Casa Fúria acolhe pessoas LGBTQIA+ sobreviventes do cárcere

Inaugurada em 11 de junho, Casa Fúria oferece atividades culturais e formativas, além de discutir o abolicionismo penal e as vulnerabilidades de pessoas LGBTQIA+ nas prisões.
Luíza Fazio: lésbicas na frente e atrás das câmeras

Roteirista de “Sintonia”, Luíza Fazio escreve longa-metragem infantil sobre um amor lésbico e quer subverter normatividade que ronda o cinema Histórias de amor lésbico são documentadas há pelo menos 2,6 mil anos. No século 6 a.C., a poeta Safo já colocava como tema central de suas obras relacionamentos homossexuais entre mulheres. Inclusive, é por causa dela que usamos a palavra lésbica, que originalmente designa “alguém de Lesbos”, ilha grega em que a poeta vivia. Por que, então, é tão difícil vermos essas relações representadas na televisão, nos livros ou no cinema? Escritora de séries como “Sintonia” (Netflix), “Sentença” (Amazon Prime), “LOV3” (Amazon Prime) e “Cidade Invisível” (2ª temporada/Netflix), a roteirista Luíza Fazio tenta subverter essa normatividade que ronda as histórias que assistimos nas telas e lemos nas páginas dos livros. Em sua trajetória, a brasileira conta histórias de protagonistas diversos, sobretudo mulheres e pessoas LGBTQIAP+, com o objetivo de ampliar olhares e narrativas e mostrar contextos poucos vistos nas telas. Luiza diz que o lance é não imaginar personagens dentro de estereótipos, e sim humanizá-los dentro de suas diferenças. “Quando há personagens complexos, lidando com diferentes problemas, o público engaja e torce por eles. Humanizamos a experiência de alguém que existe na vida real” Recentemente, a roteirista foi nomeada pela embaixada dos Estados Unidos em Brasília para a residência artística The International Writing Program (IWP) da University of Iowa (EUA). Desde 1967, o programa reúne anualmente 35 escritores de todas as partes do mundo, incluindo os brasileiros Milton Hatoum e João Ubaldo Ribeiro. Além disso, ela escreve uma série de comédia para a Paris Entretenimento e, ao lado de Anahí Borges, seu primeiro longa-metragem de animação: uma adaptação para o cinema do livro “A Princesa e a Costureira” (2015), de Janaína Leslão, que conta a história de uma princesa que se apaixona pela costureira de seu vestido de noiva. Em entrevista à Emerge Mag, a roteirista Luíza Fazio conta como tem sido a experiência de integrar a residência artística mais antiga do mundo, fala sobre os seus novos projetos e comenta sobre diversidade na frente e atrás das câmeras. Confira abaixo a entrevista completa com a roteirista Luíza Fazio Falando dos seus projetos futuros… Vi que você está trabalhando em uma animação. Poderia me falar mais sobre isso? Essa animação é uma adaptação de um livro infantil da Janaína Leslão “A Princesa e a Costureira”, em que uma princesa se apaixona pela costureira do seu vestido de noiva. Eu e a Anahí Borges (corroteirista) estamos adaptando esse livro para um longa-metragem e é a minha primeira vez trabalhando com longa e animação. Eu decidi entrar nesse projeto porque sempre foi o meu sonho escrever um longa infantil, especialmente um musical, e a história e a temática me envolvem muito. Acho que pode ser algo muito bonito e que traz a perspectiva de um relacionamento lésbico atual para crianças de uma maneira muito natural e fofa, porque é assim que é. Você acredita que o cinema vem dando mais espaço a relacionamentos lésbicos? Como você enxerga as narrativas dessas personagens? Acredita que ainda são muito apagadas/fetichizadas? Acho que o cinema vem dando mais espaço para relacionamentos lésbicos, mas a narrativa ainda é muito sobre duas mulheres brancas