*Reportagem de Bianca Helena, Giovanna Rosa, Yane Queiroz, Carolina Lima e Kauan Marcus, alunos do curso de jornalismo da Universidade São Judas Tadeu, parceira da Emerge Mag.
Foi um ex-namorado que apresentou o skate a Camila Alves, 36. O ano era 2016. Ela, que já era fã de rock, havia tido um banda cover de Metallica, logo se apaixonou pelo esporte. Ao notar o demasiado interesse de Camila pelas pistas, o boy tentou afastá-la da cena skatista. Mas era tarde demais. Segundo a skatista, a autoconfiança conquistada através do esporte foi essencial para enxergar as atitudes abusivas de seu ex-parceiro e dar fim à relação.
Dois anos depois, ela decidiu fundar o Skate Mania, um coletivo de skate feminino originário da Zona Sul de São Paulo, cujo o intuito é de levar mais mulheres para as pistas, criando um cenário mais acolhedor para elas e, uma rede de apoio e emancipação. Camila desejava compartilhar os aprendizados do esporte e mostrar as mulheres que é possível se entregar à mudança, seja ela social ou ideológica.
A fundadora do Skate Mania conta que são muitas as integrantes do coletivo que começaram a acreditar mais em si mesmas e a mudar suas vidas por causa do contato com o skate. O projeto que nasceu a partir de um encontro no Ratpool Skate Rock, em Diadema, sudeste da Grande São Paulo, com 25 mulheres. Hoje conta com mais de 235 skatistas.
O coletivo virou até marca, com com identidade visual própria e uma loja virtual com produtos personalizados como camisetas, equipamentos de proteção, peças e acessórios de skate. O e-commerce conta ainda com um blog, que é usado como um memorial da história do skate feminino e do grupo.
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MUITO ALÉM DA COMPETIÇÃO
As mulheres entraram em cena no skate brasileiro na década de 70. Mas como esporte urbano e radical, o machismo sempre o atrelou a uma prática de lazer para homens. O preconceito sempre tentou afastar e enfraquecer a contribuição delas ao esporte, como mostra o documentário “Into The Mirror: Fragmentos”, de Pipa Souza.
Desde a inclusão do esporte nos Jogos Olímpicos, somada ao sucesso do skate feminino durante a edição Tóquio 2020/2021, com a pequena Rayssa Leal, o esporte se popularizou entre elas e ganhou a legitimidade da sociedade. O último levantamento da Confederação Brasileira de Skate (CBSK) apontou que o número de mulheres skatistas no Brasil passou de 3,9 milhões para 8,4 milhões de praticantes no período de 2015 a 2019.
O feito das mulheres no skate de alta performance é louvável, mas o lance do Skate Mania Brasil é outro. Aqui, conta mais o espírito esportivo, isto é a cumplicidade e a confraternização que as pistas promovem. Mais do que um coletivo esportivo, o Skate Mania é visto pelas participantes como uma espécie de rede de apoio, com eventos em diferentes pisas da cidade.
O último deles aconteceu em novembro de 2022, no Parque São Jorge, sede social do Sport Club Corinthians Paulista. O “Skate Mania Delas – Invasão das Minas na Pista do Corinthians” teve como objetivo apoiar a prática do esporte para mulheres, com oficinas para iniciantes. Além disso, meninas puderam expor e vender seus trabalhos artísticos e artesanais na feira.
“O skate tem um forte conexão com as artes”, diz Camila, mostrando as ilustrações no seu shape, como é chamado a prancha de madeira do skate.
Ela explica que o skate sempre foi envolvido com a música, como nos anos 80 com o movimento punk. Hoje, o coletivo tem uma artista para chamar de sua: a integrante Nathália Lobato, cantora e compositora do projeto Pollar!s. A artista já encerrou evento dos Skate Mania com shows autorais.
E por essas e outras que o coletivo trata a prática do skate como uma forma de arte, cultura, conexão, criação de novas amizades e empoderamento feminino. E que elas continuem voando alta nas pistas e na vida.
Foto de abertura: Yane Queiroz | Edição de texto: Karol Pinheiro