O fantástico mundo de uma corintiana

26/03/2025

Jornalista esportiva e torcedora do Corinthians, Beatriz Martins conta a vida nas cores do time e os desafios de ser mulher no futebol.

Sentada no sofá, vestindo a icônica camisa preta e branca do Corinthians, Beatriz Martins, 25 anos, nascida no bairro da Vila Maria, em São Paulo, já sabia como seria sua noite: gritos, pulos, adrenalina e, talvez, lágrimas. 

“Minha vida tem as cores do meu time”, afirma, enquanto ajusta o cachecol alvinegro nos dias de jogo. Desde pequena, o coração de Beatriz pulsa no ritmo da Fiel Torcida, um amor que nasceu em casa e está presente em cada lembrança de infância.

A paixão de Beatriz pelo Corinthians começou cedo, aos cinco anos, antes mesmo de entender conceitos básicos do futebol, como o impedimento. Seu pai, sócio do clube desde 1979, garantiu que a pequena Bia fosse apresentada ao universo da bola. Foi durante a Copa do Mundo de 2010, aos 12 anos, que essa paixão se tornou algo maior. Com a empolgação de quem descobriu seu propósito ainda criança, ela relembra:

“Eu assistia tudo, lia, pesquisava… me apaixonei pelo Corinthians. Ali decidi que seria jornalista esportiva.”

Beatriz Martins, jornalista esportiva e corintiana.

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A MAGIA DA LIBERTADORES DE 2012

TORCEDORA MIRIM: influência do pai, sócio do clube desde 1972.

Entre as muitas memórias que carrega, a Libertadores de 2012 ocupa um lugar especial no coração de Beatriz. Naquele ano, embora não estivesse no Pacaembu, ela vivenciou cada momento em casa, com sua família. 

“Foi surreal. Meu irmão quase caiu da sacada, minha mãe gritou, e, no final, o Corinthians foi campeão. Aquela noite foi mágica”, conta, emocionada. 

A final foi marcada por quedas de energia, gritos de gol e a inquietação típica de uma decisão, consolidando um momento inesquecível em sua vida.

Estar em um estádio é, para Beatriz, uma experiência única. O primeiro jogo que a marcou profundamente foi a final do Campeonato Paulista de 2009, quando Ronaldo Fenômeno brilhou com um gol de cobertura. 

“Aquele gol foi pura arte. O Pacaembu explodiu, e eu entendi o que é sentir o coração do estádio batendo junto com o seu”, diz ela, com os olhos brilhando.

Sua conexão com o futebol vai muito além da arquibancada. Beatriz tem o escudo do Corinthians tatuado em sua pele, uma marca permanente que celebra sua dedicação ao clube. Essa decisão foi tomada após trabalhar diretamente no Corinthians por cinco anos. 

“Ser corintiana é mais que torcer, é carregar uma alma eterna alvinegra.”

Beatriz Martins, jornalista esportiva e corintiana.

O DESAFIO DE SER MULHER NO FUTEBOL

Beatriz é uma voz feminina em um ambiente que ainda é majoritariamente masculino. “Já ouvi muito: ‘você sabe mais que muito homem.’ Mas o desafio não é só provar isso; é ser reconhecida como alguém que entende, estuda e vive o futebol”, desabafa. 

Sua trajetória no jornalismo esportivo tem sido construída com esforço, estudo e enfrentamento de preconceitos.

Inspirada por profissionais como Ana Thaís Matos e Denise Bastos, que abriram caminho em um mercado historicamente hostil às mulheres, Beatriz também enaltece iniciativas como o “Mina de Passe”, da ESPN, que busca ampliar a presença feminina na cobertura esportiva. 

Apesar de sua paixão pelo futebol masculino, Beatriz nutre um carinho especial pelo futebol feminino, que merece tanto respeito quanto o masculino. 

“Ver as meninas do futebol evoluírem, conquistando espaço e quebrando barreiras, é inspirador”

Beatriz Martins, Beatriz Martins, jornalista esportiva e corintiana.