e femininas. É uma estética de casamentos lésbicos que “vendem”. É muito difícil vermos um relacionamento entre duas mulheres butches, duas mulheres negras, ou gordas. São relacionamentos que têm dilemas e questões diferentes do que o casal lésbico padrão. Como agora as coisas estão se abrindo um pouco mais, dá para explorarmos outras narrativas. Uma tentativa interessante foi em Euphoria, onde temos a relação entre a Rue (Zendaya) e a Jules (Hunter Schafer), que é uma menina trans. O caminho que foi levado na segunda temporada foi horroroso mas, enquanto primeira temporada, tem questões muito interessantes da sexualidade da Jules em relação a Rue, que são outras complexidades. Em várias entrevistas suas, você comenta sobre a falta de diversidade por trás das câmeras. Como você acha que isso impacta na falta de diversidade em frente às câmeras? Acredita que uma coisa está diretamente relacionada à outra? Sim, com certeza. Eu falo muito da representatividade LGBTQIAP+ porque a gente sente na pele o “cadê eu”. E esse sentimento faz a gente criar um senso crítico do quão importante é colocar diferentes narrativas, vozes e pessoas em tela para mostrar que elas existem e são complexas. É uma forma de ajudar a visibilizar diferentes narrativas que não só a “hollywoodiana” do homem cisgênero, branco e hétero. Acho que quanto mais a gente consegue diversificar as pessoas que estão atrás das câmeras, mais esse assunto é tratado com naturalidade e sai de uma esfera “a gente precisa ter um personagem gay porque senão seremos cancelados na internet”. Sai da necessidade de ser apenas uma estratégia de marketing para ser algo que as pessoas realmente se importam. Como está sendo a experiência de ser uma das 35 escritoras escolhidas para viver a residência artística The International Writing Program nos Estados Unidos? Quais momentos têm sido mais marcantes para você? As trocas que estamos tendo aqui são muito intensas e incríveis, porque tem pessoas do mundo todo e de diferentes backgrounds. Cada um tem a sua forma de arte e de escrita específica. Uma pessoa que me marcou muito foi Tariro Ndoro, uma poeta do Zimbábue, que é um país que não recebemos muitas notícias aqui no Brasil por milhares de fatores. Ela conta muito sobre como é a realidade no Zimbábue diante de uma inflação que se assemelha muito à que o Brasil vivia nos anos 1980. Mas, ao mesmo tempo, é incrível como as pessoas conseguem colocar isso na sua arte. O Zimbábue tem uma cena literária muito efervescente, e vários aspectos disso nós não temos acesso com tanta facilidade na mídia brasileira. Isso me inspira muito a pensar em diferentes narrativas, pessoas e realidades. Você está conhecendo pessoas de todas as partes do mundo na residência artística. Como você sente essa troca cultural das percepções
Brisa Flow traz amor entre pessoas originárias para as telas

“Making Love”, lançamento de Brisa Flow, tem como tema principal o afeto entre origináries que, infelizmente, não está presente no audiovisual Desde o lançamento de seu álbum de estreia, “Newen”, em 2016, Brisa de la Cordillera, também conhecida como a artista mapurbe Brisa Flow, constrói sons e imagens a partir da vivência de seu corpo no mundo, criando caminhos que desprendem das amarras da colonialidade. Criada em Minas Gerais, Brisa é pesquisadora, defensora da música indígena e ativista dos direitos dos povos originários. Em suas canções, ela pauta discussões políticas como a luta pelo território, demarcação de terras, moradia, mulheres indígenas e periféricas, maternidade, mercado de trabalho e corpos marginalizados, como a comunidade LGBTQIAP+. No último dia 13, a cantora lançou “Making Luv”, single que precede seu terceiro álbum, “Janequeo“, que estará disponível ao público em junho de 2022. Em um período em que pessoas indígenas aparecem constantemente na imprensa apenas em situações de violência, Brisa traz como tema o afeto entre pessoas originárias. A artista conta que a canção surgiu quando o beatmaker e MC Tidus, natural de Las Vegas, a encontrou na internet e falou que queria produzir uma música com ela. Assim que Brisa recebeu o instrumental, já ficou “empolgada” e sentiu que queria fazer uma música e gravar um clipe com origináries protagonizando afeto já que, infelizmente, isso não está presente no audiovisual. Ela complementa: “Esse é um reflexo do colonialismo que não nos quer felizes. Ainda vivemos em Abya Yala, com o genocídio dos povos originários, que nos mata para garimpar e vender terras e destrói culturas, línguas e conhecimentos nativos. Diante dessa violência, a prática do afeto entre pessoas indígenas torna-se um ato político. Making Luv’ é sobre amor em seus mais íntimos significados, de companheirismo a coragem” Em parceria com o coletivo Mi Mawai, o audiovisual foi gravado na Mata Atlântica e ilustra o entrelaçar dos corpos pelas tranças e o movimentar dos mesmos com a Terra e as águas, como práticas de amor não coloniais. A construção da obra aconteceu de forma horizontal e coletiva e a harmonia da vivência se reflete no resultado. Brisa conta: “Eu já tinha trabalhado antes com o Mi Mawai, o coletivo é aliado dos artistas originários. Eu fiz a trilha sonora de um documentário que eles realizaram sobre o direito autoral na música indígena”. O clipe também tem a participação do artista audiovisual e beatmaker Ian Wapichana. Uma curiosidade interessante é que, apesar de “Making Luv” ser uma música sobre amor, o relacionamento entre Brisa e Ian só começou após a gravação do som. “O que muita gente não sabe é que eu e o Ian não éramos namorados nessa época. Nós nos conhecíamos como companheiros de trabalho no MECAInhotim, mas começamos a nos relacionar depois desse videoclipe”, afirma a artista. Assista ao clipe de “Making Luv” Leve como o vento Brisa de la Cordillera recebeu esse nome de seus pais, artesãos caminantes. A cantora, licenciada em Música pela Fiam Faam, pesquisa e defende a arte dos povos originários e o rap como ferramentas necessárias para combater o epistemicídio, que é o processo de invisibilização e ocultação das contribuições culturais e sociais não assimiladas pelo “saber” ocidental. Newen, seu álbum de estreia, foi lançado em 2016 e significa “força”, em Mapuzgundun (língua nativa do povo Mapuche). A obra musical esteve entre os 20 melhores discos do ano selecionados pelo jornal Estadão. Em 2017, ela foi a artista aposta da Folha de São Paulo e recebeu o prêmio “Olga Mulheres Inspiradoras”. Seu segundo disco, Selvagem Como o Vento, foi lançado em 2018 no Instituto Tomie Ohtake e destacou-se em listas de 50 melhores discos da música brasileira nos sites da Red Bull, Genius e outros canais de música. Em 2020, lançou de forma experimental o EP Free Abya Yala, um trabalho de improvisação jazzrap. O título significa “América Livre” ou “Terra Fértil Livre”, sendo Abya Yala (no idioma do povo Kuna) o nome que vem sendo utilizado por artistas indígenas para referir-se ao continente americano. As músicas foram produzidas em colaboração com um quarteto de jazz e inspiradas nas pesquisas de Brisa Flow sobre freestyle e música originária. O EP foi premiado e recebeu elogios pela crítica musical como um trabalho anti colonial experimental. FOTOGRAFIA: Jon Thomaz Reportagem produzida em parceria com a assessoria de comunicação ALETS COMUNICAÇÃO.
