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De Belém para o mundo: Miss Tacacá no Burning Man

31/08/2020

Um dos maiores festivais de música e cultura do planeta exibirá um set visual da DJ paraense e ainda terá uma programação com mais de 50 artistas brasileires

Quem não viveu, pode não saber, mas o que passa na sua cabeça quando se fala de elementos da cultura paraense? Se você pensou em açaí e no Círio de Nazaré, errado não tá, mas entenda: a cultura do Pará é muito mais vasta, diversa e tecnológica. Quem anda pelas ruas da periferia de Belém pode se deparar com festas de tecnomelody e brega funk, com aparelhagem e sistemas de som imponentes e modernos equipamentos de iluminação e efeitos visuais. Quem nos dá a visão é Miss Tacacá, DJ e produtora cultural paraense – atualmente radicada em São Paulo – especializada em ritmos eletrônicos amazonenses. A Xerosa comenta:

“A construção da minha arte veio da necessidade de criar meu próprio espaço e me reconectar com minha cultura. Quem é da periferia de Belém sabe que é brega o dia inteiro na rua e carro de som passando oferecendo cortesia de festa”

A partir desta segunda (31/08), milhares de pessoas ao redor do mundo sentirão o peso das festas periféricas de Belém. Miss Tacacá participará do Burning Man Virtual 3D 2020, junto com o coletivo Tesãozinho Inicial.

Realizado anualmente desde 1986, o Burning Man é um dos maiores festivais de música e cultura do país e costumava reunir mais de 50 mil pessoas num acompanhamento a céu aberto em Black Rock Desert, em Nevada, nos Estados Unidos.

MISS TACACÁ: ANCESTRALIDADE INDÍGENA E TRAVESTI

Nos sete dias de festival, era comum ver muita gente nua com o corpo pintado; carros alegóricos; barracas enfeitadas e instalações gigantes, como uma escultura de um homem de madeira alçado a 24 metros de altura que costuma ser queimada durante o evento. Os organizadores do Burning Man costumam definir o festival como “um experimento social colaborativo e de comunidade” e “uma alternativa para a cultura de massas a sociedade consumista e capitalista” – hoje, sabemos que não é bem assim, pois o festival é super mainstreamming.

A grande novidade da edição 2020 do Burning Man será a exibição de mais de 50 artistas brasileires, do norte ao sul do país, dentro de uma programação extensa que acontecerá em uma plataforma virtual com acesso aberto entre os dias 30 de agosto e 6 de setembro: uma maneira de se adaptar à realidade pandêmica mundial. O palco-instalação da Tesãozinho Inicial será a reprodução da aparelhagem típica de Belém do Pará em formato 3D e funcionará com uma plataforma flutuante de exibição independente e colaborativa de diversos artistas convidados.

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VISIBILIDADE NÃO PAGA OS BOLETOS

Em conversa exclusiva a Emerge Mag, Tacacá contou que exibirá um set-visual-filme criado a partir do imaginário de suas vivências, de forma abstrata, interagindo com diversas linguagens. Com cerca de 30 minutos, a obra é uma crítica certeira ao “cistema” e retrata a trajetória da artista, que retorna a sua ancestralidade indígena e travesti para se fortalecer e ascender. A exibição do filme acontecerá hoje, às 22h30 (horário de Brasília). Para assistir, cadastre-se na plataforma Multiverse.

TEASER DO SET VISUAL QUE TACACÁ APRESENTARÁ NO EVENTO

Entrar em um lineup dessa magnitude, com artistas majoritariamente brancos e cisgêneros, é um feito a ser destacado e, até então, inimaginável para a própria Tacacá. Outro motivo de orgulho é representatividade da cultura nortista brasileira e a participação de corpos trans e travestis em espaços de grande poder midiático. “Onde o macho abundou, superabundou a trava. Preparem meus pés pra batalha”, diz Tacacá, parafraseando Ventura Profana.

Por aqui, é comum a grande mídia colaborar para a construção de uma imagem distorcida sobre os nortistas e na manutenção de diversos estereótipos. “Nós, pessoas da Região Norte, somos muito marginalizadas no Sudeste”, afirma Tacacá, que mora em São Paulo há cerca de três anos. “As pessoas daqui não botam fé, acham que vivemos no meio do mato e tiram a gente de bobo.”

Outra questão que Tacacá destaca é a remuneração de artistas trans, que muitas vezes são convidadas para participar de eventos que não oferecem o devido cachê (cêis tão de brincadeira, né, organizadores de eventos). “Estou super feliz porque eu investi no projeto do filme”, diz ela. “Espero que todo mundo goste, que isso me traga reconhecimento e, mais que isso, eu quero que me traga dinheiro”.

Na lista de brasileires que também participarão do Burning Man 2020 constam as bandas Noporn e Luísa e os Alquimistas, u cantor Daniel Peixote, us artistas visuais e performers Transalien e Dudx e us DJs Vincenzo e Danny Hell.

SERVIÇO
Tesãozinho Inicial e Miss Tacacá no Burning Man.
30 de agosto a 6 de setembro.
Exibição do set visual de Tacacá às 22h30 (horário de Brasília).
Veja e ouça no link.

Ficha técnica
Produtora: Amanda Mella
Concepção e direção 3D: Arthur Boeira
Produtora e artista: Miss Tacacá,
Produtora e cenógrafa: Izabela Rovigatti
Concepção 3D: Giulia Cajueiro
Produtor e artista: Pedro Athié

Fotografias: Léo Fagherazzi

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