A ASCENSÃO DO FUTEBOL FEMININO NO BRASIL

A trajetória do futebol feminino no Brasil é marcada por um histórico de exclusão. Entre 1941 e 1979, a prática foi proibida por decreto sob o argumento de que não era “adequada à natureza feminina”. Mesmo após a liberação, o preconceito e a falta de investimento limitaram o desenvolvimento da modalidade.

Nas últimas décadas, esse cenário começou a mudar. Atletas como Marta, Cristiane e Formiga lideraram uma revolução no esporte. Marta, por exemplo, tornou-se a maior artilheira da história das Copas do Mundo (feminina e masculina), com 17 gols, e foi eleita seis vezes a melhor jogadora do mundo pela FIFA.

Segundo a CBF, em 2023, o Brasil contava com 24 clubes femininos registrados em competições nacionais, representando um aumento de mais de 60% em relação a 2018. A final do Campeonato Brasileiro Feminino daquele ano alcançou mais de 2 milhões de espectadores na TV aberta e plataformas de streaming, um marco que demonstra o crescente interesse do público.

Esse avanço é impulsionado por políticas de incentivo, como a exigência de que os clubes da Série A masculina mantenham equipes femininas para participar de competições. 

Além disso, os investimentos na base têm mostrado resultados promissores, com a Seleção Brasileira Sub-20 alcançando bons desempenhos em torneios internacionais.

REPRESENTATIVIDADE: Time feminino do Corinthians foi eleito 3° melhor do mundo em 2024 (Foto: Ettore Chiereguini/AGIF).

MULHERES NOS BASTIDORES DO FUTEBOL

O crescimento do futebol feminino vai além das quatro linhas. Beatriz destaca a expansão da presença feminina nos bastidores do esporte, em áreas como jornalismo, arbitragem, gestão e comissões técnicas. 

“Ter mulheres no universo esportivo não é só uma questão de representatividade; é sobre competência e paixão”.

Beatriz Martins, jornalista esportiva e corintiana.

Projetos como o Brasileirão Feminino A1, que oferece mais visibilidade e estrutura para as atletas, também são destacados por ela. Em 2023, a premiação do campeonato foi 50% maior, refletindo a valorização do trabalho das mulheres no futebol.

Para Beatriz, a luta pela igualdade no esporte transcende as estatísticas. “Estamos construindo um caminho para que a próxima geração de mulheres no futebol encontre menos obstáculos e mais oportunidades”, reflete. O futebol feminino, assim como a jornada de mulheres como Beatriz, é um instrumento de transformação e empoderamento.

O RITUAL DA PAIXÃO

Nos dias de jogo, Beatriz segue rituais que já viraram tradição. A regra principal é simples: evitar o verde, cor do maior rival, mesmo que esteja longe do estádio. Depois, escolhe cuidadosamente sua camisa da sorte, acreditando que ela carrega todas as boas vibrações necessárias para o time. 

ESTILO DE VIDA: jornalista esportiva e torcedora apaixonada.

“Se tem uma coisa que não muda é o uniforme. No resto, vale tudo: gritar, pular, chorar. Cada partida é um evento único, cheio de emoção e adrenalina.”

Assistindo pela TV ou na Arena Corinthians, Beatriz transforma cada jogo em uma experiência quase espiritual. Para ela, o futebol vai além do esporte; é uma maneira de viver e sentir. 

“Cantar com a Fiel é algo que não dá para explicar. É como se fosse uma força que vem do coração, uma onda de paixão que toma conta de você e do estádio inteiro.” 

Como toda torcedora, Beatriz já experimentou os altos e baixos do futebol. “As eliminações doem, mas as conquistas apagam qualquer tristeza. O Corinthians ensina que a superação faz parte da jornada.”

Seja como jornalista esportiva ou como torcedora apaixonada, Beatriz Martins é a prova de que o futebol é mais do que um jogo: é uma forma de vida. Cada partida é um capítulo na história que ela continua escrevendo com o coração alvinegro. E, como ela mesma afirma: “Corinthians é minha vida. Minha vida é Corinthians.”

Fotografias: arquivo pessoal.

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Revista digital de cultura, direitos humanos e economia criativa interseccional e consultoria de diversidade e impacto social (ESG).

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