Terreiro de Mãe Alana é referência em clipe de Paulo Fraval

Cantor e compositor Paulo Fraval divulga o seu mais novo single-clipe, “Ilás de Oxalá”, que tem como referência o terreiro de Mãe Alana Alana de Carvalho é uma mulher trans e quilombola que chegou aos 40 anos vivendo no Brasil, o país que mais mata pessoas trans e travestis – entre os que contabilizam os dados. Mesmo vivendo em uma comunidade cotidianamente bombardeada pelas brutalidades da desigualdade social, dedica boa parte da vida a buscar melhorias e oportunidades para quem está à sua volta. Líder de um terreiro em Calabar, bairro periférico da cidade de Salvador (BA), Mãe Alana é uma referência no acolhimento de jovens LGBTQIA+ que se encontram em situação de abandono social. Para continuar este trabalho de amparo, foi lançada uma campanha de financiamento coletivo para a construção da Casa Dandara Amazí, que visa promover a dignidade e amparar pessoas em situação de extrema vulnerabilidade, oferecendo moradia, alimentação, educação, formação, afeto, acolhimento e respeito. Para marcar este lançamento, o cantor e compositor Paulo Fraval divulga o seu mais novo single-clipe, “Ilás de Oxalá”, que tem como referência o terreiro de Mãe Alana. Segundo o artista, a canção “fortalece a narrativa potente e poética de oração” e retrata “todas as potencialidades de Alana”, com quem tem uma forte amizade. Para a moradora do Calabar, “Ilás de Oxalá” é uma oportunidade de sensibilizar mais pessoas a doarem, divulgarem e ajudarem a concretizar o sonho de construção da Casa Dandara Amazí, que será um espaço de acolhimento e “preparação dos corpes trans para reentrada na sociedade”. Mãe Alana detalha: “Será a abertura da primeira casa estadual de acolhimento para nossos corpos LGBTQIA+. Esse sonho não é só meu, mas de todos nós. Será uma casa de preparação para reentrada na sociedade, oferecendo cursos de empreendedorismo social, formação educacional, pedagógica e letramento”. Paralelo entre candomblé e resistência LGBTQIA+ Como muitos artistas independentes, Paulo Fraval, que é natural do Ceará, sofreu com a falta de políticas públicas e apoio financeiro para gravar suas músicas, sobretudo por ser um artista queer que aborda narrativas de resistência e afetividades LGBTQIA+ periféricas embebidas por uma estética candomblecista. Segundo ele, foram dois anos idealizando essas imagens, sonhando, buscando, juntando dinheiro e planejando. “A execução deste trabalho aconteceu depois de uma longa travessia, mas Oxalá bateu o pé e nós conseguimos! Em um momento onde as pessoas sentem-se bastante confortáveis para expressar seus ódios e fobias, nós as convidamos para encontrar conforto no amor e no acolhimento”, pontua. O artista ressalta, ainda, que “Ilás de Oxalá” foi escrita por Almerson Cerqueira Passos, poeta baiano, gay, preto, do subúrbio, intelectual e grande estudioso do candomblé. Paralelo entre a religião e a resistência LGBTQIA+, a música tem forte presença da figura do Ilá que, para Fraval, é muito mais do que a voz e o modo de se identificar do Orixá quando está entre nós. “É a própria natureza falando, gritando, nos lembrando do que é Orixá: o espírito da natureza. Seguindo esta narrativa, Almerson traça um paralelo entre os nossos próprios gritos de residências que, assim como os orixás, também são diversos”, explica. Assista ao clipe de “Ilás de Oxalá”: IMAGENS: Divulgação
As estripulias musicais de Assucena

