Imagine um coletivo formado unicamente por mulheres de origem periférica e dedicado a aumentar a acessibilidade à arte. Some agora o panorama efervescente de festas de São Paulo, resistência feminina e experimentação musical. Qual é o resultado? A Bandida Coletivo, que reúne DJs, produtoras musicais e uma videomaker – e eleva o protagonismo das mulheres no cenário de música eletrônica.
Fundado no final de 2016, o coletivo é formado pelas DJs e produtoras musicais Rafaela Andrade (BadSista) e Leticia Martinez (Sijeh), a produtora cultural Jéss Pauline, a videomaker e fotógrafa Talita Brito (Gringarte) e as DJs Duda Bernardes (Blackat) e Tati Lisbon.
Uma das maiores realizações do coletivo é a festa Bandida, que acontece de maneira itinerante e tem line-ups compostos apenas por mulheres. Além das DJs residentes, há espaço para artistas convidadas. Em sua primeira edição, realizada no CDC Vento Leste (Patriarca), em dezembro de 2016, a festa contou com shows de Linn da Quebrada e da DJ Mílian Dolla.
Em eventos em parceria com outros coletivos e festas, elas já se apresentaram ao lado de artistas como Jup do Bairro, Liniker, Tássia Reis, Alma Negrot, Mika Safro, Kennya, Milian, Evehive, Aisha e Yaminah e Dellacroix. No início de 2017, elas realizaram uma festa de rua no Vale do Anhangabaú. Meses depois, participaram de um editorial para a marca de moda independente ZHOI, onde foram modelos e apresentaram um DJ set no evento de lançamento da coleção. Ano passado, elas tocaram no SP Na Rua, junto aos coletivos 1000c e Tormenta.
Recentemente, durante o carnaval paulista de 2018, elas tocaram por horas no bloco SP Beats, que reuniu artistas e coletivos independentes de música eletrônica da cidade.
“Nosso intuito é evidenciar talentos musicais que não encontram reciprocidade na cena cheia de estigmas e preconceitos”
Em questão de linhas musicais, o foco do coletivo é a música eletrônica, que une estilos como o funk, dancehall, moombahton, global bass, footwork, brokenbeats, techno, disco, house, jersey club, bassline e hip hop.
E quais são as influências que formam esse caldo sonoro?
Ainda bebê, Jéss Pauline, por exemplo, costumava dormir no colo da mãe ao som de Beatles e Vinicius de Moraes. Na infância, se empolgava na escola ouvindo axé. Hoje, para aprimorar o ouvido de produtora, escuta de tudo um pouco, como Rimas e Melodias, Rico Dalasam, Donna Summer, Stromae, Elza Soares e Nina Kraviz. “As pessoas esperam que a gente cite apenas mulheres e mostre o quão engajadona somos”, diz Jéss. “Mas é louco, pois a maioria das minhas referências musicais ao longo da vida é masculina – e isso diz muito sobre o mainstream”.
Já no radinho de Blackat costuma tocar músicas das rappers americanas Princess Nokia e Lizzo. “Me sinto poderosa quando ouço outras minas cantando sobre os mesmos dilemas que eu vivo diariamente”, diz ela.
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Um dos diferenciais da Bandida Coletivo são as apresentações B3B, quando três DJs tocam simultaneamente. Cada uma delas tem focado em estilos de música específicos. BadSista no Guetto Club, Tati no Techno, Blackat no Bassline e Sijeh no Afrohouse. No entanto, a pesquisa das DJs é ampla e contemplam diversas outras referências e estilos.
Juntas, as seis integrantes do Bandida Coletivo escolheram 16 músicas para a Emerge Rádio. A ideia não foi apenas reproduzir sons que elas tocam em festas, mas também mostrar músicas que as inspiram no dia a dia, que as confortam durante momentos de descanso ou que possuem letras que mandam aquela visão.
Fundadora do coletivo, BadSista já tocou na festa de abertura da Casa de Criadores e assinou a direção musical do álbum Pajubá, de Linn da Quebrada, no final de 2017. Há poucas semanas, ela lançou a música Say Goodbye com o cantor Jaloo. Para a nossa playlist, escolheu Just Friends, de Amy Whinehouse. “Foi a primeira música que ela cantou no único show em São Paulo”, lembra.
Já Gringarte escolheu a faixa Prima Donna, de Vince Staples. “É incrível como o diretor de videoclipes Nabil Elderkim constrói suas narrativas, como no clipe da música Prima Donna”, afirma ela.
Confira a playlist completa da Bandida Coletivo. É necessário estar logado no Spotify para ouvir as músicas.
FOTO: Divulgação