“Eu uso a fotografia para confrontar e curar, por isso me denomino artista visual”, é assim que Zanele Muholi se descreve ao apresentar suas fotografias, vídeos e outras obras que representam a comunidade negra LGBTQIA+ na África do Sul e no mundo.
Muholi nasceu em 1972, durante o Apartheid. Mesmo com o fim do regime e a criação de uma nova constituição em 1996, que proibiu a discriminação racial, sexual e de gênero. Porém, as medidas não foram suficientes para eliminar o racismo e o preconceito.
A fim de combater o ódio, Muholi estudou fotografia e trabalhou em projetos que expunham a violência cotidiana. De 2002 até hoje, mais de 100 projetos foram feitos.
Agora, parte dos projetos podem ser vistos no Instituto Moreira Salles, em São Paulo, que apresenta a primeira exposição individual de Zenele Muholi no Brasil, com obras inéditas produzidas no país.
A exposição, que também é uma grande retrospectiva da carreira da artista, destaca como a obra e o ativismo se fundem em prol da comunidades negra LGBTQIA+.
Com o nome Beleza Valente, a primeira exposição individual de Muholi no Brasil inaugura dia 22 de fevereiro. Na data, a artista participará de uma conversa com o público, às 15h, e de uma sessão de autógrafos do catálogo da retrospectiva, às 17h. Toda a programação é gratuita.
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BELEZA VALENTE
A exposição apresenta mais de 100 obras, incluindo fotografias, vídeos e pinturas. Há também a escultura de bronze A portadora das águas (Mmotshola Metsi), de 2023, e as principais séries da artista, como Faces e fases (Faces and Phases), Somnyama Ngonyama e Bravas belezas (Brave Beauties).
Por sua vez, as obras inéditas foram produzidas no Brasil em 2024, quando Muholi participou do Festival ZUM e conheceu organizações e instituições LGBTQIAPN+. Os trabalhos representam um diálogo entre a história da luta por direitos humanos no seu país e o contexto brasileiro.
“Tudo o que eu quero ver é apenas a beleza. E beleza não significa que você tenha que sorrir, mostrar os dentes ou se esforçar mais. Basta existir”
Zanele Muholi, artista
Sua retrospectiva expressa que a beleza é uma forma de luta e oposição à violência contra pessoas da comunidade negra LGBTQIA+. Muito de seu trabalho é retratar as pessoas com suas roupas e poses favoritas e em situações que valorizam sua imagem e aparência.
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Muholi evita a objetificação, que marca grande parte da história da fotografia, em especial o registro de pessoas negras. Com isso, cria um grande álbum de uma família escolhida, um arquivo de fotografias de pessoas que historicamente foram excluídas das representações oficiais.
Segundo Daniela Queiroz, curadora da mostra ao lado de Thyago Nogueira e Ana Paula Vitorio, Muholi tem lutado diariamente pelo reconhecimento do sólido arquivo da comunidade negra LGBTQIAPN+ e da relevância de fazê-lo perdurar na história.
“Nomear e arquivar se tornam maneiras de sobreviver à morte física e, não menos importante, resistir à morte simbólica, psicológica e intelectual que o sistema patriarcal branco e heterossexual tenta insistentemente imputar à comunidade”, afirma Daniela.
SERVIÇO
Exposição Zanele Muholi: Beleza valente
De 22 de fevereiro até 23 de junho.
Instituto Moreira Salles (IMS)
Av. Paulista, 2424 – Bela Vista, São Paulo (SP).
Gratuito.
Possui recursos de acessibilidade, como pranchas táteis, audiodescrição e legendas.
Conversa com Zanele Muholi e a equipe curatorial
22 de fevereiro, das 15h às 16h30.
Cinema do IMS Paulista.
Entrada gratuita, com distribuição de senhas a partir das 14h. Limite de 1 senha por pessoa.
Lançamento do catálogo da exposição e sessão de autógrafos
22 de fevereiro, das 17h às 18h30.
Entrada gratuita.