Em entrevista exclusiva, Assucena fala dos próximos trabalhos, dos desafios de se lançar na carreira solo e de sua música de estreia, “Parti do Alto” Nascida em Vitória da Conquista, na Bahia, Assucena encantou os brasileiros nos últimos seis anos de carreira. A cantora, que faz parte de uma cena em expansão de artistas LGTBQIAP+ no Brasil, começou a sua trajetória na música ainda durante a faculdade de História na Universidade de São Paulo (USP), com a banda “Preto Por Preto”, que depois se tornou “As Bahias e a Cozinha Mineira” e, por fim, “As Baías“. O trio, que também tinha Raquel Virgínia e Rafael Acerbi, lançou o seu primeiro álbum em 2015, e foi reconhecido com indicações ao Grammy Latino (2019 e 2020) e duas vitórias do Prêmio da Música Brasileira em 2018 (Melhor Grupo e Melhor Álbum). Na virada de 2021 para 2022, Assucena decidiu dar voz à sua loucura e revelar uma intimidade vocal que nunca apresentou ao público antes. Cheia de “borboletas na barriga”, a artista subiu aos palcos em dezembro com o seu primeiro projeto, o show “Rio e Também Posso Chorar”, uma homenagem aos 50 anos do disco “Fatal” de Gal Costa. Logo depois, em janeiro, lançou “Parti do Alto”, primeiro single da sua nova fase. Ela ainda apresentou o show “Minha Voz e Eu” e corre para aprontar o primeiro álbum. Vou inaugurar tudo: meu nome, minha imagem, minha equipe, minha sonoridade, meu canal, minhas derrotas e vitórias. Sabe as borboletas na barriga? Já desisti de que elas vão desaparecer. Elas já são uma fauna permanente de minha flora intestinal Em entrevista exclusiva à Emerge Mag, ela revela como tem sido esse recomeço, fala sobre a música “Parti do Alto”, que mescla cores pop com a densidade lírica de uma compositora pensante e inquieta, e comenta sobre as influências do movimento antropofágico. Confira, abaixo, a entrevista completa. Qual é o principal desafio de se lançar em uma carreira solo? A decisão veio de uma busca pelo autoconhecimento. Não é só solidão, também é solitude. Em um projeto coletivo, é necessário renunciar muito de si para que o coletivo aconteça. Cheguei em uma fase da vida em que sinto necessidade de renunciar menos, e a arte dá essa possibilidade de ser responsável pelas minhas escolhas, sem jogar nos ombros do coletivo. Os acertos são meus, mas os erros também. Qual é a principal diferença de “Parti do Alto” para os seus outros trabalhos? “Parti do Alto” é integralmente solo e essa busca é muito interessante, porque fui me reconhecendo nas escolhas. A música tem uma irreverência que eu não tinha gravado até então, e uma postura moderna, contemporânea, entre o sintetizador e a quebra para um samba melancólico. Como encontrar o equilíbrio ao explorar um tom crítico sem cair no panfletarismo? A militância exacerbada é necessária, pois tem possibilitado a quebra de muitos ismos negativos em prol de uma sociedade mais igualitária. Mas é necessário ter cuidado. Todo extremo é perigoso e não seria diferente com a arte. Não se pode abrir mão das figuras de linguagem, das metáforas. Como o movimento antropofágico te influencia? A antropofagia é própria do Brasil. Os modernistas e tropicalistas conceituaram o que é uma uma percepção histórica de um país fruto de uma colonização extremamente violenta. Nada que é do Brasil é próprio do Brasil, tudo partiu de um encontro. A gente tem que lidar com os traumas de uma nação que engole tudo que vem de fora, até porque destruímos muito do que existia dos povos originários. O rock, o jazz, o samba, o bolero, tudo vem de fora, mas também é nosso, porque tudo que engolimos vira outra coisa. “O Brasil tem um jeito diferente de engolir as coisas e regurgitar, ou cagar” O que você pode adiantar das “outras estripulias musicais” que você anda preparando em estúdio? Vem um disco por aí e também quero lançar uns singles. Tenho uma homenagem para Elis Regina que já está gravada (em 2022, faz 40 anos que a cantora morreu). Apesar de estarmos em um ano difícil, precisamos mirar no Brasil bonito, com esperança. Fazer um disco em 2022 não vai ser fácil, mas ainda sim eu vou entrar no estúdio pra trazer uma sonoridade mais otimista, ainda que melancólica. FOTOGRAFIA: Divulgação
Transversais subverte censura e estreia nos cinemas

