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Por dentro de uma ball de vogue de quebrada

08/05/2024

Ball de vogue do Coletivo Amem homenageia artistas LGBTQIA+, negros e periféricos que construíram a cultura brasileira.

Situado na zona sul da cidade, o Capão Redondo é o terceiro maior distrito de São Paulo. São mais de 270 mil pessoas numa área de 13 mil m². Berço de Mano Brown e Jup do Bairro, o local tem histórico de efervescência cultural. Foi lar da poeta e performer Tula Pilar, organizadora de saraus e autora dos livros Palavras Inacadêmicas (2004) e Sensualidade de fino trato (2017). Mesmo natural de Embu das Artes, também foi querida pela Família Trindade, responsável por preservar tradições culturais afro-brasileiras por meio da capoeira.

No último sábado de abril (27), foi a vez do Capão Redondo ser palco de Ball: Isso é Baile, evento de Ballroom, movimento cultural que reúne competições de beleza e dança e shows musicais. Realizado na Fábrica de Cultura, o evento foi uma comemoração de 112 anos do distrito e do Dia Mundial da Dança (29/4).

Ah, uma rápida contextualização para quem não está por dentro: a cultura Ballroom se popularizou em Nova Iorque na década de 1960. Foi criada por pessoas negras e latinas que, por causa do racismo, eram excluídas dentro da comunidade LGBTQ+.

Num contexto de forte discriminação, os eventos Ballroom se tornaram um ambiente seguro, acolhedor e de resistência e celebração. Uma das principais categorias do baile é o Voguing, dança inspirada nas poses que as modelos faziam em páginas das revistas de moda, como a Vogue.

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DIVERSIDADE DA DIVERSIDADE

A Ball de Vogue do Capão Redondo reuniu houses (coletivos de artistas) de diferentes regiões de São Paulo e outras capitais do Brasil, como a Casa de Mandacaru, de origem alagoana, e a Casa Maniva, do Amazonas. Com 10 categorias, contemplou uma variedade de identidades queer, trans, negras e periféricas nas passarelas.

A mesa de júri foi composta por figuras renomadas na cena Kiki Ballroom, como Brunessa Loppez, moradora do Capão conhecida na comunidade como Statement Cussy Candace, e Legendary Ágatha La Raia, moradora do Cantinho do Céu, outro bairro da periferia da zona sul.

A trilha sonora foi uma mistura de influências, um tributo à ecleticidade da cultura do Capão Redondo. Sob o comando dos DJs Kaim e Aya, a pista de dança se tornou um campo de energia, com hip hop, funk e house music se entrelaçando em harmonia.

Houve shows e performances de Harrley, ex-integrante do Quebrada Queer e preste a lançar seu primeiro álbum solo, e Natasha Princess, a princesa famosa por seu bate-cabelo – ambas são naturais do Capão. No comando da cerimônia, Legendary Biel Lima, artista integrante do Coletivo AMEM, ao lado de Legendary Zaila Candace e Star Tasha Dengo.

“É o puro suco da diversidade dentro da quebrada”

BIEL LIMA, DO COLETIVO AMEM

Fundado em 2016, o coletivo Amem é formado por artistas, produtores e ativistas afro LGBTQIAPN+. Sua principal atividade é a Festa Amem, um espaço de circulação de artistas independentes, acolhimento e de transmissão de conhecimentos através da vida noturna.

Além da Ball: Isso é Baile o coletivo realiza as balls anuais Vera Verão, Kiki Ball Afrodiaspórica e Pajuball, além de eventos como Parada Preta, Samba da AMEM e Batalha de Manas. Comprometido em promover os direitos humanos e exaltar vidas pretas periféricas LGBTQIAPN+, o coletivo levanta importantes pautas que acendem debates sobre raça, classe, gênero, sexualidade, saúde da população preta, HIV e estigma.

Ball de Vogue na periferia de São Paulo
BALL DE VOGUE REUNIU HOUSES (COLETIVOS DE ARTISTAS) DE DIFERENTES CIDADES BRASILEIRAS

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O CLOSE E O CORRE ANCESTRAL

O evento no Capão Redondo foi a segunda edição de Ball: Isso é Baile. A primeira aconteceu em abril de 2023, na Praça das Artes, no centro da capital. A inspiração veio de personalidades emblemáticas da dança, que têm moldadas as gerações do presente e do futuro.

Um dos homenageados foi o bailarino e coreógrafo Ismael Ivo. Homem, negro e gay, Ismael teve um longa e frutífera carreira, sendo um dos destaques no mundo da dança na sua geração. Foi a primeira pessoa negra a ocupar o cargo de diretor da companhia de Balé da Cidade de São Paulo. Ismael faleceu em 2021, aos 66 anos.

Marcia Dailyn também já foi homenageada no evento. Além de ser a primeira bailarina trans a integrar o corpo de balé do Teatro Municipal de São Paulo, ela é uma musa do bloco carnavalesco Baixo Augusta há dez anos e atriz da companhia de teatro Os Satyros.

De acordo com Biel, a AMEM traz a união das artes periféricas e diversidade da comunidade LGBTQIAPN+ preta e latina de forma sintetizada em uma Ball. A proposta é enaltecer nomes importantes na construção da cultura da comunidade.

“Enaltecemos artistas que fizeram diferença na dança, mas que são deixados de lado pelo fato de serem de pessoas periféricas, pretas e LGBTQIAPN+”

BIEL LIMA
Ball de Vogue na periferia de São Paulo
ZAILA, MC E COREÓGRAFA: “ISSO COMBINA COM O MEU CORPO, ISSO É FÁCIL PARA MIM”

FOTOGRAFIAS: Cintia Rizoli 👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼

Quem escreveu

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Guilherme Schanner

Graduado em jornalismo pela Universidade Mackenzie, gosta de escrever e falar sobre cultura e sustentabilidade. Apaixonado pela natureza, é líder escoteiro desde a infância. Com experiência em produção e edição de conteúdo digital, trabalhou no Fala! Universidades.

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