornalista no “Profissão Repórter”, da Rede Globo. Dois depois, deixou o programa, mas continuou na capital paulista para adquirir o máximo de experiências possíveis para retornar a Salvador mais madura.
Deu certo. Fundadora e CEO da Inventivos, plataforma de formação de empreendedores criativos, nos últimos anos ela foi reconhecida como uma das principais líderes do empreendedorismo brasileiro. Em 2021, ela se tornou consultora de inovação no Nubank.
Em 2022, o banco digital escolheu o bairro do Rio Vermelho, em Salvador, para instalar o NuLab, um hub de desenvolvimento de tecnologia e projetos de impacto social. Monique escolhida para coordenar o espaço, além de atuar em projetos de diversidade e inclusão da fintech. Unindo o útil ao agradável, ela retornou a sua cidade natal (leia aqui um artigo de Monique sobre ter empresas em Salvador).
“Nunca deixei de acreditar no potencial econômico e criativo de Salvador”, diz Monique. “Ao contrário. O meu retorno à cidade vem do desejo de ter todos os meus CNPJ aqui, na capital baiana.
Já em Salvador, em 2021, a empresária social foi escolhida como embaixadora do Doca 1, um espaço de 2.468 m², criado pela Prefeitura de Salvador para abrigar 40 empresas voltadas ao desenvolvimento de ações e projetos de economia criativa. O Doca 1 é parte de um pacote de investimentos da gestão municipal, no valor de R$3,3 bilhões, para aquecer e garantir geração de emprego e renda em economia criativa.
“A ideia é usar nossas tecnologias ancestrais, sociais e digitais neste novo momento do mundo”, diz ela.
Há poucos meses, o NuLab Salvador abriu inscrições para sua primeira iniciativa de capacitação exclusiva para residentes no estado da Bahia. O programa, formulado em parceria com as startups de educação Cubos Academy, baseada em Salvador, e Alura, atraiu mais de oito mil pessoas com interesse em desenvolvimento de softwares móveis. O fato é um exemplo do interesse de grandes empresas de outros estados em Salvador, e demonstra a potencialidade do povo e da economia criativa da região.
A empresária diz que a cidade onde o Brasil começou aponta para o futuro. Ela afirma que, em cinco anos, Salvador terá um ecossistema de inovação, tecnologia e empreendedorismo criativo de referência para todo o país. “O ouro negro reluzirá”, finaliza ela.
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ARTE DE ABERTURA: I’sis Almeida