Filme TRANSVERSAIS, censurado pelo governo Bolsonaro, será exibido nos cinemas a partir de 17 de fevereiro e traz depoimentos de quatro pessoas trans, além da mãe de uma adolescente TRANSVERSAIS, o primeiro longa do jornalista e cineasta Émerson Maranhão, subverte a tentativa de censura do governo Jair Bolsonaro e será exibido nos cinemas a partir do dia 17 de fevereiro. Inicialmente, havia sido anunciado que o filme seria “abortado” do edital da Ancine em que era finalista, por “não ter cabimento uma produção com este tema”. Produzido por Allan Deberton (“Pacarrete”), o documentário apresenta os depoimentos de quatro pessoas trans que resgatam suas histórias, seus processos de autodescoberta e de trânsitos e jornadas, além do relato de uma mulher cisgênera, mãe de uma adolescente trans. O longa fez parte da seção Programa Queer.doc do 29º Festival Mix Brasil, e também esteve em outros eventos brasileiros, como a 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, e o Cine Ceará. Os protagonistas da produção são Samilla Marques, uma funcionária pública; Érikah Alcântara, uma professora; Caio José, um enfermeiro; e o acadêmico Kaio Lemos. Elus passaram por um delicado processo de auto aceitação até compreenderem a sua subjetividade. Já a jornalista Mara Beatriz, mulher cisgênero, enfrentou a transfobia de perto e refez sua vida ao tomar conhecimento que era mãe de uma adolescente transgênero. Hoje, é uma das mais ativas militantes do grupo Mães pela Diversidade no Ceará. Desconstrução e diálogo com a sociedade Kaio Lemos, que participa do longa, aponta os retrocessos que a população LGBTQIAP+ vem sofrendo desde 2018, quando o governo fascista de Bolsonaro chegou ao poder. “Nós estamos vivendo uma pandemia de Covid-19, mas também vivemos uma pandemia de discursos de ódio, de violência e de morte. É um cenário de pavor. E a população trans é uma das mais atacadas, numa violência legitimada por esse desgoverno atual”, afirma. Para ele, a importância de TRANSVERSAIS é a potência de desconstrução e de estabelecer um diálogo com a sociedade e, dessa forma, combater essa violência que não é só discursiva, mas também de ações. “Ao mostrar a nossa realidade, o filme se torna uma eficaz ferramenta de combate ao patriarcado, ao machismo e ao falocentrismo tão vigentes”, completa. Érikah Alcântara chama a atenção para a oportunidade de dar visibilidade a pessoas trans dentro de diversos contextos, para além da segregação social imposta, com que comumente são representades. Ela explica: O filme mostra que, diferentemente do que a sociedade costuma apontar, nós podemos ser o que quisermos, vivenciar rotinas familiares, rotinas de afeto, rotinas profissionais. Isso tudo de uma maneira muito natural. Já Samilla Marques Aires define TRANSVERSAIS como “um rompimento de paradigmas”. “É desconstruir padrões da nossa sociedade cisheteronormartiva, mostrando nossos corpos e nossas corpas de pessoas trans. Mais que um filme, TRANSVERSAIS para mim é um ato político no momento que a gente vive no País.” FOTOGRAFIA: Juno Braga e Linga Acacio Reportagem produzida com o apoio da Sinny Assessoria e Comunicação, especializada em cinema e cultura.
Festival Perifericu celebra cultura LGTQIA+ de quebrada em SP

Festival Perifericu acontece do dia 9 a 13 de fevereiro de forma presencial e online com shows, mostra de curtas-metragens, slam e rodas de conversa. Edição: Carolina Fortes Entre os dias 9 e 13 de fevereiro, as favelas da Zona Sul de São Paulo serão palco do Perifericu – Festival Internacional de Cinema e Cultura da Quebrada. Com intervenções itinerantes, como apresentações musicais, mostra de curtas-metragens e slam, o evento tem como objetivo valorizar as diversas manifestações e processos artísticos da população LGBTQIAP+ periférica. Rosa Caldeira, diretor e roteirista na produtora de audiovisual comunitário Maloka Filmes, que organiza o evento, lança o panorama: “Enquanto pessoas periféricas, trans, pretas e LGBs, estamos tentando mudar a estrutura de eventos de artes no Brasil: queremos transformar desde o topo, alterando as pessoas que tomam decisões, quem trabalha no evento, quais