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Elas fazem o baile delas: mulheres lésbicas no funk

20/09/2021

Jovens cantoras versam sobre as vivências, prazeres e safadezas de mulheres que amam mulheres – e elas tão poderosas

A carioca Mc Marie começou a carreira no funk em 2015, quando gravou sua primeira música em um estúdio no Morro do Palácio, comunidade que morava em Niterói, no Rio de Janeiro. Sapatona convicta, e agora moradora de São Paulo, suas letras versam sobre ser lésbica no rolê, curtir com as amigas e dar uns beijos na boca. Seu último lançamento, o estralado 150 bpm Gosto Muito, chegou nas plataformas digitais no Dia da Visibilidade Lésbica. A música enfatiza o orgulho de ser mulher sapatão e ironiza a conduta sexual masculina; a faixa teve produção de DJ Tezinho, que também está em ascensão na cena (veja o clipe abaixo). A Mc comenta:

“Eu tô fazendo a música que eu passei a vida toda querendo ouvir, e quero que outras sapatão do funk também ouçam – e eu sei que elas existem, mesmo a gente sendo minoria nesses espaços”

A Mc conta que ainda há pouco espaço para mulheres no funk e que, nos estúdios, costuma se ver cercada de homens, que raramente a escutam e tesouram suas ideias criativas. “Eu preciso insistir muito para ser ouvida”, diz ela, que espera que seu trabalho fomente o crescimento de outras lésbicas no funk. “Quero a ascensão das minas e de toda comunidade queer”, finaliza.  

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E, MAIS UMA VEZ, A INVISIBILIDADE LÉSBICA 

Para vocês entenderem o papo, trago um recente levantamento feito pela plataforma Energia Dykezona, que analisou 15 playlists autorais do Spotify com artistas LGBTQIA+ e identificou que apenas 7,5% das faixas eram de mulheres lésbicas – gente, somos a primeira letra da sigla, uma porcentagem dessa é tiração. Ou seja, a invisibilidade de mulheres lésbicas é muito grande. Além disso, quando retratam lésbicas no funk, dificilmente nos identificamos com o que ouvimos e vemos nas telas, mesmo o funk sendo uma cultura forte da quebrada que colabora para ascensão, lazer e renda de diversas pessoas. 

Uma das artistas que têm conseguido se infiltrar nessa estrutura é Mc Dricka, mulher preta e lésbica que, há poucas semanas, teve uma foto estampada num banner gigante na Times Square em Nova York, um dos pontos turísticos mais conhecidos do mundo, numa ação publicitária do Spotify. Outro motivo de comemoração para a Rainha dos Fluxos (e para nós) foi a sua indicação de Melhor Artista Novidade Internacional no BET Awards 2021, premiação estadunidense que celebra a cultura negra. A artista, de apenas 22 anos, disse na época:

“Fico extremamente feliz em representar o funk e levar esse movimento para além da bolha periférica do nosso país. Sinto que a cada dia que passa estamos dando um passo maior para mostrar pro mundo o poder das mulheres em geral.” 

Vale lembrar que o funk – o segundo ritmo mais ouvido do Brasil, atrás apenas do sertanejo – também é som de exportação. Um levantamento feito pelo DeltaFolha a partir das 200 músicas mais ouvidas no Spotify em 51 países mostrou que o funk é o gênero que mais “hita” internacionalmente. Ah, não nos esquecemos: tamanho impacto (e reconhecimento tardio) só foi possível com muita luta de mulheres como Tati Quebra Barraco, Valesca Popozuda, MC Kátia e Deize Tigrona, que abriram caminhos e inspiraram a nova geração de cantoras – quem aqui se lembra de quando Injeção, de Deise, foi sampleada por Diplo na música “Bucky Done Gun”, da cantora MIA em 2015? É sobre isso.

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SARRA NELA 

MC MANO FEU: MÚSICA DE PUTARIA LÉSBICA (Foto: Bella Tozini)

Além da questão básica da representatividade, o funk de mulheres que amam mulheres traz narrativas, palavras, modos de agir, prazeres e safadezas (risos) que só quem é lésbica entende #amo #sou.

Uma cantora que simboliza as lésbicas no funk é Mc Mano Feu. Nascida na cidade de Campinas, interior de São Paulo, aos 12 anos ela já mandava umas rimas no papel inspirada nas famosas apresentações da Furacão 2000, como a famosa música “Créu”, do Mc Créu (“velocidade 5 na dança do crééééu”). Em casa, onde também escrevia poesia, as influências musicais eram o samba, uma paixão da família, e o rap, o ritmo mais ouvido em sua quebrada. Deste caldo somado a inúmeros downloads, MC Mano Feu passou a compor putaria lésbica em 2018, num projeto com a festa sapatão Fancha (no vale, Fancha é sinônimo de lésbica). 

“Articulações independentes, feita por nós e para nós, são maravilhosas; só o povo salva o povo, e a gente juntas faz acontecer.”

MC MANO FEU, ARTISTA

Lançada no dia do Orgulho LGBTQIAP+, sua música “Linguadinha na XXT” contou com uma equipe voluntária de mais de 20 mulheres lésbicas e bissexuais e pessoas não-binárias que amam mulheres para divulgar e produzir o clipe (tudo, né?). Como revela o título, a faixa é divertida e feita para entreter, ou seja, feita para a gente sarrar nelas mesmo. “Tem muita mulher lésbica talentosa e o preconceito é só uma forma hipócrita de tirar boas pessoas do mundo”, finaliza a cantora.

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