Dentro e fora dos palcos: o corre das mulheres no funk

05/05/2023

Festival Mulheres do Funk Foto de Rafael Felix

Festival Mulheres do Funk mostrou que a cena feminina dentro do gênero musical vai muito além dos palcos. Conheça Corre Rua e Shark Crochê

O Movimento Frente Nacional Mulheres do Funk, aconteceu neste sábado (29) e domingo (30), na Cidade Tiradentes, zona leste de São Paulo, onde foi apresentado o corre e a importância das minas do funk, não apenas no cenário musical, mas também na sociedade e em termos de representatividade de mulheres negras, periféricas e funkeiras.

O evento reuniu pessoas de diferentes idades e origens, funkeiras do Rio de Janeiro, Bahia, Minas Gerais, Recife e São Paulo, em um ambiente periférico famoso por ser “O Berço do Funk”, a Cidade Tiradentes carrega esse nome e não é por acaso.

Renata Prado, organizadora do Movimento Frente Nacional Mulheres do Funk, conta que quando mais jovem sempre esteve nos bailes funks da zona leste e por ter essa relação afetiva escolheu o bairro para realização do evento.

LEIA TAMBÉM: Elas fazem o baile delas: mulheres lésbicas no funk – Emerge Mag

RENATA PRADO: fundadora da Frente Nacional de Mulheres do Funk (foto: Rafael Felix).

A Frente Nacional de Mulheres no Funk existe desde 2017, promovendo atividades culturais, políticas e sociais difusamente. Neste ano, decidiram unir todas essas vertentes em um só evento, o Festival Mulheres no Funk.

“É um evento para aproximar a juventude do funk e dos debates que estão postos para a cultura do funk

Renata Prado, coreógrafa e pedagoga organizadora do evento.

Segundo ritmo mais ouvido do Brasil, atrás apenas do sertanejo, o funk já teve uma música banida das principais plataformas de streaming por fazer apologia à violência contra a mulher. Para Renata, a realização de um festival produzido exclusivamente por mulheres, produz conhecimento a partir de uma perspectiva feminina.

Vale dizer também que há muitas letras que fazem referência às mulheres e lésbicas, como as cantadas por Tati Quebra Barraco, Valesca Popozuda, MC Kátia, Deize Tigrona, MC Carol e o Sapabonde.

O Festival da Frente Nacional Mulheres do Funk é um projeto contemplado pelo 19º Edital de Valorização a Iniciativas Culturais (VAI) da Prefeitura de São Paulo em parceria com a Secretaria Municipal de Cultura da cidade de São Paulo.

AS MINAS DO PAREDÃO

Fernanda Souza, 28, mais conhecida como CorreRua, é cria do Grajaú zona sul de São Paulo, é uma multiartista, ela vai de fotógrafa, jornalista, diretora criativa e de arte, documentarista, produtora e stylist, tudo isso sem deixar sua essência de lado.

No Festival Mulheres do Funk, a fotógrafa mostrou ao público sua exposição individual “Sobrevivendo no Inferno”, que traz fotos de para meninas pretas e funkeiras das periferias de São Paulo. O título da exposição é inspirado no famoso álbum dos Racionais Mc’s, lançado em dezembro de 1997.

Segundo ela, suas obras tentam mostrar ao mundo o quanto as meninas que vão aos bailes são “chaves”, lindas e importantes para o movimento. Isto é, na contramão de como a sociedade costuma as tratar por frequentarem esse rolê.

“Eu parto do ponto de partida que essas fotos deem autoestima para elas, porque eu as vejo como mulheres lindas e quero que o mundo as veja do mesmo jeito, tá ligado?”

Fernanda Souza, fotógrafa.

Fernanda conta sobre os frutos que esse trabalho trouxe para si. No intuito de mostrar a potência das funkeiras, ela acabou por também se reconhecer como um mulherão da porra.

LARISSA RAMOS: fundou uma marca de bonés de crochê (foto: Rafael Félix).

ESTILO MANDRAKE

Outro destaques do Festival Mulheres do Funk foi o desfile “Bonde da Tony Country” da Shark Crochê, marca independente de crochê idealizada por Larissa Ramos.

Larissa aprendeu a arte do crochê com sua avó e desde 2020, quando foi demitida e teve dificuldades de arrumar emprego em meio à pandemia de coronavírus, fez da costura sua fonte de renda.

A Shark Crochê levou ao Festival saias, croppeds, porta bic, bolsas, tudo feito em crochê e a mão por ela mesma. Mas o item mais importante foi um boné.

O boné foi o primeiro item confeccionado por Larissa para a sua marca. Ela conta que sempre viu nos bailes funks de São Paulo os irmãos e outras pessoas usando o acessório.

A Shark Crochê carrega as simbologias e as vivências do funk, peças com desenhos do Tony Country, Irmãos Metralha e Tio Patinhas são a cara da marca.

A predominância do uso dos bonés e dessas estampas sempre foi masculina, mas Larissa quer mudar esse cenário.

“As mulheres também querem usar esses acessórios porque ter esses itens para elas é um ato crítico, também social e político”.

Larissa Ramos, estilista.

Quem escreveu

Inscreva-se na nossa

newsletter

MATÉRIAS MAIS LIDAS

ÚLTIMAS MATÉRIAS

NEWSLETTER EMERGE MAG

Os principais conteúdos, debates e assuntos de cultura, direitos humanos e economia criativa interseccional no seu e-mail. Envio quinzenal, às quartas-feiras.