Em 2020, a Emerge Mag conduziu um inédito mapeamento de coletivos culturais e produtores artísticos da região Metropolitana. Veja os principais resultados
Ao longo de 2020, a Emerge Mag desenvolveu um mapeamento de coletivos culturais da Região Metropolitana de São Paulo. Inicialmente, a ideia era saber quais são e como atuam as organizações autônomas que desenvolvem iniciativas baseadas em expressões simbólicas e culturais visando fomentar ou recriar identidades locais, ao mesmo tempo que inovam em comportamento urbano e, por meio da representatividade, se tornam referências para suas próprias comunidades.
Também foi definido que o público-alvo do mapeamento seria o mesmo que a Emerge sempre focou ao longo de sua trajetória de três anos de existência: coletivos culturais urbanos e plurais, abrangendo suas diversas especificidades sociais, identitárias e artísticas. O foco foi organizações feitas por e para mulheres, LGBTQIA+, negros, territórios periféricos, povos originários e outras vivências dissidentes da norma cis hétero normativa patriarcal.
O projeto foi dividido em três frentes. Primeiro, foi realizada uma pesquisa quantitativa com distribuição online para identificar os principais coletivos culturais e levantar dados demográficos dos fundadores e integrantes, como faixa etária, localidade, renda, formação acadêmica e público. A pesquisa também focou em saber quais eram as formas de atuação, geração de receita e demandas das organizações. Nesta fase, houve a participação de mais de 80 coletivos.
Entre os principais resultados da pesquisa quantitativa, foi identificado, por exemplo, que 60% dus fundadores são chefes de família, porém apenas 15,3% vivem exclusivamente da renda gerada pelo coletivo. Entre os integrantes, há a prevalência de mulheres (91,8%), negros (75,3%), LGBTQIA+ (75,3%) e mães (43,5%). A zona leste de São Paulo é a região com maior incidência de organizações culturais e artísticas da cidade. Veja mais dados nos quadros distribuídos ao longo desta reportagem.
A segunda fase do projeto consistiu numa pesquisa qualitativa com cerca de 25 coletivos culturais, que foram selecionados entre os respondentes da primeira fase. Com questões dissertativas, a pesquisa revelou as motivações, os desafios iniciais, as conquistas e os impactos das organizações em suas comunidades. Como era de se imaginar, a pandemia de Covid-19 teve grande impacto nas organizações, sendo que 88,2% dos coletivos tiveram atividades canceladas; 78,8% passaram por mudanças em seus processos de trabalho, em que 65,9% utilizaram mais ferramentas virtuais. A crise de saúde e social causada pela pandemia também trouxe instabilidade psicológica para 57,6% dos coletivos.
Por fim, a terceira fase do projeto consistiu numa série de 20 reportagens, cada uma referente a um coletivo, onde a equipe de jornalistas da Emerge se debruçou sobre as organizações para contar suas histórias de lutas e glórias. Com textos, fotografias e vídeos exclusivos, a série atingiu mais de 10 mil leitores no site e Instagram da Emerge Mag. Vale destacar que todo material produzido foi cedido, gratuitamente, para as organizações usarem com fins institucionais, publicitários e comerciais. As reportagens também se tornaram um acervo histórico da diversidade cultural da região metropolitana de São Paulo. Veja a lista de todas as reportagens:
– O Groovin Mood dissemina a cultura sound system Brasil adentro
– Não há fronteiras para o teatro da Arquivo 2
– Os encontros preciosos do Abayomi Ateliê
– O podcast Almerindas é um aquilombamento na literatura
– O grafite do Grupo OPNI ressignifica a paisagem periférica
– Coletivo Cabeças na contracultura da beleza
– Uma feira de artesanato delas para elas
– As múltiplas mulheres do coworking Brava
– Ateliê Fomenta e a moda como resgate histórico
– Os encontros e o território do Periferia Preta
– Sabe para que serve um vereador? O 3 Palitos ensina
– Yoga Para Todes mostra a potência dos corpos plurais
– África Plus Size: pretas e gordas estão na moda
– Coletivo Coletores: luz no concreto e aço
– Música, mobilidade e anarquia com o Bike System
– Pretos bem na foto com o Afrotometria
– Coragem para ocupar e resistir
– Butô: a dança das profundezas da alma
– O poder de atração do Simplão de Tudo
– A Cápsula Inovação ensina você a viver da sua arte
FORMAÇÃO DE JORNALISTAS
Internamento, o projeto de mapeamento de coletivos culturais também contemplou um curso de formação em produção jornalística em meio digitais para oito jovens, sendo sete de origem periférica; cinco LGBTQIA+; três negros e um com vivência neuroatípica. Foram mais de 20 semanas de curso, com edições online semanais que contaram com compartilhamentos de saberes de convidados de renome, como Neon Cunha, transativista, articuladora da Marcha das Mulheres Negras e pesquisadora em decolonialidade; Giulliana Bianconi, cofundadora e diretora da Gênero e Número, a primeira organização de mídia da América Latina a produzir jornalismo de dados com recorte de gênero e de raça; Ale Ruaro; fotógrafo especializado em retratos e autor do livro “São Paulo S.M.”(título mais vendido da SP Foto Arte2019); Van Joda, militante gorda e fundadora e professora da escola Yoga Para Todos Brasil; facilitadores da É Nóis, agência e escola de comunicação com foco em territórios periféricos, entre outros.
Os participantes do curso de formação formaram uma equipe de alto nível profissional, que foi responsável por todas as etapas do projeto de mapeamento. Posteriormente, os mesmos jovens consolidaram a equipe fixa de colaboradores da Emerge Mag; são eles: Italo Rufino (diretor de conteúdo e editor); Kalinca Maki (diretora criativa, designer e fotógrafa); Rafael Felix (fotógrafo e videomaker); Nu Abe (fotográfe e videomaker); e Talitha de Jesus, Carol Fortes, Karol Pinheiro e Cíntia Aureliano (repórteres).
APOIO
O projeto mapeamento de coletivos artísticos da Região Metropolitana de São Paulo da Emerge Mag contou com apoio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, por meio do Programa de Ação Cultural (ProAC), edital 14/2019 Incentivo ao Desenvolvimento da Cultura Popular, Tradicional, Urbana, Negra, Indígena e Plural.
Vale destacar que o projeto de mapeamento foi o primeiro trabalho realizado pela Emerge Mag que contou com apoio financeiro. Fundada em dezembro de 2017, a Emerge Mag era, até então, um coletivo independente em que os integrantes trabalhavam de forma autônoma e voluntária e que optou por não receber patrocínios ou investimentos oriundos de empresas privadas. No entanto, para a sustentabilidade da Emerge Mag, desde 2020 o coletivo tem buscado investimentos e métodos de geração de receita com parceiros idôneos e que tenham responsabilidades em financiar projetos de impacto social positivo.
GRÁFICOS: Karol Pinheiro
IMAGEM DE ABERTURA: Kalinca Maki
Esta reportagem integra o projeto Mapeamento de Coletivos e Produtores Culturais da Região Metropolitana de São Paulo e conta com apoio do Edital ProAC nº 14/2019, de incentivo ao desenvolvimento da cultura popular, tradicional, urbana, negra, indígena e plural no Estado de São Paulo.