são as corporeidades, as artes e os pensamentos valorizados ou não.” Para o cineasta Well Amorim, um dos realizadores do festival, a ideia é dar protagonismo às corpas trans e negres dentro de um universo extremamente branco, hétero, cis e elitista e, por isso, pouco seguro e receptivo. “Criar um festival é também fazer com que existam espaços seguros para celebração da nossa arte, com os nossos, gente preta, TLGB+, maloqueires. Na quebrada, que é o nosso centro”, afirma. Nay Mendl, cineasta e um dos idealizadores do evento, diz que o desafio não é só o de produzir filmes nas maiores adversidades, mas também fomentar espaços para que as obras cheguem nas pessoas de quebrada. “Queremos que elas tenham um espaço para debater e refletir sobre arte e que as outras formas de cultura de quebrada consigam existir nos espaços cinematográficos”, explica. Confira a programação do Festival Perifericu Além de acontecer de forma presencial, o evento também será transmitido online por meio da plataforma Todesplay, que irá veicular os filmes de 9 a 15 de fevereiro. Aqueles que optarem por ir até os locais devem apresentar a carteira de vacinação com as duas doses completas contra a Covid-19 e utilizar máscaras PFF2 ou N95. A programação contará com mesas de debates, sessão de curtas e uma minifesta de Ballroom. O show de encerramento ficará por conta de BadSista e das Irmãs de Pau, que também apresentarão os vencedores. SERVIÇO Festival Perifericu – Festival Internacional de Cinema e Cultura da Quebrada. Data: 9 a 13 de fevereiro Local: Associação Bloco do Beco, Espaço Reggae e Casa de Cultura M’Boi Mirim Confira a programação completa em: https://www.instagram.com/festivalperifericu/ FOTOGRAFIA: Griot Assessoria Reportagem produzida pela Griot, assessoria de comunicação antirracista especializada em contar histórias de artistas, eventos, projetos culturais e criadores de conteúdo para a mídia e na internet.
Travesti Biológica: Mavi Veloso exalta corpes trans em EP de estreia

Brasileira morando na Holanda, Mavi Veloso lança álbum visual Travesti Biológica e aborda as singularidades de viver entre duas culturas diferentes.
Não-monogâmicos, gente como a gente

Jovens não-monogâmicos compartilham como vivem, se relacionam e lidam com ciúmes e inseguranças – e dão dicas para lidar com neuras do amor
É música de sapatão (e muito mais)

Ouça uma playlist feita pela cantora de funk Mc Mano Feu que vai de clássicos da Furacão 2000 a Cássia Eller e Bia Ferreira. Cria de Campinas, Mc Mano Feu deu play no interesse por música aos 12 anos de idade, influenciada pelos hits da Furacão 2000. Para quem não tá ligade, a produtora e gravadora carioca foi uma das principais precursoras do funk pelo Brasil nos anos 90 e lançou os hits Dança da Motinha, de MC Betty; Agora Tô Solteira, da Gaiola das Popuzadas; e Égua Pocotó, de MC Serginho e da icônica Lacraia. De família, Mano Feu herdou o gosto por samba, uma vez que o ritmo era o mais ouvido dentro de casa durante a infância. Já na adolescência, a MC conheceu o rap, que era o som que tocava alto na sua quadrada. O tempo passou e deu no que deu: Mano Feu começou a compor funk de putaria lésbica. Seu último lançamento, Linguadinha na XXT ainda tá fresco e chegou as plataformas digitais no Dia do Orgulho LGBTQIAP+. Hoje, a MC se diz ser uma pessoa bem eclética e que tem se inspirado muito em músicas e letras específicas, independentemente do gênero. “minha vida guia as minhas composições”, diz ela. “Se tenho um dia muito daora, é sobre os sentimentos e quem estava comigo que vou escrever”. APOIE O JORNALISMO INDEPENDENTE. Participe do financiamento coletivo da Emerge. Veja (e ouça) abaixo uma playlist criada por MC Mano Feu, que compartilhou suas principais inspirações, com muito talento nacional, mulheres lésbicas da velha e da nova geração e outros artistas de funk, rap, samba e MPB. LEIA TAMBÉM: Elas fazem o baile delas: mulheres lésbicas no funk